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Texto originalmente publicado na edição 60 da Revista Palmeiras. Para acessar o conteúdo completo e outras reportagens da publicação oficial do Maior Campeão do Brasil, seja sócio Avanti e baixe agora mesmo o App Revista Palmeiras na Play Store ou na Apple Store.

Enquanto o técnico André Jardine divulgava a lista de convocados para a Olimpíada de Tóquio, no dia 2 de julho, Gabriel Menino estava no refeitório da Academia de Futebol. Almoçava em silêncio, sem tirar os olhos do celular. Apesar da convicção de que seria um dos atletas chamados para representar o Brasil nos Jogos do Japão, o jovem, que comemora 21 anos nesta quarta-feira (29 de setembro), não conseguia controlar a ansiedade.

Quando viu Jardine falar o seu nome, Menino se levantou da mesa sem demonstrar qualquer reação e foi para o seu quarto no centro de excelência. Ali, ao conversar por telefone com a mãe, chorou.

“Eu me lembrei do quanto torci pela Seleção nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. Vendo a final em casa, pela TV, ficava pensando em como seria se estivesse em campo”, diz o camisa 25 do Verdão, citando a decisão da medalha de ouro vencida pelo Brasil contra a Alemanha. “Sou um cara muito determinado. Naquele dia, coloquei na cabeça que realizaria o sonho de disputar uma Olimpíada.”

Menino conseguiu mais do que isso. O polivalente jogador ajudou o país a conquistar, em 7 de agosto, o bicampeonato olímpico no futebol masculino. Tornou-se assim o terceiro atleta da história do Palmeiras a subir no degrau mais alto do pódio no principal evento esportivo do mundo, repetindo a façanha alcançada por Jorge Edson, medalhista de ouro no torneio de vôlei masculino em Barcelona-1992, e Gabriel Jesus, campeão na Rio-2016.

O jogador foi captado após se destacar no Guarani (Foto: Arquivo Pessoal)

Experiência única

Assim como o xará do Manchester City-ING, Gabriel Menino foi formado na Base alviverde, que o captou em 2017 após observá-lo no Guarani. Promovido ao Profissional em 2020, ele foi um dos protagonistas da conquista da Tríplice Coroa, como ficou conhecida a memorável campanha palmeirense que culminou com os títulos do Paulista, da Copa do Brasil e da Conmebol Libertadores.

O atleta foi homenageado em Morungaba, sua cidade natal (Foto: Acervo Pessoal)

Atuando em diferentes posições (lateral, volante, meia e ponta), o paulista de Morungaba participou de 12 dos 13 jogos do Alviverde na competição continental, incluindo a final contra o Santos, e ainda fez o gol que garantiu a taça da Copa do Brasil, diante do Grêmio.

A capacidade de exercer diferentes funções chamou a atenção do técnico Tite, que o levou duas vezes para a Seleção principal em 2020. Já em maio deste ano, Jardine o convocou para fazer parte do time sub-23 que se preparava para representar o Brasil em Tóquio. Escalado como lateral-direito, o jovem agradou nos amistosos contra Cabo Verde e Sérvia e assegurou lugar entre os 22 convocados.

Antes da viagem ao Japão, o time olímpico treino na Academia de Futebol (Foto: Cesar Greco/Palmeiras)

Antes de embarcar para o Japão, Menino ouviu conselhos dos companheiros palestrinos Weverton e Luan, campeões olímpicos em 2016 – o goleiro, que defendia à época o Athletico-PR, foi um dos heróis da até então inédita medalha de ouro ao segurar uma das cobranças na decisão por pênaltis diante dos alemães, no Maracanã.

“Eles me disseram para aproveitar a experiência ao máximo, porque é uma competição que você geralmente disputa só uma vez na vida”, ressalta, em alusão ao limite de idade determinado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) para a modalidade – apenas três jogadores acima de 23 anos podem integrar a relação de inscritos.

A delegação só podia sair do hotel para treinar e jogar (Foto: CBF/Divulgação)

De cabelo em pé

A pandemia da Covid-19, que impediu a presença de público em todos os eventos do programa olímpico, dificultou também a rotina dos atletas na Terra do Sol Nascente. Além de passar por testes diários, a delegação teve de ficar confinada em um dos andares do hotel onde se hospedou. Dali, a equipe só saía para treinar e jogar.

A fim de driblar o tédio, os jogadores da Seleção pegaram uma mesa de jantar e a colocaram no corredor de acesso aos quartos, onde improvisaram jogos de futmesa. Outro passatempo era acompanhar o desempenho dos demais atletas brasileiros – o que nem sempre era possível, pois as emissoras japonesas priorizavam modalidades nas quais os competidores da casa tinham maior chance de pódio.

“A gente fazia o que podia para ver pelo celular. Foi a maior festa quando a Rayssa (Leal) ganhou a prata no skate”, diz Menino, referindo-se à maranhense que, aos 13 anos e 203 dias, tornou-se a mais jovem medalhista olímpica da história do esporte nacional.

Apesar das medidas restritivas, os jogadores da Seleção viveram momentos divertidos no Oriente. Um deles envolveu um cabelereiro local que o estafe do hotel arranjou para cuidar do visual do grupo.

“A gente já ficou desconfiado quando viu que o cara não tinha Instagram. Quando ele perguntou quem seria o primeiro, o Matheus Cunha (atacante do Atlético de Madrid) se ofereceu. Rapaz… O cabelereiro cravou um risco horrível no meio da cabeça dele. Caímos na risada”, relata o palmeirense, que, ao se ver diante da tesoura do nipônico, optou pela cautela. “Pedi só uma aparadinha”, brinca.

O polivalente atleta atuou em três jogos na Olimpíada (Foto: CBF/Divulgação)

Brilho nos olhos

Gabriel Menino participou de três jogos da caminhada do Brasil rumo ao ouro, contra Arábia Saudita (3 a 1, pela fase de grupos), Egito (1 a 0, pelas quartas de final) e Espanha (2 a 1 na decisão). No confronto que definiu o campeão olímpico, o camisa 2 da Seleção entrou no segundo tempo da prorrogação, logo após o atacante Malcom (do Zenit-RUS) marcar o gol do bicampeonato.

“Eu e o Malcom nos aquecemos juntos. Pouco antes de o professor Jardine colocá-lo, comentei que ele ia jogar e faria o gol do título”, afirma. “Passei a partida toda torcendo para entrar, ainda que fosse por alguns minutos. Quando fui chamado, atravessei o campo feito louco, parecia o (Usain) Bolt”, compara, entre risos, citando o velocista jamaicano tricampeão olímpico dos 100m e 200m rasos.

Durante a cerimônia de premiação, Menino ficou impressionado com a beleza da medalha que recebeu em uma bandeja carregada pelo presidente da Fifa, o italiano Gianni Infantino. A peça, feita com prata pura banhada em ouro, pesa mais de meio quilo.

O meio-campista se encantou com a beleza da medalha (Foto: Acervo Pessoal)

“Nunca vi algo brilhar tanto”, diz, exibindo um sorriso de orelha a orelha. “Foi uma emoção única, um sentimento até difícil de explicar. Cinco anos atrás, eu estava em casa, vendo pela TV a Seleção ganhar a Olimpíada… Agradeço a Deus, à minha família e ao Palmeiras, por terem me ajudado a realizar um sonho. Aliás, se o que eu vivi foi um sonho, não quero acordar nunca mais.”

Pódio verde

Confira todos os medalhistas olímpicos do Palmeiras:

Basquete
Rosa Branca: bronze (Roma-1960)
Mosquito: bronze (Roma-1960)
Edson Bispo: bronze (Roma-1960 e Tóquio-1964)
Jatyr: bronze (Roma-1960 e Tóquio-1964)
Victor Mirshawka: bronze (Tóquio-1964)

Vôlei
Jorge Edson: ouro (Barcelona-1992)

Judô
Henrique Guimarães: bronze (Atlanta-1996)

A medalha olímpica vai ficar guardada na casa dos pais, em Itatiba-SP (Foto: CBF/Divulgação)

Futebol
Flávio Conceição: bronze (Atlanta-1996)
Amaral: bronze (Atlanta-1996)
Rivaldo: bronze (Atlanta-1996)
Luizão: bronze (Atlanta-1996)
Gabriel Jesus: ouro (Rio de Janeiro-2016)
Gabriel Menino: ouro (Tóquio-2020)

Coleção de respeito

Gabriel Menino já sabe onde vai guardar a medalha conquistada nos Jogos de Tóquio. O ouro olímpico ficará sob os cuidados dos pais do jogador, que moram em Itatiba (SP), distante 75 km de São Paulo. A família já reservou um cômodo para reunir todos os prêmios do atleta, que coleciona títulos desde as categorias de base do Verdão.

O memorial particular terá também um espaço especial dedicado à coleção de camisas do Palmeiras que o meio-campista começou a cultivar em 2020, quando foi promovido ao elenco profissional.

“Nunca escondi de ninguém que sou palmeirense desde criança. Jogo com os meus ídolos, então sempre peço os uniformes usados por eles. Estão todos guardados na casa dos meus pais”, conta.