Hoyama e Gui Lin levam relação de ‘pai e filha’ ao Rio em busca de medalha histórica

Daniel Romeu
Departamento de Comunicação

Fabio Menotti/Ag Palmeiras/Divulgação _ Gui Lin veio para o Brasil com 11 anos, em 2005“Na mesa ele é o meu técnico, tenho muito respeito. Fora ele é um amigo, quase um pai”. Assim a mesatenista Gui Lin, uma das representantes do Palmeiras nos Jogos Olímpicos do Rio 2016, define a relação de dez anos com o seu principal tutor, Hugo Hoyama. Treinador da Seleção Feminina de Tênis de Mesa, o palestrino tem a missão de comandar a pupila e o restante das atletas brasileiras em busca de uma medalha histórica para o país na modalidade – as disputas individuais começam neste sábado (6), às 9h, com as rodadas preliminares.

Fã de música sertaneja e da gastronomia paulistana, Gui Lin conheceu Hugo em 2006, um ano depois de chegar ao Brasil. Chinesa naturalizada brasileira (ou melhor, brasileira nascida na China), ela teve o primeiro contato com o tênis de mesa no país asiático, mas aprendeu a competir profissionalmente no Brasil. A paixão de Hugo pelo Verdão contagiou Gui Lin, que, além de competir pelo Palmeiras/São Bernardo, começou a torcer pelo clube no futebol.

“Comecei a praticar tênis de mesa com sete anos, mas era brincadeira, nada sério. Vim para o Brasil com 11 anos. Tenho mais tempo de vida no Brasil do que na China, aprendi mais aqui. O Hugo sempre aparecia com a camisa do Palmeiras nos treinos, tive curiosidade. Não assistia futebol, mas em 2008 passei a morar com uma família brasileira, palmeirenses. O Palmeiras ganhou o Paulistão, acompanhei todos os jogos e virei palmeirense”, explicou Gui Lin.

“Joguei na Europa nesta última temporada, ficou mais difícil acompanhar, mas ficava sabendo pelo Hugo. Quando ele está no estádio, parece uma criança a felicidade dele. Fica postando fotos. Quando o Palmeiras ganhou a Copa do Brasil, estávamos nos Jogos Abertos. No dia seguinte da final teríamos um jogo importante, não poderíamos ficar até tarde assistindo. Vimos escondidos e foi muito bom, fiquei tão feliz que ganhamos mesmo dormindo pouco. Quando viajamos vestindo o uniforme, muita gente tem curiosidade, pergunta. É uma honra defender o clube e é bom para nós, pois divulga ainda mais o tênis de mesa”.

Já o amor de Hugo Hoyama pelo Palmeiras vem de berço – tanto que, além de treinador da Seleção Feminina, ele acumula a função de atleta do clube em torneios nacionais. O mesatenista defendeu a Seleção Brasileira por 26 anos e foi convidado a assumir o time feminino após os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. Ao longo de seu primeiro ciclo olímpico na função, o Brasil foi bicampeão latino-americano, campeão sul-americano e campeão mundial da 2ª divisão no Japão, o que levou o país à elite pela primeira vez. 

“Desde que comecei a entender de futebol, sempre fui palmeirense. Quando posso vou aos jogos, gosto muito. Já ia ao Palestra Italia e agora está ainda melhor no Allianz Parque. Gosto de ficar no meio da torcida, ir ao estádio e torcer pelo Verdão. Jogar pelo Palmeiras para mim é unir o útil ao agradável. Dá uma motivação maior”, afirmou Hugo Hoyama.

A intimidade entre Hugo e Lin fica evidente nas brincadeiras: além de treinador e atleta, a relação é quase de pai e filha. “A gente brinca, se xinga. Na final do Pré-Olímpico, quando eu me classifiquei para as Olimpíadas, ele me xingou. Todos os atletas que ganharam saíram abraçados com seus técnicos. Ele me xingou (risos)”, lembra ela – Hugo se defende e ressalta que seu trabalho como comandante é o de buscar sempre o melhor de suas jogadoras.

Fabio Menotti/Ag Palmeiras/Divulgação _ Hugo Hoyama é treinador da Seleção Feminina desde 2012“É aquela coisa de técnico. Ela começou a cometer erros na partida, que sempre comete quando começa a perder. No fim, ganhou. Quando ela veio me abraçar, foi aquele nervoso que passei. Ela sabe que faço isso pelo bem dela, para conseguirmos as vitórias. Busco exemplos como o Bernardinho, José Roberto Guimarães. Ouvir histórias deles e tirar alguma coisa. Pelos bons resultados que tivemos, isso ajudou. É complicado às vezes ser técnico, mas tem o lado positivo. Estou lá para ajudá-las a conquistar seus objetivos, para crescermos juntos”, disse.

Experiência olímpica e torcida a favor em busca de medalha inédita

Os Jogos do Rio de Janeiro serão a segunda experiência de Gui Lin em Olimpíadas: em Londres, aos 18 anos de idade, ela fez parte da delegação brasileira. Quatro anos depois, a palmeirense espera que a experiência seja um trunfo para buscar uma medalha histórica para o Brasil – o país nunca foi medalhista no tênis de mesa em Jogos Olímpicos. Gui Lin acredita que a torcida a favor no Riocentro possa empurrar os atletas brasileiros a terem um melhor desempenho.

“Em 2012 foi excelente, toda a experiência. O que aprendi serve de lição para melhorar agora, no Rio. Quatro anos atrás eu era uma criança ainda, tudo era novidade para mim. Hoje estou mais focada. Tenho consciência de que estou participando de uma Olimpíada, não um evento. Espero jogar melhor”, afirmou Gui Lin.

“É positivo ter os torcedores apoiando. Claro que é uma pressão maior, mas depende de como o atleta vai lidar com isso. O torcedor brasileiro é o melhor do mundo, apoia ganhando ou perdendo. Gosto muito do Brasil, quero fazer o meu melhor jogo e trazer o melhor resultado”, completou a mesatenista.

Experiência é o que não falta para Hugo Hoyama. Participou de seis Jogos Olímpicos (1992, em Barcelona; 1996, em Atlanta; 2000, em Sidney; 2004, em Atenas; 2008, em Pequim; e 2012, em Londres), sete Jogos Pan-Americanos (nos quais obteve 15 medalhas), além de 18 mundiais. “É o sonho do atleta, independente se vai ganhar medalha ou não. Quando o tênis de mesa se tornou esporte olímpico, virou meu objetivo. A felicidade de participar de seis foi muito grande. Queria seguir participando enquanto tivesse condições”, relembra.

“A Vila Olímpica, o local de competição, ver atletas do mundo inteiro, os melhores de cada país… É tudo muito legal, só vão os melhores. Um dia estou almoçando e vejo o Roger Federer, ao meu lado está o Yao Ming. Sempre fui fã de basquete. Em Pequim, o Kobe Bryant estava na frente do nosso alojamento e consegui uma foto com ele. É só nessas horas que temos essas oportunidades”, completou Hugo Hoyama.

O treinador sabe que levar medalhas nos Jogos do Rio em 2016 é um objetivo complicado, já que países como China, Coreia do Sul e Cingapura são amplamente favoritos. A competição é organizada por chaves, e todas as partidas são eliminatórias. As partidas são divididas em sete games de 11 pontos cada (no caso de empate de 10 pontos, vence quem abrir dois de vantagem). Por equipes, os jogos são divididos em cinco games.

“Se elas renderem bem, podem conseguir uma vitória sobre uma jogadora Top 20, por equipes e individual, o que já seria um grande resultado. Chegamos a uma final Pan-Americana em 2015, que o Brasil nunca tinha chegado. Agora é adquirir a maior experiência possível para pensar nas próximas Olimpíadas, porque elas são novas, terão mais um ciclo”, finalizou.