Fernão Ketelhuth
Departamento de Comunicação

O Palmeiras comemora neste sábado (25) o aniversário de 20 anos da conquista do 10º de seus 14 títulos de abrangência nacional. Em 25 de julho de 2000, o Maior Campeão do Brasil faturou a primeira edição da Copa dos Campeões ao vencer a final contra o Sport por 2 a 1, no Estádio Rei Pelé, em Maceió (AL), com gols de Asprilla e Alberto.

A seguir, histórias e curiosidades sobre a caminhada palmeirense rumo ao último troféu do Século XX e também último da Era Parmalat, como ficou conhecido um dos períodos mais vitoriosos do clube em todos os tempos.

Em pé: Adriano, Thiago Matias, Neném, Sérgio, Paulo Turra, Jorginho, Lopes, Agnaldo e Gilvan. Agachados: Basílio, Alberto, Anderson, Asprilla, Juninho, Fernando, Taddei, Titi e Juliano.

Vaga na Libertadores

Criada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para determinar um dos quatro representantes do país na Libertadores, a Copa dos Campeões teve três edições, de 2000 a 2002. A primeira delas, realizada de 12 a 25 de julho nas cidades de João Pessoa (PB) e Maceió (AL), contou com a participação de nove clubes:

Palmeiras: campeão do Torneio Rio-São Paulo
América-MG: campeão da Copa Sul-Minas
Cruzeiro: vice-campeão da Copa Sul-Minas
Goiás: campeão da Copa Centro-Oeste
Sport: campeão da Copa Nordeste
Vitória: vice-campeão da Copa Nordeste
São Raimundo-AM: campeão da Copa Norte
São Paulo: campeão do Campeonato Paulista
Flamengo: campeão do Estadual do Rio

Antes da definição do chaveamento, Goiás, São Raimundo-AM e Vitória disputaram, de 22 a 30 de junho, um triangular em que os dois primeiros colocados se classificavam à fase de mata-mata – Goiás e Vitória ficaram com as vagas.

Time reformulado

Apesar do ótimo primeiro semestre, quando, além do título do Rio-São Paulo, alcançou a final da Libertadores, o Palmeiras entrou na Copa dos Campeões como azarão. O elenco palestrino acabara de passar por uma profunda reformulação, desencadeada pelo iminente fim da parceria com a Parmalat – a multinacional italiana administrou o futebol do clube em regime de co-gestão de 1992 a 2000.

Pena marcou no primeiro jogo da campanha vitoriosa na Copa dos Campeões

Entre a derrota por pênaltis na decisão da Libertadores contra o Boca Juniors-ARG, em 21 de junho, e a estreia na Copa dos Campeões, no dia 12 de julho, o Verdão perdeu o técnico Luiz Felipe Scolari, contratado pelo Cruzeiro, e sete titulares: o zagueiro Roque Júnior foi negociado com o Milan-ITA; o lateral-esquerdo Júnior e o meia Alex seguiram para o Parma-ITA; o capitão César Sampaio acertou com o La Coruña-ESP; o volante Rogério se transferiu para o rival Corinthians; o atacante Euller assinou com o Vasco; e o centroavante Marcelo Ramos retornou ao Cruzeiro após um período de empréstimo.

Como se não bastasse, dos quatro titulares remanescentes, dois não puderam participar do torneio: o goleiro Marcos, convocado para a Seleção Brasileira, e o zagueiro Argel, machucado. Da espinha dorsal da equipe vice-campeã da América, restaram o volante Galeano, que ficou sem contrato durante o campeonato, e o atacante Pena, que deixaria o Alviverde naquela temporada para jogar no Porto-POR.

“Ninguém acreditava que pudéssemos ser novamente campeões depois de todas as mudanças que aconteceram no elenco e na comissão técnica”, relembra Pena.

Conquista importante

Para compensar as baixas, o Palmeiras apostou em atletas até então pouco conhecidos, como o zagueiro Paulo Turra e o volante Titi, campeões gaúchos pelo Caxias-RS naquele ano, o meia Lopes, contratado junto ao Volta Redonda-RJ, e o atacante Juninho, destaque do União São João no Campeonato Paulista. Somaram-se aos recém-chegados, três jogadores formados na base do Verdão: o zagueiro Thiago Matias, o lateral-esquerdo Jorginho Paulista e o meio-campista Rodrigo Taddei.

Paulo Turra voltou ao Verdão como auxiliar técnico de Luiz Felipe Scolari em 2018 (Cesar Greco/Palmeiras)

Após a saída de Scolari, o clube fez um acordo com o auxiliar Flávio Teixeira, o Murtosa, para que ele comandasse o time de forma interina até o fim da Copa dos Campeões – depois do torneio, Murtosa retomou a parceria com Felipão.

“Os grandes favoritos ao título eram São Paulo e Flamengo, mas nós tínhamos uma boa equipe”, recorda-se Paulo Turra. “Havia uma mescla entre atletas jovens e outros experientes, como Agnaldo, Asprilla, Fernando, Pena e Sérgio. Fomos comendo pelas beiradas e, com muita justiça, conquistamos um título que, no meu entendimento, equivale a uma Copa do Brasil”, compara o ex-zagueiro, que voltou a trabalhar no Alviverde de 2018 a 2019 como um dos assistentes técnicos de Scolari.

Em seu primeiro confronto, válido pelas quartas de final, o Palmeiras enfrentou o Cruzeiro, que havia faturado a Copa do Brasil um mês antes. No jogo de ida, no Estádio Almeidão, em João Pessoa (PB), vitória palestrina por 3 a 1, com dois gols de Pena e um de Asprilla. Na partida de volta, no Estádio Rei Pelé, em Maceió (AL), o empate por 1 a 1 classificou os paulistas para a semifinal – Neném balançou a rede, de pênalti.

Alô, Felipão!

O embate com o Flamengo ficou marcado pelo poder de superação do renovado elenco palmeirense. No primeiro duelo, disputado na capital paraibana, o Verdão perdeu por 2 a 1. Taddei marcou para o Alviverde, que, para forçar a disputa por pênaltis, precisaria vencer o segundo jogo por um gol de diferença.

Sem contar com Paulo Turra, suspenso, Murtosa recorreu ao prata-da-casa Thiago Matias, de 17 anos. Horas antes da partida, realizada em Maceió, o jovem zagueiro se surpreendeu ao receber um telefonema de Felipão. O técnico, que comandara o Palmeiras de 1997 a 2000, fez questão de desejar boa sorte ao ex-pupilo.

“A gente estava no hotel, concentrado, quando o Murtosa me chamou no quarto dele e me passou o telefone. Era o professor Luiz Felipe na linha. Ele falou assim: ‘Guri, você merece jogar contra o Flamengo, não está onde está por acaso. Vai lá e arrebenta!’. Ouvir aquelas palavras foi algo que me deu muita força, tanto que acabei sendo um dos melhores em campo”, rememora o defensor.

São Sérgio

Incumbido de substituir o ídolo Marcos, que vivia o seu auge no clube, Sérgio foi o herói do jogo de volta da semifinal. No tempo regulamentar, o experiente goleiro fez três defesas difíceis, ajudando o time a segurar a sofrida vitória por 1 a 0, gol de Taddei. O Palmeiras atuou com um jogador a menos durante parte do segundo tempo, devido à injusta expulsão de Pena – o atacante levou uma cotovelada do zagueiro Luiz Alberto, que simulou ter recebido um tapa no rosto, enganando a arbitragem.

“A gente ganhou aquele jogo na parte emocional”, conta Sérgio. “Estávamos almoçando no hotel quando vimos na TV uma reportagem com os atletas do Flamengo rindo e já projetando como seria a final. Aquilo mexeu demais com a gente.”

Nas penalidades, o Verdão acertou suas cinco cobranças, com Neném, Asprilla, Taddei, Agnaldo e Fernando. Sérgio saltou no canto direito para defender o quinto pênalti flamenguista, batido por Reinaldo, e classificou a equipe para a final.

Goleiro Sergio defende o pênalti de Reinaldo e leva o Palmeiras para a final (Julio Cesar Guimarães/L! Sportpress)

“Para mim, jogar contra o Flamengo tinha um significado diferente, pela forma como me trataram quando joguei lá, em 1995 e 1996. Então, sempre que eu o enfrentava, dava a minha vida em campo, queria vencer ainda mais”, afirma o ex-goleiro.

Brilho colombiano

O Alviverde decidiu o título diante do Sport, que havia eliminado América-MG e São Paulo nas quartas e na semifinal, respectivamente. Na decisão, disputada em jogo único no Estádio Rei Pelé, brilhou a estrela de Faustino Asprilla. O colombiano anotou, de cabeça, o primeiro gol do triunfo palmeirense por 2 a 1.

O atacante colombiano Asprilla disputou 53 partidas e fez 12 gols em sua passagem pelo Palmeiras (Milton Michida)

O troféu teve sabor especial para Tino, como o atacante é chamado em seu país. Ele ainda não havia digerido o vice-campeonato da Libertadores – no jogo de volta da final contra o Boca Juniors-ARG, no Estádio do Morumbi, Asprilla sofreu um pênalti claro não marcado pelo árbitro e desperdiçou a sua cobrança na disputa por penalidades.

“Aquela derrota foi uma das piores coisas que aconteceram comigo no futebol. Queria muito ter vencido a Libertadores, mas errei um pênalti e não consegui alcançar esse objetivo. Então, eu me concentrei ao máximo para ganhar a Copa dos Campeões, que era um torneio muito importante, inclusive não sei por que acabaram com ele”, diz o colombiano. “A final contra o Sport foi bonita, com o estádio cheio de palmeirenses. É uma das recordações mais lindas que tenho da minha passagem pelo Brasil.”

Um dos grandes atacantes do futebol mundial na década de 1990 (foi o sexto colocado na eleição dos melhores jogadores do mundo promovida pela Fifa em 1993), Asprilla chegara ao Palestra Italia logo após a conquista da Libertadores de 1999, em uma negociação envolvendo o Parma-ITA, também parceiro da Parmalat. Em sua passagem de uma temporada pelo Maior Campeão do Brasil, disputou 53 partidas e fez 12 gols.

Gol único

O Verdão ampliou o placar após o intervalo, com um chute de pé direito do canhoto Alberto, contratado havia menos de um mês. O atacante chamara a atenção do Palmeiras durante o estadual daquele ano, atuando pelo Rio Branco – o time de Americana bateu o Alviverde por 5 a 2, com uma bela atuação do centroavante.

O único gol marcado por Alberto com a camisa do Palmeiras foi decisivo (Reprodução)

“Depois daquele jogo, o Felipão, que já me conhecia dos tempos de Internacional, indicou o meu nome para a diretoria”, lembra Alberto, que substituiu Pena na decisão da Copa dos Campeões. “Tentei agarrar as oportunidades da melhor forma possível. Infelizmente, houve a mudança na comissão técnica e eu não estava nos planos do novo treinador (Marco Aurélio). Mas fiquei honrado por participar de uma conquista em um grande clube como o Palmeiras”, acrescenta o ex-atleta, que, em sete meses no Parque Antarctica, disputou 19 duelos e anotou um gol – justamente o gol do título.

Fim de uma era

A Copa dos Campeões foi a última das dez conquistas obtidas pelo Palmeiras durante a Era Parmalat. De 1992 a 2000, o clube faturou ainda uma Libertadores (1999), uma Mercosul (1998), dois Brasileiros (1993 e 1994), uma Copa do Brasil (1998), um Torneio Rio-São Paulo (1993) e três Paulistas (1993, 1994 e 1996). Como se não bastasse, o clube alcançou outras oito finais: Copa Intercontinental (1999), Libertadores (2000), Mercosul (1999 e 2000), Brasileiro (1997) e Paulista (1992, 1995 e 1999).

O meia Rodrigo Taddei, o goleiro Gilvan e o lateral Jorginho Paulista deram a volta olímpica no gramado do Estádio Rei Pelé

A campanha do Verdão na Copa dos Campeões:

Quartas de final

12/07/2000 – Palmeiras 3 x 1 Cruzeiro, no Estádio Almeidão, em João Pessoa (PB)
15/07/2000 – Cruzeiro 1 x 1 Palmeiras, no Estádio Rei Pelé, em Maceió (AL)

Semifinal

19/07/2000 – Flamengo 2 x 1 Palmeiras, no Estádio Almeidão, em João Pessoa (PB)
22/07/2000 – Palmeiras 1 (5) x (4) 0 Flamengo, no Estádio Rei Pelé, em Maceió (AL)

O Palmeiras ganhou a primeira edição da Copa dos Campeões

Final

Palmeiras 2 × 1 Sport
Data: 25/07/2000
Estádio: Rei Pelé, em Maceió (AL)
Público: 22.560 pessoas
Árbitro: Carlos Eugênio Simon (RS)
Gols: Asprilla aos 32 do primeiro tempo; Alberto aos 9 e Nildo aos 41 do segundo tempo
Cartões amarelos: Leomar, Russo, Sérgio, Taddei, Almir e Agnaldo

Palmeiras: Sérgio; Neném, Paulo Turra, Agnaldo e Jorginho; Fernando, Taddei e Juninho; Asprilla, Alberto (Titi) e Basílio (Adriano). Técnico: Flávio Teixeira.

Sport: Bosco; Russo, Erlon, Márcio Goiano e Evaldo (Marquinhos); Leomar, Sidney, Nildo e Adriano; Almir e Sandro Gaúcho. Técnico: Emerson Leão.