Historiadores encontram registros da primeira partida do Palestra Italia na capital paulista
Departamento de Comunicação
O trabalho de pesquisa, documentação e compilação de dados e imagens da Sociedade Esportiva Palmeiras é intenso nos departamentos de Acervo Histórico e de Comunicação do clube, inclusive com contribuição de muitos colaboradores e estudiosos. Graças às análises e às buscas constantes, mesmo com todas as limitações impostas pela pandemia da Covid-19, como as bibliotecas estarem fechadas, mais uma lacuna da trajetória alviverde foi preenchida na primeira quinzena deste mês de julho ao serem encontrados registros da primeira partida disputada pelo Palestra Italia na capital paulista, há 105 anos.
O jogo em questão aconteceu no dia 11 de abril de 1915, diante da equipe do São José do Liceu Sagrado Coração de Jesus-SP, no primeiro campo do Palestra Italia, localizado na rua Major Maragliano, número 54, no bairro da Vila Mariana, Zona Sul da cidade. O placar da partida entre os primeiros quadros de Palestra e São José foi um empate por 2 a 2, enquanto os segundos quadros ficaram na igualdade sem gols.
Os resultados foram reproduzidos na página 4 da edição do dia 14 de abril de 1915 (três dias após a partida) do Jornal Correio da Noite, do Rio Janeiro, na seção de “Notas Esportivas” em forma de uma pequena tira, sem maiores detalhes como a ficha técnica e os marcadores dos gols. Outra fonte posteriormente consultada, o jornal O Estado de S. Paulo do dia 13 de abril de 1915 (dois dias depois da peleja), na página 5 da seção “Sport”, também traz a mesma informação do placar. E o mesmo Estado de S. Paulo do próprio dia 11 de abril traz uma nota afirmando que o duelo seria realizado na rua Major Maragliano.
Fundado e sediado na região da Praça da Sé, o Palestra treinou no campo da Vila Mariana de 1914 a 1917, quando passou a alugar o Parque Antarctica (que, três anos depois, seria adquirido pelo clube). Mas a superfície acidentada do local, apelidado pelos palestrinos de “barranco” porque ficava próximo a um terreno irregular com uma queda acentuada, dificultava a realização de treinamentos e jogos – tanto que só há registro de mais uma partida disputada ali, em janeiro de 1916, um amistoso contra o Marinheiros-SP. Depois, o espaço abrigou um convento e um hospital psiquiátrico, hoje substituído pelo Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental.
Antes da descoberta, havia apenas um registro em ata oficial do clube indicando, dias antes da partida, que ela seria realizada em caráter amistoso e beneficente. No entanto, nunca havia sido comprovado se o jogo de fato havia acontecido. “Para nós, é muito importante trazer à luz da nossa gloriosa história um jogo tão simbólico que por mais de 105 anos estava oculto em nossos registros, com dados superficiais e inconsistentes. A busca pelas informações é incansável, graças ao acesso a fontes cada vez mais diversas. Há outros casos como esse que temos indícios claros de partidas realizadas nos primeiros tempos do Palestra Italia, mas que, pela escassez de registros à época, ficam em aberto e inconclusivos, mas nunca esquecidos. Vamos trabalhar sempre na esperança de encontrar mais esses fragmentos da história”, comentou o assessor de comunicação e historiador do clube, Fernando Galuppo.
Com a nova informação, o duelo com o São José do Liceu Sagrado Coração de Jesus-SP passa a ser o segundo jogo registrado na história do clube – o primeiro foi a vitória por 2 a 0 sobre o Savoia de Votorantim, disputado no dia 24 de janeiro de 1915, na antiga cidade de Sorocaba (região onde hoje está Votorantim), e o terceiro foi uma derrota por 4 a 1 para o Paulistano, no dia 29 de junho de 1916, em amistoso disputado no Velódromo, campo do rival.
Em mais de 105 anos de atividade, a equipe principal de futebol do Palmeiras soma atualmente 6131 partidas, 3289 vitórias, 1491 empates, 1351 derrotas, com 11878 gols marcados e 6863 gols contra.
Saiba esses e outros detalhes nas seções de História no Site Oficial do Verdão.
Algumas partidas dos primeiros tempos do Palestra Italia em que há indícios da realização, mas não há registros dos resultados:
14.11.1915 Palestra Italia x Extra-Paulistano
12.12.1915 Palestra Italia x Bersaglieri F.C.
26.12.1915 Palestra Italia x A.A. Guanabara
09.01.1916 Palestra Italia x Ruggerone F.C.
06.02.1916 Palestra Italia x C.A. Ypiranga
13.02.1916 Palestra Italia x Ruggerone F.C.
Sobre o local do jogo
Bairro com forte presença da imigração italiana no final do século XIX, a Vila Mariana foi um dos núcleos iniciais do Palestra Italia. Em 1887, começou a funcionar na região o Matadouro Municipal, fator que ajudou muito no povoamento do local, atraindo italianos para trabalharem no manuseio do gado e da carne, entre outros trabalhos manuais.
As quatro principais ruas que formavam os loteamentos iniciais do bairro faziam referência a elementos italianos: rua Humberto I (rei da Itália), rua Garibaldi (revolucionário italiano), rua dos Italianos e rua Major Maragliano (empreiteiro italiano).
Por ser um bairro afastado do centro da cidade naquele período, possuía vastas áreas a céu aberto. Na necessidade de um espaço para a prática do futebol logo após a fundação do Palestra, foi indicado por um de seus associados um terreno naquela região que atendia às necessidades iniciais do novo clube.
A Chacará Vila Clementino, de posse da Prefeitura de São Paulo e localizada na rua Major Maragliano, número 54, foi cedida provisoriamente aos palestrinos em troca de carpinagem e manutenção da área. O local ficou sob os cuidados do Palestra até o clube comprar o Parque Antarctica, em abril de 1920, mesmo sendo utilizado apenas entre 1914 a 1917. Desde 1998, o espaço, que também já foi um convento e um hospital psiquiátrico, abriga o Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental.
Além das partidas contra o São José e Marinheiros, há indícios de outros jogos no local, mas com informações inconsistentes.
Sobre o adversário
Fundado em 1885 por São João Bosco (Dom Bosco, como é mais conhecido) com o auxílio da Princesa Isabel, o Liceu Coração de Jesus, à época Liceu de Artes, Ofícios e Comércio, foi criado para atender à doutrina salesiana, que visava o aprimoramento dos jovens de baixa renda promovendo a educação, o esporte e, principalmente, a religião católica.
Inicialmente, o Liceu teve como primeiros alunos os filhos de escravos libertos e de imigrantes italianos, oferecendo ensino gratuito em oficinas profissionalizantes de sapataria e alfaiataria. Posteriormente, inaugurou o internato, acolhendo os filhos de cafeicultores.
No âmbito esportivo, o Liceu promoveu, por diversos anos, a tradicional Maratona de São Paulo, cujo percurso ia da Praça da República até o pátio interno do colégio. Hoje pouco conhecido, o time de futebol amador formado por alunos do Liceu chegou a ganhar diversos campeonatos amadores e colegiais.
