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Em pé: Police, Fornasari e Bonato; agachados: Ferré, Valle, Lagreca, Arturo Fabbi e Aldighiere; sentados: Ítalo, Bianco e Luiz Fabbi (Foto: Acervo Histórico)

Nascido em 1º de maio de 1890 em San Secondo Parmense, um vilarejo próximo de Parma, no norte da Itália, Luiz Salvatore Fabbi chegou ao Brasil com um ano de idade. Na juventude, como funileiro, aceitou convite do arquiteto Ramos de Azevedo para trabalhar na obra do Theatro Municipal de São Paulo, concluída em 1911.

Apaixonado por futebol, foi o autor do primeiro gol da história do Corinthians, em 1910. Em 1913, porém, desentendeu-se com a diretoria alvinegra e deixou o clube junto com o irmão Arturo. Ambos atuaram pelo Concórdia no ano seguinte e passaram a defender o Palestra Italia em 1915.

Carteira de identidade de Luiz Fabbi (Foto: Arquivo Pessoal)

“Ele tinha sangue quente”, diz o aposentado José Marcos Fabi, de 68 anos, neto de Luiz. “Um homem muito rico se ofereceu para ajudar o Corinthians, comprando uniformes e materiais esportivos, desde que o filho dele fosse escalado. Meu avô ficou tão bravo com a situação que foi à sede corintiana e quebrou tudo”, acrescenta, reverberando o relato que ouviu do pai, Luiz Fabbi Júnior.

Com a camisa alviverde, Luiz (também conhecido como Luigi, Fabbi I e Nanni) disputou 11 partidas pelo primeiro quadro, como à época era denominado o time titular. Dos tempos do Palmeiras, guardou o amor pelo clube, que fez questão de transmitir aos quatro filhos, e uma foto rara, tirada em 29 de junho de 1915. Trata-se da primeira imagem de um jogo do Palestra Italia na cidade de São Paulo.

Relato do jornal Correio Paulistano sobre a partida beneficente realizada no Velódromo

Imagem mais antiga do Verdão na capital

O confronto em questão foi o terceiro da história palmeirense – os anteriores ocorreram em Votorantim (então um distrito de Sorocaba), contra o Savoia, e na capital paulista (sem registro fotográfico), diante do São José do Liceu Sagrado Coração de Jesus. Naquele dia, o Verdão disputou um amistoso com o Paulistano, grande força do futebol paulista no começo do século XX, e perdeu por 4 a 1, no Velódromo, onde se localiza atualmente a Rua Nestor Pestana, na região central da cidade.

A foto, preservada pela família de Luiz Fabbi, mostra a esquadra palestrina no gramado, pronta para iniciar a partida. Nanni (o terceiro sentado, da esquerda para a direita) está à frente do irmão Arturo Fabbi (o penúltimo agachado) e ao lado do capitão Bianco (com a bola).

“Entre todas as milhares e milhares de imagens que compõem a nossa história, essa é uma das mais extraordinárias”, afirma o coordenador do Departamento de Acervo Histórico e Memória do Palmeiras, Miro Moraes. “Em 1915, o Palestra acabara de nascer; era impossível saber que logo se tornaria uma potência esportiva. Portanto, são poucos os registros fotográficos daquela temporada.”

O historiador explica como chegou à conclusão de que a foto documenta a partida entre Palestra Italia e Paulistano. “A partir do uniforme do time, já é possível constatar que o jogo foi disputado em 1915. Além disso, o Police (primeiro em pé) participou de apenas três partidas pelo Palestra, todas em 1915. Já as árvores indicam que o estádio era o Velódromo”, diz Moraes. “Naquele ano, jogamos duas vezes no Velódromo, contra Paulistano e Santos. O atleta adversário ao fundo está de roupa branca e, na época, o primeiro uniforme do Santos era listrado”, acrescenta. “Para completar, o Bianco esteve em campo contra o Paulistano, mas não enfrentou o Santos. Logo, esse é o jogo diante do Paulistano.”

O duelo, aliás, teve caráter beneficente. Todo o dinheiro arrecadado com a venda de ingressos foi destinado à Cruz Vermelha Italiana e ao Comitato Pro-Patria, criado para ajudar os soldados italianos que à época lutavam na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Neto de Luiz Fabbi, José Marcos Fabi trouxe a foto rara à Academia de Futebol

Palestra até a morte

No dia 5 de outubro, José Marcos Fabi e Miro Moraes se encontraram no centro de excelência da Academia de Futebol. Fabi trouxe a foto de 1915, relíquia herdada do pai, Luiz Fabbi Júnior, que morreu em abril de 2012. Moraes se emocionou ao ver de perto a imagem, da qual tomara conhecimento por meio de um despretensioso vídeo publicado pelo aposentado no YouTube.

“Quando fiz aquela postagem em homenagem ao meu avô, não tinha ideia de que a foto tinha tamanho valor histórico”, reconhece Fabi, que ressalta a paixão de Nanni pelo Palmeiras. “Nos anos 1960, o Corinthians o presenteou com uma carteirinha de sócio remido, mas ele se recusava a ir buscá-la. Era palestrino e fez com que os quatro filhos, incluindo o meu pai, também torcessem pelo Palmeiras.”

Luiz Salvatore Fabbi morreu em novembro de 1966, aos 76 anos, um mês antes de o time do coração se sagrar campeão paulista pela 15ª vez. Familiares relatam que ele conhecia tanto de futebol que, se assim desejasse, teria sido treinador, a exemplo do irmão.

Curiosamente, Arturo Fabbi (também chamado de Fabbi II e Matturio) era o técnico do Alviverde na primeira vez que o clube disputou uma final contra o Corinthians, pelo Campeonato Paulista de 1936. Com dois triunfos (1 a 0 e 2 a 1) e um empate (0 a 0), o Palestra venceu a melhor de três partidas decisivas diante do rival e conquistou o troféu.