Copa Libertadores

O Palmeiras chegou ao final do século 20 já consagrado como maior vencedor do país. Primeiro campeão mundial da história do futebol, soberano em títulos brasileiros com oito conquistas contra seis do segundo colocado Santos, dono de dezenas de troféus em âmbito estadual, interestadual, nacional e internacional, faltava ao clube apenas uma taça: a da Libertadores.

A espera foi longa. O Verdão bateu na trave ao ser vice-campeão em 1961 (ano em que se tornou o primeiro time do país a disputar uma final continental) e 1968. Nas décadas seguintes, apesar de ter sido o clube brasileiro que mais vezes participou da competição, o título ainda era um tabu.Mas tudo acabou em 1999. Naquele ano, o Verdão faturou, finalmente, o único título que faltava em sua galeria. Naquele ano, a triunfante parceria com a multinacional Parmalat atingia seu ponto máximo, finalizando com chave de ouro um projeto inovador iniciado sete anos antes. Naquele ano, nascia São Marcos, iluminado guardião do gol alviverde e último jogador da história a vestir apenas a camisa do Palmeiras durante toda a carreira.

O título da Libertadores começou a ganhar forma um ano antes, quando o Verdão garantiu sua participação no torneio ao conquistar a Copa do Brasil e passar por uma espécie de vestibular continental atropelando todos os adversários e erguendo a taça da Copa Mercosul. E para dar ainda mais poder de fogo ao elenco comandado por Luiz Felipe Scolari, os experientes e ídolos Evair e César Sampaio e o veloz Euller se juntaram a craques como Velloso, Arce, Junior Baiano, Cléber, Junior, Alex, Zinho, Paulo Nunes e Oséas.

À época, o regulamento era diferente do atual – os grupos eram formados por times dos mesmos países. O Palmeiras estava no grupo 3, ao lado do arquirrival Corinthians e dos paraguaios Cerro Porteño e Olimpia. Outra chave complicada era a 2, com os argentinos Vélez Sarsfield e River Plate e os colombianos Deportivo Cali e Once Caldas. A estreia palestrina ocorreu no dia 27 de fevereiro, contra o Corinthians – foi o primeiro dérbi da história válido pela Libertadores. O Alviverde, campeão da Copa do Brasil na temporada anterior, ganhou por 1 a 0, com gol do paraguaio Arce, aos 12 minutos do segundo tempo. No duelo seguinte, uma goleada: Palmeiras 5 a 2 no Cerro Porteño em pleno Estádio

Defensores Del Chaco, em Assunção-PAR. Os tentos do Verdão, sendo quatro de cabeça, foram de Júnior Baiano (duas vezes), Cléber, Evair e Oséas. Na sequência, foram três resultados adversos e um clima de desconfiança: 4 a 2 para o Olimpia no Paraguai, 1 a 1 com o mesmo Olimpia em São Paulo-SP e derrota para o Corinthians por 2 a 1 – foi justamente ante o arqui-inimigo que o jovem Marcos, após uma lesão do titular Velloso contra o União Barbarense, pelo Paulistão, assumiu a meta.Assim, a classificação só veio na última rodada, com o triunfo de virada sobre o Cerro Porteño por 2 a 1. Júnior Baiano, um dos artilheiros da competição com seis bolas na rede, e Arce, com um chutaço de fora da área, sacramentaram a vaga nos mata-matas.

O Verdão, disputando concomitantemente o Torneio Rio-São Paulo, o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil, avançou como o vice-líder da chave, com dez pontos, dois a menos que o rival Corinthians.Nas oitavas, o adversário foi o Vasco da Gama, que, por ter sido campeão na edição passada, iniciou o certame uma fase à frente. No primeiro jogo, no Estádio Palestra Italia, empate por 1 a 1. No Rio de Janeiro, com show do meia Alex (então com apenas 21 anos), os comandados do técnico Felipão venceram epicamente por 4 a 2. O triunfo trouxe um ânimo sem igual ao elenco, que, na sequência, enfrentaria o Corinthians novamente.

O Palmeiras levou a melhor no primeiro confronto por 2 a 0, com gols de Oséas e Rogério. Mas o nome da partida foi o camisa 12 do Verdão. Marcos simplesmente fechou o gol. Foram várias defesas difíceis e de diversas maneiras. Foi ali, diante de um oponente histórico, que a alcunha de Santo começou a tomar corpo. No segundo encontro, o goleiro não conseguiu conter os corintianos na etapa regulamentar. Troco dos rivais por 2 a 0. No entanto, na decisão por pênaltis, o arqueiro brilhou mais uma vez. Após ver Dinei bater para fora a segunda cobrança,

Marcos defendeu o chute de Vampeta e se ajoelhou no gramado agradecendo a Deus. O Verdão estava na semi! O adversário a ser batido seria o River Plate-ARG. No dia 19 de maio, no Monumental de Núñez, em Buenos Aires, o Verdão foi bombardeado. Os argentinos, com nomes como Sorín, Gallardo, Saviola e Angel, testaram de todos os jeitos o já São Marcos, contudo somente uma bola passou. O Alviverde perdeu por 1 a 0 e retornou a São Paulo-SP no lucro. No Palestra Italia, motivado pela classificação heroica na Copa do Brasil (com aquele 4 a 2 sobre o Flamengo), o Palmeiras sobrou. Em outra exibição de gala do canhoto Alex, que anotou dois gols (na vitória por 3 a 0), o Palmeiras, depois de 31 anos, voltava a uma final de Libertadores.

O rival na decisão foi o Deportivo Cali-COL, que havia eliminado o Colo-Colo-CHI nas oitavas, o Bella Vista-URU nas quartas e o Cerro Porteño-PAR nas semis. No dia 02 de junho, na Colômbia, o Verdão, em um jogo acirrado, foi derrotado por 1 a 0. Quatorze dias depois, o Alviverde, que tinha disputado nesse meio tempo as semifinais e a primeira final do Paulista e as semifinais da Copa do Brasil, foi a campo com Marcos; Arce, Júnior Baiano, Roque Júnior e Júnior; César Sampaio, Rogério, Zinho e Alex; Paulo Nunes e Oséas. Aos 19 minutos do segundo tempo, Evair, de pênalti, abriu o placar. Aos 24, Zapata, também da marca da cal, igualou. Mas Oseás, aos 30, marcou e levou o embate para as penalidades.

Logo na primeira cobrança, Zinho acertou uma bomba no travessão e deixou o Palestra, apinhado de verde e branco, apreensivo. A angústia só amenizou no quarto arremate do Cali, quando Bedoya também encontrou a trave. Na quinta batida palestrina, Euller chutou com classe e deixou o Verdão em vantagem. Aí, todo palmeirense sabe… Zapata finalizou para fora e a América, pela primeira vez, tornou-se alviverde. Festa no chiqueiro!

Campanha
14 jogos (7 vitórias, 2 empates e 5 derrotas)
24 gols marcados
18 gols sofridos

Jogo decisivo:
16/06/1999
Copa Libertadores da América de 1999 (Final – 2o jogo)
Palmeiras (4)2×1(3) Deportivo Cali
Estádio Palestra Italia. São Paulo-SP
Público: 32.000
Juiz: Ubaldo Aquino (PAR)
Cartões amarelos: Alex (PAL), Betancourt (DCA), Córdoba (DCA), Dudamel (DCA), Hurtado
(DCA), Júnior Baiano (DCA), Zapata (DCA) e Zinho (PAL)
Cartão vermelho: Mosquera (34′ do 2oT-DCA) e Evair (49′ do 2oT-PAL)
Palmeiras: Marcos; Arce (Evair), Júnior Baiano, Roque Júnior e Júnior; César Sampaio, Rogério,
Zinho e Alex (Euller); Paulo Nunes e Oséas. Técnico: Luiz Felipe Scolari.
Deportivo Cali: Dudamel; Pérez (Gavíria), Mosquera, Yépez e Bedoya; Zapata, Viveros,
Betancourt e Candelo (Hurtado); Córdoba (Valencia) e Bonilla. Técnico: José Hernández.
Gols: Evair (20′ do 2oT-PAL), Zapata (25′ do 2oT-DCA) e Oséas (31′ do 2oT-PAL)
Nos penâltis: Dudamel (DCA), Júnior Baiano (PAL), Gavíria (DCA), Roque Júnior (PAL), Yepes
(DCA), Rogério (PAL) e Euller (PAL).