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De “bichado” a herói eterno: a trajetória de Evair até a redenção

Evair ocupa uma posição privilegiada no seleto grupo de ídolos do Palmeiras. Será para sempre reverenciado e adorado no Palestra Itália. Afinal de contas, entre tantas façanhas, o ex-camisa 9 foi o autor do gol que pôs fim à fila de 16 anos sem título. No entanto, o caminho até o dia 12 de junho de 1993 não foi tão fácil. E o Matador percebeu isso logo em sua chegada ao clube, em 1991.

“O Guarani, quando me vendeu para o futebol italiano, disse que eu tinha uma hérnia de disco para ter uma desculpa para dar à torcida. Assim, quando voltei ao Brasil para atuar no Verdão, essa história voltou. Na época, falavam que eu era um jogador bichado, que eu não ia passar no exame médico. Quando cheguei ao Brasil só respondi sobre isso. Mas, apesar de tudo, eu estava tranquilo, pois vinha jogando normalmente na Atalanta e não vinha sentindo nada”, explicou o ex-jogador ao Site Oficial do Palmeiras, em entrevista concedida em comemoração aos 20 anos da conquista. “O Palmeiras acabou apostando em mim e não teve problema algum”, completou o ídolo, que só teve de operar em 2001, já no final da carreira, quando as dores agravaram.

Contratado em troca do também atacante Careca Bianchesi, antes ainda do acordo com a Parmalat, Evair viveu outras situações difíceis no clube. Em 1992, chegou a ser afastado pelo técnico Nelsinho Baptista e, na mesma temporada, integrou o time que perdeu a final do Paulista para o São Paulo. “Era um ambiente difícil, complicado. Era quase impossível de se viver. O nosso dia a dia era treinar e correr para casa. Às vezes, quando íamos jantar em algum restaurante, sempre encontrávamos pessoas cobrando”, disse ele, que ressalvou:

“Contudo, o clima mudou a partir de 92. Não ganhamos o Paulista, mas, por outro lado, perdemos o título para um São Paulo campeão do mundo. E foi aí que criamos uma base forte, sólida. É claro que o torcedor quer ser campeão, mas, levando em conta o que tínhamos passado até então, aquele vice-campeonato foi bom e nos deu a confiança de que acabaríamos com o jejum cedo”, relembrou.

E a equipe de 1992, reforçada por nomes como Edmundo, Roberto Carlos, Antônio Carlos, entre outros, e comandada por Vanderlei Luxemburgo, encaixou mesmo e, como Evair havia previsto, chegou à decisão do Campeonato Paulista de 1993. No primeiro jogo da final, no entanto, sinal de alerta ligado: vitória do arquirrival Corinthians por 1 a 0.

“Olha (pausa), aconteceram tantas coisas naquela semana antes da finalíssima. Eu fiquei no banco no primeiro jogo, estava machucado e não pude jogar. Eu sempre digo que foi a semana mais longa da minha vida. Chegava domingo, mas não chegava aquele sábado. Para piorar, ficamos concentrados em Atibaia e os dias pareciam intermináveis. Na época, não tinha celular, internet… os únicos passatempos eram as palestras, as conversas, as brincadeiras. Era muito difícil. Mas o sábado, enfim, chegou. Viemos para São Paulo e treinamos na Academia. O treino foi aberto e tivemos um contato legal com o torcedor. Respiramos ainda mais o ar da decisão”.

Uma semana depois, exatamente no dia 12 de junho, o Palmeiras voou baixo no estádio do Morumbi e ganhou no tempo normal por 3 a 0. Na prorrogação, gol de pênalti de Evair, que já havia marcado um tento nos 90 minutos: 4 a 0. Delírio alviverde. Poderia ser melhor, Matador?

“Não, não poderia ser melhor. Se eu quisesse escrever o que foi aquele dia, não conseguiria. Por tudo que passei, todas as dificuldades, a minha recepção pela imprensa… não poderia ser melhor. Foi o dia que Deus escolheu para mim. Marcou minha vida. Ganhei Libertadores e vários outros títulos, mas esse foi o mais importante para mim”, respondeu.

Há uma história curiosa que poucos conhecem sobre a decisiva penalidade. César Sampaio sempre ia em direção a Evair quando havia uma cobrança na marca da cal em favor do Verdão e dizia a ele a frase “Deus esteja contigo”. Costumava dar sorte. Naquela vez, o volante não apareceu…

“Eu fiquei procurando ele na hora e nada. Eu até falei para mim mesmo: ‘logo hoje ele não vai vir?’. Mas aquele momento estava marcado para mim. Foi o gol mais importante da minha carreira. Hoje, pensando na responsabilidade, me dá um frio na barriga. Eram 16 anos correndo nos meus pés. Porém, por tudo o que eu tinha passado, era fichinha bater aquele pênalti. Era um pênalti qualquer. Foi o momento em que eu pude entrar para a história, que mudou a minha vida pessoal e profissional”, expôs.

Por fim, Evair, mesmo admitindo não conseguir escrever a grandeza do redentor título de 1993, lançou, com a ajuda de profissionais da área, um livro sobre o torneio (Sociedade Esportiva Palmeiras 1993 – Fim do jejum, início da lenda).

“O Mauro Beting e o Fernando Galuppo escreveram por mim (risos). São eles que colocaram no papel. Eu só tentei traduzir um pouco a emoção. Vivi os momentos, tenho as histórias, mas quem escreve mesmo, e muito bem, são eles”, completou o ídolo.

Capitão do título, Sampaio supera lesão e simboliza renascimento alviverde

No instante em que o árbitro José Aparecido de Oliveira apitou o fim do jogo entre Palmeiras e Corinthians, no histórico 12 de junho de 1993, a bola cruzava o meio-campo pelo alto na direção de um pequeno gigante jogador palmeirense. César Sampaio, capitão, camisa 5 do Verdão, recebeu a bola do jogo, a bola do título, como um presente. Pegou e guardou dentro da camisa, para ninguém tomar. Era do Palmeiras a festa, era dele a bola final do duelo. Ou pelo menos era para ser.

“Eu lembro perfeitamente que peguei a bola no fim do jogo, coloquei dentro da camisa, mas acabaram me roubando ela. Muita gente entrou em campo, todos os outros jogadores não pararam de pular e desisti de correr atrás da bola. Pensei comigo: ‘Deixa eu pelo menos garantir a minha camisa, antes que alguém tire de mim também’. Queria ter ficado com a bola do jogo, mas não deu. Ficou na memória”, lembrou Sampaio ao Site Oficial do Palmeiras, em entrevista concedida em comemoração aos 20 anos da conquista.

Mais do que o fim da fila por títulos, o Palmeiras lutava para justificar o investimento realizado pela Parmalat, que contratou jogadores como Edmundo, Edilson, Antônio Carlos e Roberto Carlos para reforçar a equipe que, um ano antes, havia sido vice-campeã paulista. Sampaio, que já estava no elenco antes da multinacional chegar, viu de perto a transição que o clube passou e a pressão que se instaurou no Palestra Itália pela conquista de novas taças.

“Quando cheguei, o retrospecto era pouco favorável. O clube chegava às decisões, mas perdia quando não podia perder. E muitas vezes para equipes teoricamente bem mais fracas. Após a chegada da Parmalat, vi um novo momento surgir dentro do Palmeiras. O clube havia voltado a pensar grande e a assumir a responsabilidade de gigante do futebol brasileiro e mundial que é”, comentou Sampaio.

Por tudo que representou o Campeonato Paulista de 1993, o ex-jogador garante se recordar perfeitamente de todos os detalhes da semana que antecedeu a grande final da competição, após o Palmeiras ser derrotado pelo Corinthians no primeiro jogo da decisão por 1 a 0.

“Foi uma semana muito tensa, com uma apreensão muito grande. O jejum de títulos incomodava a torcida e, claro, também nos afetava. De toda minha carreira, dos 19 anos que tive como jogador profissional, a semana entre os dois jogos da final do Paulista é o que tenho de mais claro na minha mente. Como me lesionei depois do primeiro jogo, praticamente não tinha condições de jogar a segunda partida, o tempo de recuperação era curto”, recordou o volante, que foi levado para a concentração em Atibaia pelo técnico Vanderlei Luxemburgo mesmo sem ter, até então, condições de jogo para a partida de volta da decisão do Campeonato Paulista.

O tratamento do tornozelo de César Sampaio chegou a impedir o volante de treinar durante quatro dias entre uma partida e outra. “Estava muito inchado. Eu tratava em três períodos e nada de melhorar”, lembrou. E como o elenco estava concentrado no interior de São Paulo, os médicos do Palmeiras tinham alguma dificuldade para encontrar remédios que pudessem auxiliar no tratamento do camisa 5 e liberá-lo para a partida.

“Os médicos chegaram para o Vanderlei (Luxemburgo) e falaram que não tinham os medicamentos certos para o meu tratamento ser mais rápido ali em Atibaia. Na mesma hora ele falou para voltaram para São Paulo, comprarem o que tinham que comprar e que só voltassem ali com os medicamentos que pudessem me recuperar rapidamente”, divertiu-se Sampaio enquanto lembrava-se das ordens do comandante.

Na quinta-feira que antecedeu o jogo do dia 12 de junho, um sábado, César Sampaio pôde voltar a treinar com o grupo. O volante ainda se lembra de como os dias antes da partida foram exclusivamente dedicados ao estudo da equipe adversária. “Nós dormíamos e acordávamos com o Corinthians na cabeça, o foco era muito grande.”

Além da necessidade de vitória, o camisa 5 teria outra missão espinhosa durante a partida contra os rivais alvinegros: marcar o atacante Viola, que na primeira partida da final havia feito o gol da vitória corintiana e imitado um porco na frente da torcida palmeirense. A imitação, aliás, acabou servindo de estímulo para todo o grupo durante a decisiva semana de preparação.

“Nós mudamos o posicionamento em relação ao primeiro jogo e eu fiquei marcando o Viola. Tive que ficar mais na proteção e saí menos para o jogo. Na bola parada, eu fazia marcação individual nele. O próprio Viola não imaginava o quanto aquela imitação serviria de referência para nós. Na preleção, o Vanderlei (Luxemburgo) colocou o vídeo dele imitando o porco, com a torcida do Corinthians falando que o Palmeiras iria pipocar novamente, que ficaríamos mais um ano na fila…”

No dia da partida, mais de 104 mil pessoas marcaram presença no Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, para acompanhar a final do Campeonato Paulista de 1993. A vantagem corintiana, conta Sampaio, não abalou a confiança dos jogadores do Palmeiras. Já no túnel de acesso ao gramado, o atacante Evair, por exemplo, pediu para que todos olhassem um no olho do outro, que a hora havia chegado e que quando voltassem ali estariam todos comemorando o título. “Apesar do tempo, essa é uma cena que minha memória nunca vai apagar.”, relatou o volante.

“Nós tínhamos um time superior tecnicamente e ninguém entendia o que tinha acontecido no primeiro jogo. Na segunda partida, entramos ligados desde o começo, atropelamos a equipe deles, fomos ganhando a segunda bola, ganhando na frente. Os gols foram uma questão de tempo, foram saindo de maneira natural. A nossa atmosfera positiva e a boa atuação nos levaram a conquistar aquele título”, completou.

Os 3 a 0 no tempo normal garantiram a possibilidade do Palmeiras disputar a prorrogação contra a equipe corintiana. Derrota de 1 a 0 na primeira partida, vitória no segundo jogo e a final seria definida nos 30 minutos do tempo extra. Durante o prolongamento, pênalti para o Palmeiras. Pênalti para Evair bater.

Sempre que o camisa 9 do Palmeiras pegava a bola para bater um pênalti, César Sampaio ia até ele e dizia “Deus esteja contigo”. Mas, especialmente na final de 1993, em uma das cobranças mais importantes da história alviverde, o volante não conseguiu ir até o atacante. “Na hora, eu já estava comemorando. Não consegui ir até ele. Quando o juiz assinalou o pênalti, eu fiquei totalmente dominado pelo momento e só conseguia pensar ‘bate logo isso e faz o gol, por favor’, mesmo que de longe. Ele era o melhor batedor de pênalti que pude trabalhar em toda minha carreira, muita precisão, movimento na hora que o goleiro se mexia… sabia que faria o gol. Mais uma vez ele foi preciso e conseguiu ratificar a vitória”, comemorou.

Depois do quarto gol palmeirense naquela tarde, o título foi questão de tempo. A comemoração, também. Eram 16 anos de fila, interrompidos por um Campeonato Paulista justamente sobre o maior rival. “Saímos do estádio, entramos no ônibus, demos uma volta em São Paulo, fomos até o Parque Antártica e depois fomos para uma churrascaria, se não me engano, com nossas famílias e amigos. A noite foi curta para tanta comemoração. Nós merecíamos. O Palmeiras merecia”, recordou César Sampaio, que em 1999 ainda levantaria o troféu de campeão da Copa Libertadores pelo Verdão e em 2011 voltaria ao clube como gerente de futebol.

Confiança Animal: a certeza de Edmundo no sucesso do Palmeiras de 1993

Eram passados 36 minutos daquela que seria a partida de consagração de alguns dos nomes mais importantes da história da Sociedade Esportiva Palmeiras. No Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, alviverdes e alvinegros duelavam em busca do título do Campeonato Paulista. Edmundo, o Animal, recebeu a bola na ponta esquerda do ataque do Verdão e, ao tentar arrancar em direção ao gol, foi desarmado pelo zagueiro corintiano Henrique. Caprichosamente, a bola sobrou para Evair que, com maestria, rolou para Zinho invadir a área e anotar o primeiro gol palmeirense na tarde de 12 de junho de 1993.

“Depois que o Zinho fez o primeiro gol, as coisas ficaram mais fáceis e acabaram fluindo naturalmente. Nosso time era melhor e, dentro da partida, as situações foram acontecendo. Foi tudo maravilhoso. Eu era jovem e tentava não me prender ao fato de estarmos jogando por anos de fila. Tudo o que queria era entrar em campo e começar a jogar. Dentro do clube, todos nós sabíamos que, se jogássemos o melhor futebol, venceríamos. E foi o que aconteceu”, lembrou o ex-camisa 7 palmeirense ao Site Oficial do Palmeiras, em entrevista concedida em comemoração aos 20 anos da conquista.

Se o dia 12, um sábado, ficou eternamente marcado na memória da torcida do Palmeiras, aquela partida havia começado quase uma semana antes, no sexto dia do mês de junho, domingo, quando o Corinthians venceu o time de Palestra Itália por 1 a 0. O resultado obrigou a equipe comandada por Vanderlei Luxemburgo a vencer o segundo jogo e levá-lo à prorrogação em um estádio com mais de 104 mil pessoas presentes.

“Como o Corinthians ganhou o primeiro jogo, a gente teve que se dedicar em dobro naqueles seis dias que tivemos entre as partidas. E foram dias proveitosos, conseguimos treinar muito bem. Tínhamos muita confiança que faríamos um grande jogo. Fomos ao Morumbi acreditando muito naquele título”, relatou o Animal.

A história garantiu ao Palmeiras que a confiança de Edmundo e dos demais jogadores se transformasse em uma grande atuação do time alviverde. A vitória por 3 a 0 no tempo regulamentar e o gol de pênalti de Evair na prorrogação eternizaram aquela final. Porém, não apenas da conquista sobre o Corinthians viveu o Campeonato Paulista de 1993. Para o Animal, que havia chegado ao clube no início da temporada, a vitoriosa trajetória exigiu muita luta desde os primeiros dias que desembarcou em São Paulo.

Revelado pelo Vasco em 1992, Edmundo foi contratado pelo Palmeiras a peso de ouro no ano seguinte. “Quando eu cheguei ao Palestra, o elenco já estava em pré-temporada, mas fui muito bem recebido por todo o grupo. Eles tinham sido vice-campeões do Campeonato Paulista um ano antes, e a Parmalat trouxe vários jogadores que se destacaram em outras equipes. Eu cheguei, Edilson chegou, repatriaram o Antônio Carlos, veio o Roberto Carlos… foi tudo planejado para que tivéssemos uma equipe muito forte.”

Se para o Palmeiras o dia eternizado foi 12 de junho, Edmundo pode se lembrar de outras duas datas em suas primeiras semanas de clube. No dia 27 de janeiro, o Alviverde estreou no Campeonato Paulista de 1993, com o Animal escalado ao lado de Zinho, Edílson e Evair na linha ofensiva – o mesmo quarteto que disputaria a final da competição. A partida, a primeira do camisa 7 pelo Verdão, foi contra o Marília, no Palestra Itália. Catatau abriu o placar para os visitantes logo aos dois minutos de jogo, mas Evair, aos 23, e César Sampaio, aos 26, trataram de virar o jogo para o time da casa.

“Nós todos tínhamos uma expectativa muito grande que aquele time poderia dar certo, que aquele time faria história. No começo, como nesse jogo contra o Marília, a falta de entrosamento ainda nos atrapalhava um pouco, mas logo os resultados começaram a aparecer com mais facilidade e aquele grupo se tornou muito forte”, relembrou.

Após a primeira partida do campeonato, o Verdão enfrentou o XV de Piracicaba (vitória por 2 a 0, com dois gols de Evair) e o Rio Branco (empate em 2×2, novamente com dois gols do Matador), mas Edmundo não conseguiu balançar as redes. Na quarta partida da temporada, o primeiro clássico. No Morumbi, o Palmeiras enfrentou o Santos, venceu por 3 a 1 e, enfim, o Animal marcou seu primeiro tento com a camisa palmeirense.

“Lembro-me perfeitamente desse jogo. Havia uma pressão grande, tantas contratações caras, então todos estavam um pouco pressionados para mostrar resultados dentro de campo. Nosso time estava invicto na competição, mas eu ainda não tinha marcado. Havia a expectativa para que eu fizesse meu primeiro gol… a torcida pedia, eu também pensava muito nisso. Demorou um pouco, mas acabou sendo tudo na hora certa, na melhor hora. Foi um gol em clássico, que acabou aliviando um pouco o peso que eu tinha por estar sem marcar. Jogos assim, independentemente da fase que aconteçam, são sempre diferentes.”

Ao todo, Edmundo marcou 99 gols em 223 jogos pelo Palmeiras, somando suas duas passagens entre 1993 e 1995 e 2006 e 2007. Apenas no Campeonato Paulista de 1993, foram 34 partidas e 11 tentos. Também por ter sido o clube que mais atuou em sua carreira, o Animal costuma dizer que tem pelo Verdão um amor “como se fosse de mulher, de esposa”, enquanto o Vasco da Gama, time que torceu na infância e foi revelado, era um “amor de mãe”.

“Eu amo os dois clubes da mesma forma. Algumas pessoas às vezes não entendem, mas não adianta eu ser hipócrita. Nasci no Rio e era vascaíno, por isso o amor de mãe. Nós nascemos e já amamos aquela pessoa. O Palmeiras foi um amor de mulher, um amor que conheci ao longo da vida e acabou sendo um casamento que deu muito certo. Por isso eu digo: onde eu nasci, no Vasco, o amor é de mãe. Do Palmeiras, que conheci ao longo da vida, como amor de mulher”, explicou.

Após Vasco e Palmeiras, Edmundo acabou deixando o Alviverde para jogar no Flamengo, em 1995, no ataque que, à época, foi chamado de “melhor ataque do mundo”, ao lado de Sávio e Romário. Em sua volta ao Rio de Janeiro, porém, as coisas não deram certo para o Animal, que garante ter se arrependido de deixar o Palestra Itália.

“Me arrependi muito. Não só por não ter ido bem no Flamengo, por tudo que aconteceu comigo no Rio de Janeiro, mas também porque eu tinha 100% do carinho do torcedor do Palmeiras e em uma decisão sem pensar acabei perdendo tudo. Hoje olho para trás e vejo que tomei a decisão errada. Vejo o Marcos, que fez uma carreira só no clube e até hoje é incrivelmente idolatrado. Eu queria ter ficado, queria ter escolhido ficar, e sei que poderia ter tido também um reconhecimento ainda maior por tudo que fiz e por tudo que poderia ainda ter feito pelo clube”, lamentou o hoje comentarista esportivo, que em 2011 foi homenageado pela diretoria palmeirense no evento de lançamento de uma camisa listrada, alusiva à de 1993.

Sérgio relembra prova de fogo e conta trapalhada de São Marcos

Sérgio chegou ao Palmeiras no dia 13 de janeiro de 1989. Foi emprestado (ao Embu-Guaçu e ao Ceilândia), voltou e, três anos após iniciar a carreira, subiu para o time profissional. Em 1993, aos 22 anos, já era o segundo goleiro. Na quarta rodada do Paulista, por conta de uma lesão do titular Velloso, assumiu a meta alviverde e não decepcionou. Jogou todas as partidas restantes e entrou para a história como o arqueiro do Verdão que colocou fim à árdua fila de 16 anos.

“O goleiro, na maioria das vezes, só entra com a infelicidade do outro. O Velloso já era um ídolo na época, e substituí-lo era uma grande responsabilidade. Mas eu estava preparado. Goleiro tem de estar pronto para agarrar estas oportunidades. Eu sempre digo que foi a passagem mais brilhante da minha carreira”, recordou Sérgio ao Site Oficial do Palmeiras, em entrevista concedida em comemoração aos 20 anos da conquista. Naquela mesma temporada e também como titular, Sérgio levantou ainda os troféus do Rio-São Paulo e do Campeonato Brasileiro.

Naquele Paulista, o Palmeiras alcançou a redenção da melhor maneira possível: desbancando o arquirrival Corinthians na decisão. A caminhada até a glória, porém, não foi nada tranquila. No primeiro duelo da final, realizado no estádio do Morumbi no dia 6 de junho, o Verdão perdeu por 1 a 0. Viola, atacante rival, marcou o gol alvinegro e imitou um porco na comemoração. Atitude que mexeu com os brios do elenco palestrino.

“A semana anterior ao segundo jogo, por tudo o que havia acontecido na primeira partida, não foi boa. Tivemos muita cobrança da imprensa, da torcida e da diretoria. E o tempo não passava… queríamos o apito inicial logo para darmos a volta por cima. Além disso, sabíamos da importância daquele título, pois havíamos perdido uma final em 92. Mais uma derrota seria muito frustrante. Posso dizer que aquele primeiro jogo nos uniu ainda mais”, afirmou.

Em 12 de junho, dia dos namorados, novamente no Morumbi, o torcedor palmeirense, enfim, voltou a ficar em lua de mel com o time. Com um 4 a 0 incontestável (3 a 0 no tempo normal e 1 a 0 na prorrogação) e em tarde inspirada do matador Evair, o Alviverde ressurgiu imponente. “Extravasamos. Festejamos muito com o torcedor, que estava havia muito tempo sem ganhar. Era uma equipe muito boa, 80% era seleção brasileira. Foi muito marcante e foi o que começou a tríplice coroa”, completou.

Superada a seca de conquistas, o Palmeiras viveu uma década de ouro e mostrou novamente que de fato é campeão. Foram mais dois títulos paulistas (94 e 96), dois brasileiros (93 e 94), uma Copa do Brasil (98), uma Copa Mercosul (98) e uma Copa Libertadores (99).

Sérgio ‘acobertou’ trapalhada de Marcão

Em 1993, Marcos, na ocasião ‘apenas’ um promissor goleiro do clube, só pôde comemorar o fim da fila no dia seguinte ao título. “Eu estava disputando um torneio de base com a seleção na Itália e só fiquei sabendo um dia depois. Não tinha celular, internet, essas coisas…”, brincou o eterno camisa 12, que já morava com Sérgião na oportunidade e, inclusive, precisou de uma ajuda do parceiro meses depois.

Quem conta o causo é Sérgio, que teve de passar por poucas e boas com o agregado. “Na semana para o segundo jogo da final do Brasileiro de 93, contra o Vitória, o Marcos foi brincar de jogar tênis e torceu o tornozelo. Ele ficou desesperado e me disse: ‘Sérgião, pelo amor de Deus, não fale nada para o Vanderlei, senão estou morto”, gargalhou o ex-arqueiro, que guardou segredo na época e, com isso, garantiu a presença do amigo no banco de reservas, mesmo com o tornozelo inchado.

José Carlos Brunoro e dez curiosidades sobre o título de 93

José Carlos Brunoro, o mandachuva da vitoriosa co-gestão Palmeiras/Parmalat da década de 90, viveu muita coisa no Palestra Itália. Desde 1992, quando recebeu carta branca da diretoria alviverde, tomou decisões penosas, resolveu problemas espinhosos, errou, acertou – mais do que errou – e, principalmente, colecionou histórias. A vinda do dirigente para o Palmeiras, inclusive, já é curiosa.

“Eu vim para o Verdão por acaso. Na época, eu era dirigente do time de vôlei da Pirelli e a empresa estava desativando os esportes. O vôlei, porém, era um sucesso e o carro-chefe deles, e eles começaram a se reunir com grupos a fim de dar sequência ao projeto. Um dia, a Parmalat foi lá. A reunião começou e o assunto futebol apareceu na mesa. Eu, que era técnico de futebol formado (resolvi fazer o curso por hobby), comecei a conversar bastante. Aí, o presidente da Parmalat passou a me olhar diferente e me perguntou:

‘Para qual time você torce?’
‘Palmeiras’, respondi.

Eles ficaram quietos em um primeiro momento e depois nós continuamos a conversar sobre futebol. Pegou até mal entre o pessoal da Pirelli. Afinal de contas, o assunto era vôlei (risos). Mas, enfim, quando a italianada terminou a reunião, disse que queria continuar o papo comigo no dia seguinte. Ok, achei que falaríamos de vôlei, né? Mas, chegando lá, o presidente da Parmalat me disse:

‘Brunoro, não quero nada com esse negócio de vôlei, não. Quero conversar com você sobre o Palmeiras. Estamos perto de acertar um acordo com eles e você, que está na Pirelli há 14 anos e tem uma experiência boa administrando um esporte, é a pessoa Ideal para nós. Além disso, você é palmeirense’.

Fui pego de surpresa. Pedi uma sala para pensar e disse que responderia no mesmo dia. Puseram vários biscoitos importados na mesa e tal (risos). Optei por não ficar perguntando para ninguém. Eu era solteiro, a decisão seria só minha. Passou um filme da minha vida inteira. E, horas depois, cheguei à conclusão de que estava preparado. Eu sempre digo que nossa capacidade tem de estar sempre acima dos nossos desafios. E deu certo.

O italiano apenas me olhou e disse: ‘Gostei de você. Você é rápido. Ainda bem que você aceitou. Se não fosse você, eu teria que trazer um italiano’, gargalhou Brunoro ao Site Oficial do Palmeiras, em entrevista concedida em comemoração aos 20 anos da conquista.

Estágio na Itália

Tarimbado no universo do vôlei (foi campeão como jogador, técnico e dirigente), Brunoro pediu, quando chegou ao Palmeiras, três meses para se familiarizar com o futebol. “Quando cheguei, pedi um período de três meses. Fui para Itália em março e fiquei observando o funcionamento do Parma até julho, que foi quando comecei a implementar o projeto aqui. Mas o começo foi muito duro. Eu não tinha ideia de como era o mundo do futebol, da torcida, da paixão, dos cartolas…”.

Parmalat é ilusão?

No início do projeto, o dirigente teve que conviver muito com as críticas. “Era uma situação difícil. Eram 15 anos sem título. Havia desconfiança, baixa autoestima. Ninguém servia e ninguém prestava. E os torcedores não entendiam o que seria a parceria e pichavam ‘Parmalat é ilusão!’ e ‘Fora, Brunoro’”.

Contratações e reintegração de Evair

O Verdão perdeu a final do Paulista de 1992 para o São Paulo. Apesar da derrota, a base estava montada para o ano seguinte, quando chegaram os reforços que se encaixaram como uma luva. “Cléber e Antônio Carlos estavam na Europa querendo voltar e chegamos a ele por indicações, informações de empresários. Já o Roberto Carlos era uma promessa que estava na seleção de base, e o Edmundo era uma revelação. O Vasco estava precisando fazer caixa e vendeu. O Edílson era um destaque do Guarani também. Enfim, fizemos tudo isso com muito pouco dinheiro, uma quantia irrisória nos padrões de hoje. Além disso, eram todos jogadores com perfil de vencedor. Sem contar que já tínhamos no elenco César Sampaio, Mazinho, entre outros”, afirmou Brunoro, que acertou em outro ponto: reintegrar o Matador Evair, afastado por ‘deficiência técnica’ pelo ex-técnico Nelsinho Baptista. Na ocasião, o treinador era Otacílio Gonçalves.

Lei do passe x direitos econômicos

Um fator a favor de Brunoro na montagem do elenco de 1993 era a antiga lei do passe. “Era uma realidade diferente, muito melhor para o clube. Você comprava o passe do jogador e ele era seu. Com o tempo, tinha o decréscimo do percentual que ia para jogador, mas era muito mais fácil, era só negociar com o outro clube. Não precisava acertar com grupos de investidores, empresários, agentes e tantas outras pessoas como é atualmente”.

Chegada de Luxemburgo

Em um primeiro momento, Brunoro foi voto vencido. Ele queria Vanderlei Luxemburgo, mas o então técnico de destaque no Bragantino não era o preferido da alta cúpula alviverde. Assim, o veredicto teve de ser tomado após entrevistas. “O time começou a perder e optamos por demitir o Otacílio. O pessoal do Palmeiras queria o Nelsinho Rosa, campeão brasileiro pelo Vasco em 1989 e tudo mais. Mas eu queria o Luxemburgo. Resolvemos então entrevistar os dois. O Nelsinho tinha alguns problemas pessoais e percebemos que ele não estava muito disposto. Já o Vanderlei chegou preparado, disse o que achava do time, no que poderia melhorar. Ele disse também: ‘Essa é a oportunidade da minha vida e, por conta dela, vou chegar à seleção’”. Luxemburgo ganhou a simpatia de todos, com exceção de um detalhe. “O Nelsinho era um senhor mais tradicional. Já o Vanderlei veio de camisa de seda aberta, com cabelo black power, várias correntes no pescoço. Quando ele entrou na sala, o (Gilberto) Cipullo (diretor) deu uma arregalada nos olhos. Confesso que pensei que eles não o aceitariam (risos)”.

Brunoro ‘boleiro’

Brunoro era um dirigente diferente. Jovem (42 anos no início de 1993), usava um vistoso bigode e interagia bastante com os jogadores e a comissão técnica. “Como fui técnico de vôlei por 20 anos, sabia lidar muito com o ego dos atletas. Usei muito essa minha experiência, conhecia o linguajar do jogador. E, quando o Luxa chegou, nós dois absorvíamos os problemas juntos. Além disso, eu fazia coisas como correr com os atletas no campo. Eu saía um pouco do dirigente tradicional que só chega no fim do expediente. Tinha uma aproximação legal”.

Vídeo motivacional antes da finalíssima

O Palmeiras perdeu a primeira partida da final por 1 a 0. Viola imitou um porco na comemoração. E o tiro saiu pela culatra. “Fizemos um vídeo, primeiramente, para exaltar a qualidade do nosso time. Mostramos gols e lances dos jogadores durante o campeonato. Mas, no intervalo de quatro jogadas, colocamos o gesto do Viola e uma imagem do Neto pedindo silêncio para a torcida do Palmeiras. Foi uma inovação, o pessoal não trabalhava muito com isso. O time ficou bem pilhado, dava para sentir no semblante deles. Eu sabia que seríamos campeões”.

Velas no vestiário

O dia 12 de junho de 1993 de Brunoro foi recheado de sofrimento, comemoração, alívio e… velas. “Eu acordei com muito frio na barriga. Perdemos em 1992 e eu sentia que o time ia ganhar. Estava muito ansioso, por todo o ambiente, pela semana após a derrota. Era importante para mim também, pois havia sido o meu aniversário no dia 11 – e eu queria um presente – e pela co-gestão. Não quis ficar na arquibancada. Fiquei no vestiário e assisti ao jogo em uma televisãozinha portátil. Lembro que acendemos muitas velas e que falei para o roupeiro da época para não faltar nenhuma até o fim do jogo. Só que no pênalti do Evair as velas começaram a diminuir e falei: ‘Chiquinho, vai atrás de velas. Não podemos ficar sem’. Ele deu um jeito e achou. Acendemos mais velas. E ganhamos! (risos)”

Meias brancas

Diferentemente das velas do vestiário, a mais emblemática superstição do dia foi a campo e, inclusive, vestida por todos os jogadores palestrinos. O técnico Vanderlei Luxemburgo, que tinha lá suas excentricidades, acatou uma sugestão do pai de santo e seu conselheiro particular Roberio de Ogum e, assim, ordenou que o time atuasse de meias brancas. O Verdão não utilizava tal combinação (camisa verde, calção branco e meias brancas) havia tempos… E não é que deu certo? As meias brancas, as mesmas que haviam ganhado o Campeonato Paulista de 1976 – então o último título alviverde –, participaram de outra conquista do Palmeiras e adquiriram de vez o rótulo de talismãs. Em 2008, o clube, novamente comandado por Luxemburgo, alcançou a final do estadual de novo e, sem titubear, apelou mais uma vez para as indefectíveis meias brancas. Resultado: Palmeiras campeão!