Em meio à Segunda Guerra Mundial e às fortes pressões políticas exercidas tanto pela opinião pública quanto pelo presidente Getúlio Vargas, os atletas palestrinos foram obrigados a superar todas as dificuldades fora de campo para faturar o 9º título estadual da história do clube, justamente sobre o São Paulo, agremiação que mais incentivou a perseguição aos italianos. Em menos de um ano, o Palestra Italia foi obrigado a mudar de nome duas vezes e quase perdeu seu próprio estádio, mas nem assim o talento e a valentia do time de Oberdan, Junqueira, Og Moreira, Echevarrieta e companhia foi superado.
Em março de 1942, as críticas sobre todas as instituições que tinham quaisquer relações com os países do Eixo na Segunda Guerra se tornam insustentáveis. O Germânia virou Pinheiros, o Hespanha virou Jabaquara e o Palestra Italia virou Palestra de São Paulo. A primeira competição oficial com a nova nomenclatura foi justamente o Paulistão deste mesmo ano, disputado por outras 10 equipes, em pontos corridos, turno e returno.
No entanto, ao longo do torneio, as autoridades não se deram por satisfeitas e exigiram a extinção da palavra “Palestra”. Com medo de pesadas sanções governamentais, o clube cedeu e decidiu pela nova alcunha de Sociedade Esportiva Palmeiras. O Palestra de São Paulo deixou o campeonato na liderança, com 16 vitórias, dois empates e nenhuma rodada, enquanto o Palmeiras fez seu primeiro jogo contra o São Paulo e valendo o título. Ironicamente, o triunfo garantiu a taça logo no primeiro jogo da história do Palmeiras e em cima de um dos adversários que mais pressionou as raízes italianas do clube.
Quando o time entrou em campo no dia 20 de setembro de 1942, a expectativa era de ser recebido como o traidor da pátria, sob vaias e talvez até pedradas. A solução foi adentrar o gramado do Pacaembu com a bandeira brasileira e um legítimo representante nacional, o Capitão do Exército Adalberto Mendes, acalmando, assim, o público presente no estádio. Dentro das quatro linhas, o Verdão abriu o marcador aos 20 minutos com Cláudio, mas Waldemar de Brito empatou logo na sequência. Antes do intervalo, Del Nero ampliou e Echevarrieta fez o terceiro no começo do segundo tempo. Quatro minutos após o gol argentino, o são paulino Virgílio foi expulso ao derrubar Og Moreira na área, fato que deixou os rivais tão revoltados com a marcação da penalidade que decidiram abandonaram a partida. Os palmeirenses ficaram livres para comemorar mais um título estadual – a nomenclatura era outra, porém a tradição e a qualidade se mantiveram as mesmas. O Palestra, que morreu invicto, viu o Palmeiras nascer campeão!
Campanha:
Jogos: 20 (17 vitórias, 2 empates e 1 derrota)
Gols marcados: 65
Gols sofridos: 19
Jogo decisivo:
Palmeiras 3×1 São Paulo
Campeonato Paulista de 1942 (19º rodada)
20/09/1942
Estádio do Pacaembu, São Paulo-SP
Árbitro: Jaime Janeiro Rodrigues
Expulsão: Virgílio
Palmeiras: Oberdan; Junqueira e Begliomini; Zezé Procópio, Og Moreira e Del Nero; Cláudio, Waldemar Fiúme, Villadoniga, Lima e Echevarrieta. Técnico: Del Debbio.
São Paulo: Doutor; Piolin e Virgílio; Lola, Noronha e Silva; Luizinho Mesquita, Waldemar de Brito, Leônidas da Silva, Remo e Pardal. Técnico: Conrado Ross.
Gols: Cláudio (19’ do 1º-PAL), Waldemar de Brito (23’ do 1ºT-SPA), Del Nero (43’ do 1ºT-PAL) e Echevarrieta (14’ do 2ºT-PAL)