Campeonato Paulista – 2020

Campeonato Paulista – 2020

Disputado por dezesseis clubes divididos em quatro grupos, os times do Campeonato Paulista de 2020 só enfrentavam, na primeira fase, as equipes dos outros grupos, sendo que se classificavam para as etapas eliminatórias os dois primeiros colocados de cada pelotão. Ou seja: todos os times disputavam 12 partidas nesta fase inicial – fórmula essa que já vinha sendo utilizada desde 2011, com a diferença de que, neste ano, as quartas de final e as semifinais seriam disputadas em jogos únicos, e a final em partidas de ida e volta.

O retorno de Vanderlei Luxemburgo ao time palmeirense (na sua quinta passagem pelo clube), em janeiro da temporada de 2020, trouxe novamente a esperança de encerrar o jejum de títulos estaduais, que já durava 12 anos. O último havia sido em 2008 justamente com Luxa no comando e, antes disso, os de 1993, 1994 e 1996, todos também com o treinador carioca. O último Paulista comandado por outro treinador foi em 1976, com o técnico Dudu (Olegário Toloi de Oliveira).

E de fato, Luxemburgo não decepcionou! Após começar o ano já com a conquista de um torneio amistoso (Florida Cup) do qual o Corinthians também havia participado, o Palmeiras de Vanderlei começou o Campeonato Paulista embalado, goleando o Ituano por 4 a 0 no Novelli Junior (gols de Marcos Rocha, Lucas Lima, Zé Rafael e Willian). A partir daí, o time passou a ser um dos protagonistas do torneio, disputando a liderança geral da competição ponto a ponto com o surpreendente Santo André.

Entretanto, no início de março, uma situação atípica paralisou não só o futebol no Brasil, mas praticamente todas as atividades não essenciais em geral: a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), que acometeu cerca de 100 mil pessoas no Brasil até o encerramento do campeonato, mudou todo o planejamento dos times para a temporada.

Quando o Paulistão estava em sua 10ª rodada (ou seja, a apenas duas do término da fase de grupos), o torneio foi cessado, permanecendo paralisado por quatro meses! Com o Continental também interrompido e o Brasileiro nem iniciado, o Verdão voltou a entrar em campo pelo Paulista (torneio que foi retomado primeiro) só em 22/07, contra o Corinthians – o jogo anterior havia sido em 14/03, fazendo com que o Alviverde permanecesse longe dos gramados, portanto, por exatos 129 dias, passando a ser o novo recorde da agremiação alviverde sem entrar em campo entre uma partida e outra em todos os seus 105 anos de existência, superando o antigo recorde de 125 dias registrado em 1932 (à época, o futebol foi paralisado devido à Revolução Constitucionalista daquele ano).

Este duelo contra o Corinthians na retomada das atividades era valioso para o rival, já que os times viviam situações distintas na tabela. O Palmeiras estava praticamente assegurado na fase eliminatória, enquanto o Alvinegro ainda brigava para não ser rebaixado, mas mantinha acesa uma ponta de esperança de ir às fases de mata-mata (isso, é claro, apenas no caso de tudo dar certo em uma eventual combinação de resultados daquela rodada, a 11ª, e da próxima, a 12ª).

Se perdesse para o Palmeiras ou até mesmo empatasse naquela 11ª rodada, o Corinthians daria adeus a qualquer chance matemática de disputar as quartas de final. Um fator, no entanto, apimentou a disputa: supostos torcedores palmeirenses teriam invadido a Arena Corinthians (palco do duelo) na madrugada anterior para fazerem pichações provocativas ao Corinthians, com dizeres alusivos à maior goleada por eles sofrida em um Derby “8 a 0 em 1933” e também dizeres de menosprezo ao goleiro adversário “Cássio Frango”; fato este que foi repercutido pela mídia praticamente durante todo o dia, até os momentos que antecederam o clássico, e virou combustível para que os donos da casa usassem o episódio a seu favor.

No jogo, na Arena Corinthians sem público – como passaram a ser os jogos –, o Verdão já entrou em campo classificado devido ao resultado do duelo que havia sido encerrado minutos antes entre Ponte Preta e Novorizontino (2 a 0 para a Macaca).

Desta forma, com a pressão para o lado corintiano, o time da casa de tudo fez para buscar a vitória: e ganhou por 1 a 0, após um gol aos 14 minutos do primeiro tempo, feito pelo zagueiro Gil, que recebeu bola cruzada de escanteio batido por Fagner e cabeceou para chão; o quick da bola e um leve desvio em Felipe Melo (que desde o início desta temporada passou a jogar de zagueiro) confundiram o goleiro Weverton, que acabou deixando a pelota passar. Com isso, o Corinthians segurou o resultado – quase que exclusivamente por méritos do goleiro Cássio, que viveu noite fora de série –, mesmo o Palmeiras tendo reagido ainda no primeiro tempo e tendo sido superior durante todo o segundo tempo. Mas o destino reservaria ao Palmeiras algo muito mais compensador por aquela amarga derrota no Derby. Era para ser assim!

Pressionado após perder o Derby, mesmo classificado, o Palmeiras precisava vencer a equipe do Água Santa na 12ª rodada para honrar a sua torcida e também limpar a imagem maculada que havia ficado na única vez em que as equipes se enfrentaram até então, quando o Verdão sofreu goleada por 4 a 1 para o time de Diadema (então novato na Série A1) no Prudentão, pelo Campeonato Paulista de 2016.

Após um primeiro tempo sem gols, o Alviverde saiu perdendo por 1 a 0 aos 17 minutos do segundo tempo, mas o time alviverde mostrou sua garra de campeão e buscou a virada. Aos 26 veio o gol de empate, com o volante Ramires, de cabeça, e aos 41 o da virada, com Luiz Adriano, que bateu mal o pênalti mas se redimiu ao aproveitar o rebote do goleiro Giovanni. Foi sofrido, mas virou para 2 a 1, com gols de Ramires e Luiz Adriano. O triunfo ajudou a acalmar os ânimos da torcida – qualquer resultado que não fosse uma vitória, àquela altura, faria com que o time pudesse estar sujeito a protestos. Mesmo não apresentando um futebol muito mais “raçudo” do que convincente, críticos tiveram de “engolir” ataques ao Verdão devido o resultado positivo. Além do mais, o momento era de apoio, pois o clube entraria a partir de então em disputas eliminatórias.

Nas fases decisivas, foi tudo muito rápido. Quem jogava na quarta-feira e passava de fase, já estaria decidindo novamente no domingo seguinte (lembrando que as fases eram em jogo único até a semifinal).

Nas quartas de final, como o primeiro colocado enfrentava o segundo de cada grupo, o Palmeiras, líder do grupo B, enfrentou o Santo André, o outro classificado – o Alviverde havia encerrado a primeira fase como líder de seu grupamento e segundo na classificação geral do campeonato, atrás apenas do Red Bull Bragantino. Vale lembrar que os times ainda vivos na competição melhores pontuados na primeira fase tinham o direito de decidir em casa as quartas de final, e assim sucessivamente.

No sufoco, o Palmeiras conseguiu superar o Santo André após partida tensa no Allianz Parque. O time do ABC jogou praticamente a partida toda na retranca. Mesmo a maior parte do tempo no ataque, o Verdão não via seu gol sair e, após os 40 minutos do segundo tempo, a cada instante que se passava, parecia ainda mais que a vaga para a semifinal seria decidida nos pênaltis. Finalmente, porém, veio a redenção aos 42 do segundo tempo, com Felipe Melo, que foi feliz ao conseguir subir para cabecear bola oriunda de escanteio cobrado por Lucas Lima, A bola ainda desviou no zagueiro Rodrigo, do time andreense, e impossibilitou que o goleiro Ivan chegasse.

Surpreendentemente, quando tudo parecia resolvido na bacia das almas, Marcos Rocha, aos 48 minutos, aproveitou rebote do chute de Zé Rafael, após lançamento recebido pelo camisa 8 de Luiz Adriano, e não desperdiçou: dominou e empurrou a redonda para dentro da rede.

Na semifinal, o Palmeiras – melhor pontuado entre os times que chegaram até essa fase – enfrentou a Ponte Preta, novamente no Allianz Parque, e abriu a contagem por 1 a 0, com belo gol de Patrick de Paula, aos 45 minutos do primeiro tempo – o volante chutou com classe de canhota, de fora da área, após longo lançamento de Ramires do meio de campo, e foi certeiro, não dando chance ao arqueiro Ivan, que vinha salvando a Macaca. No segundo tempo, o Alviverde também foi superior, mas o nível do duelo acabou decaindo e a partida esfriou moderadamente. Weverton chegou a fazer boa defesa em uma tentativa de Roger e Gustavo Scarpa carimbou o travessão adversário, mas só ficou nisso. Desta forma, o Verdão foi à final contra o Corinthians, que havia jogado horas antes contra o Mirassol e já estava assegurado na final.

Contra o Corinthians, no jogo de ida, em Itaquera, os times empataram sem gols na quarta-feira à noite (05/08), com destaque para grande atuação do goleiro Weverton, que foi fundamental para que o Palmeiras não chegasse em desvantagem à partida decisiva em sua casa: ele fez duas defesas difíceis no primeiro tempo, sendo a segunda delas um verdadeiro milagre! O lance salvador aconteceu aos 30 minutos de bola rolando. Após o corintiano Luan cruzar e Jô resvalar na bola, Mateus Vital aproveitou a sobra para chutar de pé direito, com força, e ver o camisa 1 do Verdão se esticar completamente para, no tempo perfeito, espalmar a bola com a ponta dos dedos, evitando o que seria um gol certo.

Além disso, não ter perdido para o Corinthians naquele jogo de ida também significava manter sua superioridade numérica em confrontos gerais de Derbys, que até antes daquele clássico era de uma vitória a mais sobre o rival em 373 duelos disputados (131 triunfos do Alviverde e 130 do Alvinegro, além de outros 112 empates).

De camisa verde, calção branco e meião verde, a Sociedade Esportiva Palmeiras foi a campo no sábado (08/08), assim como em 12/06/1993, para enfrentar o rival Corinthians pela partida da final do Campeonato Paulista de 2020. O palco do confronto do jogo de volta, desta vez, foi o Allianz Parque – mesmo palco e mesmo adversário da final do Paulista de 2018, cujo desfecho o torcedor precisava superar o trauma. O time precisava vingar aquele sabor amargo!

Com um primeiro tempo lento, poucas chances foram criadas para ambos os lados. A principal delas, porém, favoreceu o lado palmeirense, com Willian, logo nos minutos iniciais, que obrigou Cássio a fazer boa intervenção. Mas no segundo tempo, logo aos três minutos, Luiz Adriano abriu a contagem de cabeça, após ótimo cruzamento do lateral-esquerdo uruguaio Matías Viña e, com isso, o Alviverde passou a levar vantagem.

Com a maior parte do tempo sob a posse de bola, o time de Luxemburgo não se encolheu diante das movimentações corintianas e seguiu atacando o rival. Nos minutos finais, certa pressão tomou conta do Allianz Parque vazio – um gol, àquela altura, levaria o jogo para os penais, e era tudo o que o Palmeiras não queria.

No entanto, foi exatamente o que aconteceu: Gustavo Gómez – que vinha sendo um dos melhores jogadores em campo durante os 90 minutos –, aos 50 minutos do segundo tempo (ou seja, na última bola do jogo), na tentativa de afastar o perigo a qualquer custo, acabou derrubando Jô na área e, com isso, o árbitro Luiz Flávio de Oliveira assinalou penalidade máxima, batida e convertida pelo próprio Jô (Weverton ainda tocou na pelota, mas não conseguiu evitar).

A partir daí, o clima de tensão, desespero e pessimismo tomou conta de grande parte da torcida alviverde que não pôde estar no Allianz Parque naquele dia. Cada um dos 18 milhões de palmeirenses espalhados pelo mundo, nesse momento, viram desabar um título que estava a apenas dez segundos de ser conquistado! Enquanto isso, o time corintiano agia em campo como se já tivesse conquistado, como se não houvesse outro desfecho possível para a história.

Foi aí que brilhou a estrela de Weverton, goleiro campeão olímpico pela Seleção Brasileira em 2016, que ajudou o time a decidir nos penais, mostrou o resultado de seu trabalho e esbanjou reflexo, acertando todos os cantos em que os jogadores adversários chutaram. Weverton já começou pegando logo a primeira cobrança do Corinthians, batida por Michel; na primeira do Palmeiras, no entanto, batida por Bruno Henrique, Cássio defendeu. Novamente a tensão estava no ar. Após algumas cobranças com ambos os times convertendo, Weverton defendeu mais uma! Pegou o pênalti de Cantillo.

A partir de então, o Verdão não desperdiçou mais nenhuma, cabendo ao jovem valor da base (promovido ao time principal no início de 2020, ao lado de outros jovens destaques), Patrick de Paula, cobrar o penal derradeiro. Com muita personalidade, o camisa 5, de pé esquerdo, chutou alto, no canto direito, com muita força, sem dar a mínima condição de defesa à Cássio. E assim, da forma mais dramática e cruel de vingar 2018, o Palmeiras sagrou-se o grande campeão paulista de 2020!

Esta foi a 8ª disputa de penalidades de classificação ou obtenção de título entre Palmeiras e Corinthians. Com o triunfo do Alviverde naquele sábado, o retrospecto após esse título ficou novamente equilibrado: 4 a 4. O Verdão superou o rival nos pênaltis em 1999 (quartas da Libertadores), 2000 (semi da Libertadores), 2015 (semi do Paulista e 2020 (final do Paulista); já o rival levou a melhor em 1970 (semi do Torneio Quadrangular de São José dos Campos), 1998 (semifinal do Torneio Maria Quitéria), 2011 (semi do Paulista) e 2018 (final do Paulista). Portanto, de vitórias em competições de fato relevantes em penais o saldo é de 4 a 2 para o Palmeiras.

Levando em conta apenas o período Allianz Parque (reformado e inaugurado com essa configuração em 2014), este foi o terceiro título conquistado no local. Antes disso, em sua casa nova, o Palmeiras sagrou-se campeão da Copa do Brasil de 2015, sob o comando de Marcelo Oliveira, contra o Santos (vitória por 2 a 1 e título nos pênaltis) e do Brasileirão de 2016, no time dirigido por Cuca, contra a Chapecoense (37ª rodada). Entretanto, vale destacar que o troféu do Brasileirão de 2018, cujo título foi conquistado na 37ª rodada do Nacional daquele ano diante do Vasco, no São Januário, fora erguido no Allianz Parque, na última rodada (triunfo por 3 a 1 sobre o Vitória-BA).

Devido às medidas de combate ao novo coronavírus, esta foi a primeira vez na história que o campo do Parque Antarctica, um dos palcos do Derby desde 1917, recebeu o clássico mais tradicional da cidade com portões fechados para a torcida. Esta foi a primeira vez em que o Palmeiras ergueu um troféu sem público nas arquibancadas.

Com a campanha campeã, o Palmeiras foi também o dono da melhor defesa, com apenas sete gols sofridos, sendo seis na primeira fase (parâmetro justo de comparação, pois é quando todos os times jogam o mesmo número de vezes: 12) – algo que se repete, em Paulistas, pela 4ª vez seguida: foi assim também em 2017 (oito gols sofridos), 2018 (outros oito) e 2019 (cinco), sempre levando em conta o número de gols sofridos na primeira fase.

Vale destacar ainda que, dentro de sua casa, o Palmeiras passou ileso no Campeonato Paulista 2020: foram nove jogos, com seis vitórias e três empates, sendo sete jogos no Allianz Parque, com cinco vitórias (Mirassol, Guarani, Água Santa, Santo André e Ponte Preta) e dois empates (Ferroviária e Corinthians); um duelo na Arena da Fonte Luminosa (empate contra o São Paulo); e outro jogo no Pacaembu (vitória sobre o Oeste).

Campanha:
Jogos: 16 (8 vitórias, 6 empates e 2 derrotas)
Gols marcados: 21
Gols sofridos: 7

Jogo decisivo:
Palmeiras 1 (4) x (3) 1 Corinthians
Campeonato Paulista 2020 (Final – 2º jogo)
Data: 08/08/2020
Estádio: Allianz Parque. São Paulo-SP
Público: Portões fechados (pandemia da Covid-19)
Árbitro: Luiz Flávio de Oliveira (SP)
Cartões amarelos: Lucas Lima, Patrick de Paula e Rony (PAL); Gabriel, Gil e Cantillo (COR)
Gols: Luiz Adriano (4’ do 2ºT-PAL) e Jô (51′ do 2ºT-COR).
Pênaltis: Raphael Veiga, Gustavo Scarpa, Lucas Lima e Patrick de Paula (PAL); Danilo Avelar, Sidcley e Jô (COR)

Palmeiras: Weverton; Marcos Rocha, Felipe Melo, Gustavo Gómez e Viña; Patrick de Paula, Gabriel Menino (Rony, no intervalo) e Ramires (Bruno Henrique, no intervalo); Willian (Lucas Lima, aos 39’/2ºT), Zé Rafael (Raphael Veiga, aos 30’/2ºT) e Luiz Adriano (Gustavo Scarpa, aos 31’/2ºT). Técnico: Vanderlei Luxemburgo.

Corinthians: Cássio; Fagner (Michel Macedo, aos 25’/2ºT), Gil, Danilo Avelar e Carlos Augusto (Sidcley, aos 35’/2ºT); Gabriel (Cantillo, aos 13’/2ºT) e Éderson; Ramiro (Araos, 13’/2ºT), Luan e Mateus Vital (Everaldo, no intervalo); Jô. Técnico: Tiago Nunes.

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