Há 45 anos, Julio Botelho se despedia dos campos de futebol
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Bruno Alexandre Elias
Há quem diga que o melhor camisa 7 da história do Palmeiras foi o atacante Edmundo, que se destacou nos anos 90 e sempre é lembrado pela personalidade forte e pela técnica acima da média. Outros, porém, não escondem a admiração pelo carismático meia Jorginho, titular absoluto nos anos 80 e que batia faltas e escanteios com rara precisão. Edu Bala, o velocista ponta-direita da Segunda Academia na década 70, também tem um lugar cativo nos corações palmeirenses. Mas os mais antigos não têm dúvida: o maior de todos foi Julio Botelho, o tímido Julinho, que se integrou à equipe alviverde em 1958 já com status de ídolo.
Julinho, aliás, é considerado um dos mais brilhantes pontas da história do futebol mundial. Revelado pelo Juventus, da Mooca, foi contratado pela Portuguesa após apenas seis meses como profissional e faturou os dois títulos mais importantes da história do clube do Canindé, os Torneios Rio-São Paulo de 1952 e 1955. Em seguida, foi para a Fiorentina-ITA e, logo em sua temporada de estreia, conduziu a equipe toscana ao seu primeiro título italiano (1955-56). Nas duas temporadas seguintes, foi duas vezes vice-campeão italiano (1956-57 e 1957-58) e uma vez vice-campeão europeu (1956-57).
Eleito um dos principais jogadores da Copa do Mundo de 1954 mesmo com a seleção brasileira sendo eliminada nas quartas de final, Julinho dispensou a convocação para a Copa de 1958 por achar injusto que um atleta que estivesse atuando no exterior ficasse com a vaga de alguém que atuasse no Brasil. A ligação com a pátria, inclusive, fez com que o camisa 7 recusasse propostas milionárias de clubes europeus (entre eles o Real Madrid-ESP) e optasse por voltar ao país logo depois da Copa.
Foi então que os caminhos de Julinho e Palmeiras se cruzaram. O time do Palestra Itália não ganhava uma taça desde 1951 e passava por uma reformulação – além do camisa 7, foram contratados Valdir Joaquim de Moraes, Djalma Santos, Geraldo Scotto, Zequinha, Ênio Andrade, Américo, Nardo, Chinesinho e Romeiro, entre outros. Começava ali a se formar o esquadrão que ficou imortalizado como “A Primeira Academia”. E a consagração veio já em 1959. Na verdade, um pouco depois.
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Palmeiras e Santos chegaram ao final do Campeonato Paulista de 1959, em dezembro, empatados na primeira posição da tabela. Com isso, foi marcada para janeiro de 1960 uma melhor de três partidas para definir quem ficaria com o troféu. Nos dois primeiros duelos, dois empates: 1 a 1 (gols de Zequinha para o Verdão e Pelé para o Santos) e 2 a 2 (gols de Getúlio e Chinesinho para o Verdão e dois de Pepe para o Santos). Aumentava, assim, a dramaticidade e o grau de relevância da competição, que passara a ser chamar “Supercampeonato Paulista”.
O derradeiro jogo foi disputado no dia 10 de janeiro, no Pacaembu. Logo aos 13min, Pelé abriu o placar para o Santos. Aos 32min, o zagueiro santista Formiga tentou rebater a bola cruzada por Romeiro e acabou deixando-a de graça para Julinho, então capitão do time alviverde, empatar. No segundo tempo, em cobrança de falta aos 3min, o golpe final de Romeiro selou o fim da fila palmeirense.
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Depois daquele título, vieram outros memoráveis confrontos com o Santos nos anos 60. O time da Vila Belmiro só não faturou todos os títulos estaduais da década porque o Palmeiras se impôs diante dos alvinegros em 1963 e 1966. Em âmbito regional e nacional, Julinho comandou ainda o Verdão na conquista do primeiro título brasileiro do clube (a Taça Brasil de 1960) e do Torneio Rio-São Paulo de 1965.
Também em 1965, Julinho participou de um dos jogos mais marcantes da história do Palmeiras. Para celebrar a inauguração do estádio Magalhães Pinto, popularmente conhecido como Mineirão, a CBD (antiga CBF) escolheu o Verdão para representar a seleção brasileira, do goleiro ao ponta-esquerda, do técnico ao massagista, inclusive os reservas. O adversário era a seleção do Uruguai, uma das mais fortes do mundo na época, e o Palmeiras (Brasil) venceu por 3 a 0, gols de Rinaldo (pênalti), Tupãzinho e Germano.
Após um ano conturbado em 1966, quando sofreu com lesões, Julinho deixou os gramados definitivamente no dia 12 de fevereiro de 1967. A despedida foi contra o Naútico, no Palestra Itália, com vitória alviverde por 1 a 0. Naquele domingo, o ponta-direita foi acolhido com muito carinho pelos torcedores emocionados, que gritavam seu nome, estiravam faixas e faziam muito barulho. Também, não era para menos. Julinho disputou 269 partidas pelo Palmeiras, acumulando 163 vitórias, 53 derrotas e 53 empates. Além dos cinco títulos conquistados, balançou as redes adversárias 81 vezes.