Um batalhador. Jogador que não media esforços para defender o Palestra Italia. Entregava tudo dentro de campo. Lutava com a alma e o coração. Assim foi a passagem de Bertolini pelo Verdão. Mais do que isso: ele chegou em maio de 1916 e ajudou a criar a nossa identidade. Fundado menos de dois anos antes de sua chegada, o Palestra tinha na figura de Bertolini e de outros heróis naquele início a busca por protagonismo. Era algo que aconteceria inevitavelmente.
O Palestra Italia foi o primeiro time que teve uma torcida apaixonada. O futebol, antes, era visto com certo distanciamento. Era como um espetáculo. O público comparecia aos campos para admirar o talento dos atletas. Mas, além da qualidade dos craques, nossa torcida tinha uma forte identidade com as raízes do clube. Ver o Palestra era como torcer também por coisas que ficaram para trás, em outro continente, aliado ao sonho com o futuro. Sempre foi uma família. Mais do que um time de futebol.
Esse é o contexto representado por Bertolini. Um marcador incansável que contagiava o público. Seguro e sólido, atuava de forma simples e sem exibição artística. Caiu nas graças. Virou sinônimo de representatividade. Era o que os palestrinos buscavam, afinal. Ao mesmo tempo, tinha personalidade calma e serenidade. Antes, durante e após os confrontos.
Bertolini superou a distância para ter sucesso no Palestra Italia. Morador de Jundiaí, contou com uma modalidade contratual um tanto quanto inusitada para defender a equipe esmeraldina: ele tinha um acordo com a diretoria da agremiação no qual raramente comparecia aos treinos na capital – tendo sido uma das poucas exceções da história do clube nesse aspecto – e, ainda assim, tinha vaga assegurada dentre os onze palestrinos, tamanha era a confiança da agremiação em sua qualidade técnica.
O Palestra sabia em quem estava confiando. Bertolini iniciara a sua vida esportiva em 1903 e, àquela altura, experiente, já havia disputado a 1ª Divisão do Campeonato Paulista pelo Ginásium Hydecroft, e acumulava passagens pelo Corinthians de Jundiaí, São João e Paulista de Jundiaí – de onde se transferiu ao Palestra em 1916. Foi um verdadeiro precursor, e sua história se mistura com o advento do futebol no país. Em termos de relevância para o esporte no período em que atuou, não seria exagero em compará-lo a nomes como os de Friedenreich, Heitor, Bianco, Neco, Formiga, Mario de Andrade, Tatu, Primo, Ministro, dentre outros.
Já como jogador do Verdão, o defensor encontrou a primeira vitória logo na estreia: 3 a 2 sobre o Ypiranga, pelo Campeonato Paulista de 1916, sendo essa também a primeira vitória da história do Palmeiras em uma competição oficial – no jogo anterior, quando estreou pelo Paulista, o Palestra empatara em 1 a 1 com o Mackenzie.
“Papa-capim”, como também era conhecido no meio futebolístico, foi protagonista em diversos momentos emblemáticos da história do Verdão: foi um dos onze a ter estado em campo no primeiro Derby da história, em 3 de maio de 1917, vitória do Palestra por 3 a 0 sobre o Corinthians pelo Campeonato Paulista, com hat-trick de Caetano Izzo; dias antes, em 21 de abril, havia atuado no primeiro jogo do Verdão no Parque Antarctica (vitória por 5 a 1 sobre o Internacional da Capital, pelo Campeonato Paulista), local que, mais tarde, em 1920, viria a ser adquirido pelo Palestra.
Aliás, no dia 16 de maio de 1920, o atleta também esteve presente na goleada por 7 a 0 sobre o Mackenzie, pelo Campeonato Paulista, no Parque Antarctica – desta vez, sendo o primeiro jogo do time esmeraldino como proprietário dessa praça esportiva. E não acaba por aí! Ao final daquela temporada de 1920, no dia 19 de dezembro, o jogador, a exemplo do que vinha fazendo durante toda aquela campanha, também foi imprescindível na final contra o poderoso Paulistano, na Chácara da Floresta, jogo que valeu o Campeonato Paulista de 1920 ao Palestra Italia (sendo este, inclusive, o primeiro título da história do Maior Campeão do Brasil, com vitória por 2 a 1).
Na campanha do primeiro título do Verdão, inclusive, formou uma das linhas médias dignas de menção em qualquer livro sobre a história do futebol, ao lado de Picagli e Fabbi. Depois, o Palestra contou com outras linhas médias memoráveis: Tunga, Dula e Tuffy; Pepe, Goliardo e Serafini; OG, Dacunto e Gengo. Mas aquela foi a primeira de todas e igualmente eficiente.
Além do Paulista de 1920, acumulou, pelo time palestrino, os vice-campeonatos estaduais em 1917, 1919, 1921, 1922 e 1923, e, enquanto atleta do Verdão, ainda foi cedido diversas vezes para defender a Seleção Paulista, pela qual se sagrou campeão brasileiro em 1922! O jogador permaneceu no Palestra até 1925, mas ainda continuou no futebol até 1928. Ao final da carreira como jogador, chegou até a ser técnico da equipe palestrina, em 1931. Na pós-carreira, também se dedicou à arbitragem, tendo apitado partidas oficiais do Campeonato Paulista nos anos 20 e 30. Virou nome de rua em sua cidade natal.
Meio-campista, porém com características defensivas, ele demorou para marcar o seu primeiro gol (foram quatro pelo clube ao todo, em 189 jogos). O primeiro tento só aconteceu em novembro de 1921, na vitória por 6 a 1 diante do Santos, pelo estadual. Mas não era o que se esperava de Américo Bertolini, afinal, seus gols eram os desarmes. E eram muitos.
Engana-se quem pensa que as contribuições de Bertolini se encerraram dentro das quatro linhas. Um de seus maiores legados ao Alviverde, além, é claro, das infinitas contribuições dentro de campo, foi já depois de aposentado! Na ocasião, Bertolini intermediou a vinda de ninguém menos que Romeu Pellicciari ao Palestra, em 1930. Após superar a idade permitida para atuar pelo Barranco, o talentoso atacante Romeu se transferiu para o São João, então melhor time de Jundiaí. Seus dribles curtos, capazes de entortar os adversários, chamaram a atenção do ex-jogador conterrâneo, que não só indicou o jovem de 19 anos ao time do Parque Antarctica como também teve um papel preponderante para convencer a família a autorizar a ida a São Paulo daquele que viria a se tornar um dos maiores ídolos da história do Palestra (e depois Palmeiras) e um dos principais artilheiros da história do clube até os dias atuais. Isso porque Romeu Pellicciari era ainda muito jovem. Desta forma, o prodígio resolveu aceitar o convite palestrino e, com a anuência de seus familiares, deu início à sua vitoriosa trajetória no Maior Campeão do Brasil. Bertolini permaneceu através de Romeu. E segue vivo na nossa lembrança.
Ao final de sua passagem que perdurou dez temporadas no Palestra Italia (1916 a 1925), o jogador acumulou 189 partidas pelo clube. Com esse número, até os dias atuais ele figura na lista dos 100 jogadores que mais defenderam o Verdão em todos os tempos, na 93ª colocação. Mas, curiosamente, esses mesmos 189 jogos, ao final da temporada de 1925, lhe credenciavam como o Top 3 do Palestra em número de partidas até aquele momento da história esmeraldina, só atrás de Heitor (218) e de Bianco (227 até o fechamento de 1925). Por si só, isso demonstra o tamanho de Bertolini na história do Palestra Italia, dado o contexto do período em que defendeu a agremiação esmeraldina e, por isso, o eterno ídolo tem lugar cativo na galeria de craques do Maior Campeão do Brasil para toda a posteridade.
Posição: Volante
Número de temporadas: 10
Clube anterior: Paulista de Jundiaí-SP
Jogos:
189 (127 vitórias, 27 empates e 35 derrotas)
Estreia: Palestra Italia 3x2 Ypiranga (28/05/1916)
Último jogo: Palestra Italia 2x0 Vasco da Gama-RJ (15/08/1925)
Gols: 4
Primeiro gol: Palestra Italia 6x1 Santos (20/11/1921)
Último gol: Palestra Italia 1x4 Corinthians (08/07/1923)
Principais títulos:
Campeonato Paulista em 1920
Um batalhador. Jogador que não media esforços para defender o Palestra Italia. Entregava tudo dentro de campo. Lutava com a alma e o coração. Assim foi a passagem de Bertolini pelo Verdão. Mais do que isso: ele chegou em maio de 1916 e ajudou a criar a nossa identidade. Fundado menos de dois anos antes de sua chegada, o Palestra tinha na figura de Bertolini e de outros heróis naquele início a busca por protagonismo. Era algo que aconteceria inevitavelmente.
O Palestra Italia foi o primeiro time que teve uma torcida apaixonada. O futebol, antes, era visto com certo distanciamento. Era como um espetáculo. O público comparecia aos campos para admirar o talento dos atletas. Mas, além da qualidade dos craques, nossa torcida tinha uma forte identidade com as raízes do clube. Ver o Palestra era como torcer também por coisas que ficaram para trás, em outro continente, aliado ao sonho com o futuro. Sempre foi uma família. Mais do que um time de futebol.
Esse é o contexto representado por Bertolini. Um marcador incansável que contagiava o público. Seguro e sólido, atuava de forma simples e sem exibição artística. Caiu nas graças. Virou sinônimo de representatividade. Era o que os palestrinos buscavam, afinal. Ao mesmo tempo, tinha personalidade calma e serenidade. Antes, durante e após os confrontos.
Bertolini superou a distância para ter sucesso no Palestra Italia. Morador de Jundiaí, contou com uma modalidade contratual um tanto quanto inusitada para defender a equipe esmeraldina: ele tinha um acordo com a diretoria da agremiação no qual raramente comparecia aos treinos na capital – tendo sido uma das poucas exceções da história do clube nesse aspecto – e, ainda assim, tinha vaga assegurada dentre os onze palestrinos, tamanha era a confiança da agremiação em sua qualidade técnica.
O Palestra sabia em quem estava confiando. Bertolini iniciara a sua vida esportiva em 1903 e, àquela altura, experiente, já havia disputado a 1ª Divisão do Campeonato Paulista pelo Ginásium Hydecroft, e acumulava passagens pelo Corinthians de Jundiaí, São João e Paulista de Jundiaí – de onde se transferiu ao Palestra em 1916. Foi um verdadeiro precursor, e sua história se mistura com o advento do futebol no país. Em termos de relevância para o esporte no período em que atuou, não seria exagero em compará-lo a nomes como os de Friedenreich, Heitor, Bianco, Neco, Formiga, Mario de Andrade, Tatu, Primo, Ministro, dentre outros.
Já como jogador do Verdão, o defensor encontrou a primeira vitória logo na estreia: 3 a 2 sobre o Ypiranga, pelo Campeonato Paulista de 1916, sendo essa também a primeira vitória da história do Palmeiras em uma competição oficial – no jogo anterior, quando estreou pelo Paulista, o Palestra empatara em 1 a 1 com o Mackenzie.
“Papa-capim”, como também era conhecido no meio futebolístico, foi protagonista em diversos momentos emblemáticos da história do Verdão: foi um dos onze a ter estado em campo no primeiro Derby da história, em 3 de maio de 1917, vitória do Palestra por 3 a 0 sobre o Corinthians pelo Campeonato Paulista, com hat-trick de Caetano Izzo; dias antes, em 21 de abril, havia atuado no primeiro jogo do Verdão no Parque Antarctica (vitória por 5 a 1 sobre o Internacional da Capital, pelo Campeonato Paulista), local que, mais tarde, em 1920, viria a ser adquirido pelo Palestra.
Aliás, no dia 16 de maio de 1920, o atleta também esteve presente na goleada por 7 a 0 sobre o Mackenzie, pelo Campeonato Paulista, no Parque Antarctica – desta vez, sendo o primeiro jogo do time esmeraldino como proprietário dessa praça esportiva. E não acaba por aí! Ao final daquela temporada de 1920, no dia 19 de dezembro, o jogador, a exemplo do que vinha fazendo durante toda aquela campanha, também foi imprescindível na final contra o poderoso Paulistano, na Chácara da Floresta, jogo que valeu o Campeonato Paulista de 1920 ao Palestra Italia (sendo este, inclusive, o primeiro título da história do Maior Campeão do Brasil, com vitória por 2 a 1).
Na campanha do primeiro título do Verdão, inclusive, formou uma das linhas médias dignas de menção em qualquer livro sobre a história do futebol, ao lado de Picagli e Fabbi. Depois, o Palestra contou com outras linhas médias memoráveis: Tunga, Dula e Tuffy; Pepe, Goliardo e Serafini; OG, Dacunto e Gengo. Mas aquela foi a primeira de todas e igualmente eficiente.
Além do Paulista de 1920, acumulou, pelo time palestrino, os vice-campeonatos estaduais em 1917, 1919, 1921, 1922 e 1923, e, enquanto atleta do Verdão, ainda foi cedido diversas vezes para defender a Seleção Paulista, pela qual se sagrou campeão brasileiro em 1922! O jogador permaneceu no Palestra até 1925, mas ainda continuou no futebol até 1928. Ao final da carreira como jogador, chegou até a ser técnico da equipe palestrina, em 1931. Na pós-carreira, também se dedicou à arbitragem, tendo apitado partidas oficiais do Campeonato Paulista nos anos 20 e 30. Virou nome de rua em sua cidade natal.
Meio-campista, porém com características defensivas, ele demorou para marcar o seu primeiro gol (foram quatro pelo clube ao todo, em 189 jogos). O primeiro tento só aconteceu em novembro de 1921, na vitória por 6 a 1 diante do Santos, pelo estadual. Mas não era o que se esperava de Américo Bertolini, afinal, seus gols eram os desarmes. E eram muitos.
Engana-se quem pensa que as contribuições de Bertolini se encerraram dentro das quatro linhas. Um de seus maiores legados ao Alviverde, além, é claro, das infinitas contribuições dentro de campo, foi já depois de aposentado! Na ocasião, Bertolini intermediou a vinda de ninguém menos que Romeu Pellicciari ao Palestra, em 1930. Após superar a idade permitida para atuar pelo Barranco, o talentoso atacante Romeu se transferiu para o São João, então melhor time de Jundiaí. Seus dribles curtos, capazes de entortar os adversários, chamaram a atenção do ex-jogador conterrâneo, que não só indicou o jovem de 19 anos ao time do Parque Antarctica como também teve um papel preponderante para convencer a família a autorizar a ida a São Paulo daquele que viria a se tornar um dos maiores ídolos da história do Palestra (e depois Palmeiras) e um dos principais artilheiros da história do clube até os dias atuais. Isso porque Romeu Pellicciari era ainda muito jovem. Desta forma, o prodígio resolveu aceitar o convite palestrino e, com a anuência de seus familiares, deu início à sua vitoriosa trajetória no Maior Campeão do Brasil. Bertolini permaneceu através de Romeu. E segue vivo na nossa lembrança.
Ao final de sua passagem que perdurou dez temporadas no Palestra Italia (1916 a 1925), o jogador acumulou 189 partidas pelo clube. Com esse número, até os dias atuais ele figura na lista dos 100 jogadores que mais defenderam o Verdão em todos os tempos, na 93ª colocação. Mas, curiosamente, esses mesmos 189 jogos, ao final da temporada de 1925, lhe credenciavam como o Top 3 do Palestra em número de partidas até aquele momento da história esmeraldina, só atrás de Heitor (218) e de Bianco (227 até o fechamento de 1925). Por si só, isso demonstra o tamanho de Bertolini na história do Palestra Italia, dado o contexto do período em que defendeu a agremiação esmeraldina e, por isso, o eterno ídolo tem lugar cativo na galeria de craques do Maior Campeão do Brasil para toda a posteridade.