Assim como aconteceu em 2022, o Palmeiras conquistou em 2023 o principal título do futebol nacional, desta vez o 12ª de sua história, ampliando a hegemonia que o faz ser o Maior Campeão do Brasil. A confirmação de mais uma façanha alviverde veio com o empate por 1 a 1 com o Cruzeiro, no Mineirão, pela 38ª rodada do Campeonato Brasileiro.
A trajetória do campeão ficará marcada como uma das reviravoltas mais incríveis de todos os tempos no país. Líder por 31 rodadas, o Botafogo encerrou o primeiro turno com 13 pontos de vantagem sobre o Palmeiras, então terceiro colocado. E o time carioca ainda chegou a abrir 14 pontos da equipe paulista, na 15ª e na 27ª rodada (o Verdão estava, respectivamente, em sexto e em quinto lugar). Àquela altura, faltando 11 rodadas para o fim, o Palmeiras perdeu o meio-campista titular Gabriel Menino por grave lesão no tornozelo direito, e desde a 21ª rodada não contava mais com o atacante Dudu, ídolo e referência do time, que rompera os ligamentos do joelho direito.
A Virada Histórica começou a ganhar força na 29ª rodada, quando o Palmeiras atropelou o São Paulo por 5 a 0 (repetindo a maior goleada já aplicada sobre o rival, registrada pela Primeira Academia de 1965) e diminuiu a diferença para nove pontos em relação ao Botafogo, que tinha uma partida a menos. Na 30ª, ainda com um jogo a mais que os cariocas, a desvantagem caiu para seis pontos.
O jogo-chave para o título aconteceu na 31ª rodada. Era o confronto com o próprio Botafogo, no Estádio Nilton Santos lotado. Empolgados, os donos da casa partiram para cima desde os primeiros minutos e foram para o intervalo com 3 a 0 no placar. Foi quando começou a brilhar a estrela de Endrick. A Cria da Academia, com apenas 17 anos, fez o que se acostumou a fazer nos campeonatos de base, quando jogava sempre nas categorias acima da sua idade: chamou o jogo para si, pediu a bola e comandou a remontada alviverde.
Mas ainda havia drama pela frente. Após Endrick marcar o primeiro gol do Verdão, o Botafogo teve um pênalti a seu favor, aos 37 minutos do segundo tempo. Os cariocas, portanto, poderiam fazer 4 a 1 e colocar nove pontos de vantagem na tabela de classificação. E com um jogo a menos! Tiquinho Soares, então artilheiro do campeonato, bateu firme no canto direito, mas Weverton se esticou para fazer uma linda defesa e recolocar o Verdão no jogo. Na sequência, aos 38, Endrick marcou mais um e diminuiu para 3 a 2. Aos 40, o técnico Abel Ferreira abriu mão do esquema com três zagueiros e colocou o atacante Flaco López no lugar de Luan. E foi López, aos 43, quem aproveitou passe de Gustavo Gómez, após cruzamento de Endrick, para deixar tudo igual no placar.
A noite mágica teve seu capítulo final no crepúsculo da partida. Quando o árbitro sinalizou nove minutos de acréscimo, o Palmeiras já não dava mais respiro para o rival. O empate, dada as circunstâncias, poderia parecer bom. Mas o espírito resiliente dos comandados de Abel Ferreira, que se acostumaram a ter cabeça fria e coração quente para brigar até a última bola, levou a equipe a conquistar a maior virada da história do clube. Gol de Murilo, aos 53 minutos, completando uma cobrança de falta de Raphael Veiga.
Mais uma vez, a Terceira Academia alcançava um feito obtido apenas pela Primeira, que no Campeonato Paulista de 1965 bateu a Ferroviária por 4 a 3 depois de ir para o intervalo com três gols de desvantagem. Naquela ocasião, o Verdão também marcou três vezes após os 37 minutos do segundo tempo. O jogo, porém, foi no Parque Antarctica, e não na casa do adversário, por um campeonato estadual, e não nacional. E não contra o líder do campeonato! Líder esse que, agora, tinha apenas três pontos de vantagem na tabela, embora ainda com um jogo a menos.
Na 32ª rodada, o Palmeiras chegou aos mesmos 59 pontos do Botafogo, números que se mantiveram na 33ª. O time carioca, então, disputou o seu jogo atrasado, empatando e indo a 60 pontos. E na 34ª, definitivamente, o Verdão assumiu a ponta com a goleada por 3 a 0 sobre o Internacional e o empate do Botafogo com o RB Bragantino, que também brigava pela liderança. A primeira colocação quase foi parar na mão do Flamengo na 35ª rodada, mas o Palmeiras, mais uma vez, mostrou que não desiste nunca do resultado e buscou um empate contra o Fortaleza mesmo depois de ficar em desvantagem no placar duas vezes, ambas com um jogador a menos.
A goleada por 4 a 0 sobre o América-MG na 36ª e os tropeços de Flamengo (derrota para o Atlético-MG) e Botafogo (empate com o Coritiba) deixaram o Maior Campeão do Brasil com três pontos de vantagem sobre os concorrentes (no caso, Botafogo, Flamengo e agora Atlético-MG, além do Grêmio, com quatro a menos). Diante do Fluminense, na 37ª, nova vitória, mantendo a distância para o Galo e o Rubro-Negro, agora únicos postulantes ao título, e com vantagem no saldo de gols (respectivamente, 8 e 16). Ou seja, na rodada final, só uma tragédia, com derrota alviverde por goleada e vitória de um dos concorrentes também por goleada, tiraria o troféu do Palestra.
Não foi o que aconteceu. Diante do Cruzeiro, a conquista foi sacramentada com um gol de Endrick, num jogo em que o Verdão foi superior, mas terminou empatado por 1 a 1. O Mineirão, assim, tornou-se o sexto palco diferente de um título brasileiro do Palmeiras, juntando-se a Allianz Parque, Morumbi, Pacaembu e Maracanã.
Neste Brasileiro de 2023, o Palmeiras obteve o segundo maior número de vitórias (20, atrás apenas do Grêmio, com 21), o menor número de derrotas (oito), o melhor saldo de gols (31), o melhor ataque (64), a maior pontuação como mandante (44, ao lado do Grêmio) e a melhor defesa como mandante. Com isso, isolou-se como clube que mais vezes terminou o campeonato com mais gols marcados: oito edições (1967, 1993, 1994, 2016, 2017, 2018, 2022 e 2023), superando Atlético-MG, Cruzeiro, Flamengo e Santos, com sete.
Campanha
38 jogos (20 vitórias, 10 empates e 8 derrotas)
64 gols marcados
33 gols sofridos
Jogo decisivo
Cruzeiro 1×1 Palmeiras
Campeonato Brasileiro 2023 (38ª rodada)
Data: 6 de dezembro de 2023 (quarta-feira)
Local: Mineirão, Belo Horizonte (MG)
Horário: 21h30
Público: 44.190
Renda: R$ 1.675.735,00
Árbitro: Anderson Daronco (RS)
Cartões amarelos: Richard Ríos (PAL) e Lucas Silva (CRU)
Gols: Endrick (20′ do 1ºT-PAL) e Nikão (34′ do 2ºT-CRU)
Cruzeiro: Rafael Cabral; William, João Marcelo, Luciano Castán e Marlon (Kaiki Bruno); Ian Luccas (Fernando Henrique), Lucas Silva (Nikão), Japa e Matheus Pereira; Arthur Gomes (Robert) e Bruno Rodrigues. Técnico: Paulo Autuori.
Palmeiras: Weverton; Marcos Rocha, Gustavo Gómez e Murilo; Mayke (Estêvão), Zé Rafael (Fabinho), Richard Ríos (Atuesta), Raphael Veiga e Vanderlan; Breno Lopes (Artur) e Endrick (Flaco López). Técnico: Abel Ferreira.