Derrota na final da Copa do Mundo de 1950 no Maracanã e o complexo de vira-lata
Interessado em sediar o maior torneio de seleções do mundo desde 1938, o Brasil tinha como concorrente a Alemanha, que, devido aos interesses expansionistas em comum com a Itália e o Japão, formou o Eixo com estes países e protagonizou o marco inicial da II Guerra Mundial, em 1939, quando invadiu a Polônia.
Entre 1939 e 1945, vários países europeus, além de EUA, União Soviética e Japão, guerrearam em duas frentes – Eixo e Aliados. Por conta das consequências trazidas pelas batalhas, duas Copas do Mundo deixaram de ser realizadas (1942 e 1946). Além disto, Japão, Itália e Alemanha (países do Eixo) assinaram a rendição em 1945 e tiveram os maiores danos. Semidestruídos, os alemães retiraram a candidatura a país-sede, e o Brasil ganhou a permissão para sediar a Copa de 50.
Os reflexos da Segunda Guerra Mundial foram vistos também nas Eliminatórias. Seleções como Polônia, Hungria e Tchecoslováquia, por exemplo, não possuíam condições por conta do pós-guerra. Das 32 seleções inscritas na seletiva, metade desistiu durante os jogos. Entre as 16, Turquia, Escócia e Índia descartaram as vagas, e o Mundial se iniciou com apenas 13 equipes.

Na primeira fase, o Brasil caiu no Grupo 1, com Iugoslávia, Suíça e México. Passou como primeiro de forma invicta, com duas vitórias e um empate. Os líderes das quatro chaves fizeram o quadrangular final, que contou com Brasil, Espanha, Suécia e Uruguai. As duas sonoras goleadas sobre Suécia (7×1) e Espanha (6×1) empolgaram os brasileiros, que torciam em casa e confiavam no título inédito da Canarinho.
A Seleção Brasileira tinha a vantagem do empate para se sagrar campeã do mundo pela primeira vez. Ao Uruguai, só a vitória interessava. Naquele dia 16 de julho, a euforia, que já fazia parte do semblante da torcida verde e amarela, tomou conta do Maracanã – especialmente construído para a competição – no primeiro minuto do segundo tempo de jogo, quando Friaça abriu o placar para a Canarinho. No entanto, a felicidade durou apenas 20 minutos: aos 21, Schiaffino empatou para a Celeste, e, aos 34, Ghiggia virou a partida e realizou o improvável. Em meio à “inaceitável” celebração uruguaia do bicampeonato, o silêncio nas alamedas do estádio era perturbador, sinistro e ensurdecedor: o fantasma chamado Maracanazo acabara de entrar para a história do esporte mundial.
Passado o fatídico 16 de julho de 1950, o futebol brasileiro fora colocado em xeque. O baque evidentemente atingiu a torcida brasileira, que esperava ansiosamente pelo título inédito, mas as marcas da derrota foram muito mais dolorosas nos jogadores que integraram aquele elenco, que carregaram este fardo até o fim de suas vidas. Mesmo com o tropeço, nomes como Ademir – artilheiro da competição com nove gols –, Zizinho e Jair Rosa Pinto, um dos maiores jogadores da história palmeirense e primeiro camisa 10 da Seleção na história das Copas – antes deste torneio, as camisas não possuíam numeração –, poderiam facilmente ser candidatos a melhor jogador do campeonato.
A malandragem dos nossos campos passou a ser contestada por todos, e a tragédia inspirou o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues a citar o chamado “complexo de vira-lata”. “Por ‘complexo de vira-lata’ entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima”.
