Há 65 anos, Palmeiras superou rival histórico e conquistou o Paulistão de 1950
Marcelo Jung
Departamento de Comunicação
Domingo, 28 de janeiro de 1951. Campeonato Paulista, 22ª rodada. Em disputa, o título estadual de 1950. O palco era o estádio do Pacaembu. O adversário, o já rival São Paulo FC. E após arrancar um empate heroico sob liderança de Jair Rosa Pinto, o Palmeiras se sagrou campeão paulista pela 12ª vez.
O torneio começou em agosto de 1950 reunindo as 12 melhores equipes das cidades de Campinas, Piracicaba, Santos e São Paulo. Disputado por pontos corridos em dois turnos, o campeonato foi decidido somente em janeiro do ano seguinte e colocou frente a frente na última rodada os dois postulantes ao título. A rivalidade era gigante. Afinal, Palmeiras e São Paulo monopolizavam o Campeonato Paulista naquela década e brigavam pela hegemonia no estado. O Alviverde vinha de conquistas em 1940, 42, 44 e 47. Enquanto os tricolores levantaram a taça em 1943, 45, 46, 48 e 49.
Além disso, para os palmeirenses se tratava de um adversário emblemático. Não era qualquer um que estava do outro lado. Durante a então recém-terminada Segunda Guerra Mundial, o São Paulo fora responsável por liderar uma ferrenha campanha contra o Palestra Italia. Mesmo com a mudança de nome para Palestra de São Paulo, a perseguição perdurava. “Inimigos da pátria”, “traidores da nação”, “fascistas” eram alguns dos termos utilizados pelos dirigentes são-paulinos para acusar os palestrinos. Até que em 1942, resistindo a todas as pressões, o clube de Parque Antártica ressurgiu em definitivo como Sociedade Esportiva Palmeiras, em episódio conhecido como a Arrancada Heroica, e conquistou o título estadual daquele ano colocando o rival para fugir de campo.
No Paulistão de 1950, o Palmeiras chegou à fase derradeira com um grande desafio. Afinal, em uma época em que as vitórias valiam apenas dois pontos, o time estava três atrás do São Paulo faltando somente três rodadas – o rival do Morumbi precisava de apenas dois triunfos simples para levantar o troféu. No entanto, nos dois jogos seguintes, enquanto o Verdão fez sua parte vencendo XV de Piracicaba (1×0) e Portuguesa Santista (3×0), o São Paulo sucumbiu diante Ypiranga (1×2) e Santos (1×2). Assim, no Choque-Rei decisivo a vantagem do empate se tornou palmeirense.
Como se não bastasse, o destino reservava uma surpresa para apimentar ainda mais a grande decisão. A terra da garoa foi tomada pela chuva. Uma forte tempestade antecedeu a peleja daquele domingo. O gramado foi tão castigado pelo aguaceiro que se tornou um lamaçal. Não é para menos que a partida daquele domingo ficou eternamente conhecida como o Jogo da Lama.
Ainda assim, o juiz Alwin Bradley deu início ao duelo. O São Paulo começou melhor e abriu o placar com Teixeirinha, logo aos 4 minutos do primeiro tempo. A partir dali, o meio-de-campo tricolor composto por Rui, Bauer e Noronha mostrou-se eficiente na tarefa de segurar a forte criação ofensiva do Verdão e garantiu a vantagem mínima até o intervalo.
Foi neste instante que o genial Jair Rosa Pinto fez a diferença. Figura central na armação de jogo do Palmeiras na década de 50, contava com muita qualidade nos passes e lançamentos, além de cobrar faltas com força e precisão. Apesar da pequena estatura, era um gigante em campo. Um líder nato. No intervalo daquela decisão, chegou ao vestiário e, com o uniforme cheio de lama, deu uma das maiores duras já testemunhadas pelo futebol – cobrou seus companheiros de equipe aos berros pedindo raça e dedicação. O episódio serviu para lembrar aos demais a grandeza da camisa que vestiam, assim como fez Zé Roberto recentemente.
Fato é que o Palmeiras foi outro no segundo tempo. E a recompensa veio aos 15 minutos, quando Jair começou a jogada e entregou a bola nos pés de Aquiles. O atacante não desperdiçou: 1×1. Nenhuma meta foi vazada até o final da partida. O Alviverde superou o então bicampeão paulista e, novamente em cima do São Paulo, repetiu as conquistas de 1933 (Palestra Italia 1×0 São Paulo da Floresta), 1940 (Palestra Italia 4×1 São Paulo), 1942 (Palmeiras 3×1 São Paulo) e 1944 (Palmeiras 3×1 São Paulo).

Em entrevista recente ao Site Oficial do Palmeiras, Aquiles, responsável pelo gol do título, definiu seu feito como “a coisa mais importante” que fez na vida. E foi devido àquela conquista que o Palmeiras disputou posteriormente a Copa Rio de 1951, reconhecido pela Fifa como o primeiro torneio mundial de clubes.
Campanha:
Jogos: 22 (13 vitórias, seis empates e três derrotas)
Gols marcados: 44
Gols sofridos: 21
Ficha técnica:
PALMEIRAS 1×1 SÃO PAULO
Torneio: Campeonato Paulista de 1950 (22ª rodada)
Data: 28/01/1951
Local: Estádio do Pacaembu (SP)
Árbitro: Alwin Bradley (ING)
Gols: Teixeirinha, aos 4min do primeiro tempo, e Achilles, aos 15min do segundo tempo.
PALMEIRAS: Oberdan; Turcão e Oswaldo; Waldemar Fiúme, Luiz Villa e Sarno; Lima, Canhotinho, Aquiles, Jair Rosa Pinto e Rodrigues. Técnico: Ventura Cambon.
SÃO PAULO: Mário; Savério e Mauro; Rui, Bauer e Noronha; Dido, Remo, Friaça, Leopoldo e Teixeirinha. Técnico: Vicente Feola.