Há 95 anos nascia Lima, o Garoto de Ouro do Palestra Italia
Departamento de Comunicação
Um dos grandes ídolos de sua geração e da história do Palestra Italia e da Sociedade Esportiva Palmeiras, Lima, o saudoso Garoto de Ouro, nascia há 95 anos na capital paulista, no dia 22 de agosto de 1920. Coincidências à parte, Eduardo Jorge Lima veio ao mundo no auge do maior artilheiro do clube, Heitor, que havia conquistado o primeiro título paulista do Verdão naquele ano.
Em 1938, foi a vez de o meia iniciar a escrita de sua história de 16 anos no Alviverde com títulos e partidas memoráveis: foram 458 jogos, com 255 vitórias, 106 empates e 97 derrotas. Entre as conquistas, Lima figurou na equipe símbolo da Arrancada Heroica de 1942 e integrou a equipe campeã Mundial em 1951, diante da Juventus-ITA, no Maracanã. Em 1954, ao término de sua carreira, era o atleta que mais partidas havia acumulado pelo Verdão.
Família de boleiros e chegada ao Palestra Italia
O futebol estava presente no sangue de Lima. Seu pai, Jorge José de Lima, vestiu a camisa do Internacional-SP ainda quando o esporte bretão dava seus primeiros passos no cenário nacional. Além disso, o meia também tinha quatro irmãos que jogaram em clubes da capital paulista: João, Antônio, Oswaldo e Mário.
Ironicamente, antes de chegar ao Palestra Italia, o jogador defendeu as cores do time juvenil do Corinthians, mas foi logo descoberto por olheiros do clube em que viria a se consagrar. Lima jogou pelo segundo quadro do Palestra até estrear no time principal em 27 de outubro de 1938.
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O debute do meio-campista aconteceu em um amistoso diante do São Paulo. À época, o rival tricolor (fundado em 1935) ainda engatinhava no futebol, mas havia acabado de firmar um acordo que previa a fusão de elenco junto ao hoje extinto Estudante-SP – equipe de futebol que, assim como o próprio São Paulo, era uma espécie de difusão do Paulistano.
Foram os gols de Luizinho e Carlos, ambos do Palestra, que garantiram a vitória de Lima em sua primeira partida como jogador profissional. E o São Paulo saía derrotado do Parque Antártica deixando ali uma sequência invicta de seis jogos.
1940 – Titularidade e primeiro caneco
Em 1940, o Garoto de Ouro assumiu efetivamente a posição de titular. Lima já vinha sendo testado pelo treinador italiano Caetano de Domenico, mas esperava sua vez para assumir o meio de campo palestrino. Não demorou e a oportunidade definitiva apareceu.
Com Lima, o Palestra acumulou 19 partidas com ótima sequência de resultados durante o Paulistão de 1940: foram 14 vitórias, quatro empates e apenas uma derrota – campanha que os torcedores já não viam havia alguns anos. O Palestra Italia sagrou-se campeão e o meia, pela primeira vez, levantou um caneco pelo Verdão.
Em toda a temporada de 1940, o Palestra Italia disputou 45 jogos: venceu 31, empatou oito e perdeu seis. Balançou as redes adversárias 123 vezes, contra os 53 gols que sofreu.
1942 – A Arrancada Heroica
Lima foi um dos principais personagens da mudança de nome de Palestra a Palmeiras. O Garoto de Ouro, no clube havia quatro anos na ocasião, sintetizava toda a palestrinidade e, em 1942, já era um dos líderes do elenco. Na Arrancada Heroica – episódio que marcou o primeiro jogo da agremiação com o nome de Palmeiras –, Lima deixou seu nome na súmula e celebrou, talvez, o título mais importante de sua carreira.
O Campeonato Paulista chegava a sua reta final, e o clube esmeraldino, então líder invicto, era o principal candidato ao título. No entanto, a fase brilhante do Palestra foi ofuscada por impasses que aconteceram do lado de fora dos gramados.
Lima e seus companheiros de time presenciaram a perseguição política da qual o clube era vítima. Em decorrência da Segunda Guerra Mundial, o Palestra Italia era visto como uma parte da Itália no Brasil, pois, de fato, foi fundado em 1914 com a ideia de representar a massa italiana que vivia em São Paulo (ou seja, imigrantes e oriundi). A legislação brasileira, porém, proibia qualquer alusão aos países do eixo, com os quais o Brasil estava em conflito na guerra (Itália, Alemanha e Japão).
Uma reunião extraordinária de dirigentes palestrinos foi convocada, e foi decidida a mudança o nome da agremiação – caso contrário o clube poderia ter seus bens patrimoniais confiscados pelo governo brasileiro. Assim, em 14 de setembro de 1942, o Palestra, que era líder do Paulistão, saía de cena e passava a figurar com o nome de Sociedade Esportiva Palmeiras.
Logo na semana seguinte, o Verdão realizaria seu primeiro jogo com o novo nome. A partida, válida pela penúltima rodada do Campeonato Paulista, colocaria Palmeiras e São Paulo frente a frente. Se o Alviverde vencesse naquele 20 de setembro de 1942, conquistaria o título com uma rodada de antecedência.
O duelo diante dos rivais tricolores, portanto, tinha clima de decisão. O Palmeiras entrou em campo com uma bandeira do Brasil, mostrando que, apesar das raízes italianas, era um clube genuinamente brasileiro, e que, ao contrário do que diziam à época, não um inimigo da pátria.
Em campo, a resposta foi ainda mais dura. Vencendo o clássico por 3 a 1, na etapa final, o jogador palmeirense Og Moreira sofreu pênalti, que só não foi convertido porque os jogadores do São Paulo se retiraram de campo. O árbitro Jaime Janeiro aguardou o retorno do time por aproximadamente 20 minutos. Não voltaram. Desta maneira, Lima pôde comemorar a participação em uma das conquistas mais memoráveis da história do Palestra/Palmeiras.
Era pós-1942
Na década de 40, o cenário futebolístico na capital paulistana se dividiu praticamente entre duas forças: Palmeiras e São Paulo (de 1940 a 1950, por exemplo, os títulos paulistas praticamente se dividiam entre alviverdes e tricolores). O Palestra/Palmeiras ficou com cinco títulos estaduais (1940-42-44-47-50).
Em 1944, Lima fez parte da conquista do título estadual. A competição ficou marcada pela manobra de bastidores que tirou um dos destaques do Palestra, o centromédio Dacunto, da decisão contra o São Paulo. Mesmo assim, o time de Lima venceu a partida por 3 a 1, e a história se repetiu. Assim como em 1942, o Palmeiras tirava a chance do rival conquistar o título paulista e levantava o caneco. Nas ruas, os torcedores cantavam em tom de comemoração: “Com Dacunto, sem Dacunto, eu ganho…’’, uma paródia que fazia referencia à marcha carnavalesca “Eu brinco…”, composta naquele mesmo ano por Pedro Caetano e Claudionor Cruz. A letra original dizia “Com pandeiro, sem pandeiro, eu brinco…”.
Em 1947, o Garoto de Ouro do Parque Antártica sagrou-se campeão paulista pela quarta vez. Repetindo o feito de 1940 e 1942, o time de Lima conquistou o título com apenas uma derrota ao longo do torneio. A temporada ficou marcada pela boa fase que a defesa do Palmeiras vivia – à época, era considerada uma das melhores do país. Vários órgãos da imprensa esportiva ofertavam prêmios a jogadores que fizessem gols do Palmeiras. Oberdan Cattani, com fama de goleiro intransponível, precisava trabalhar dobrado, e quase sempre levava a melhor – até uma geladeira (utensílio raro e caríssimo na época) foi ofertada a quem transpusesse o goleiro.
Campeão do Mundo: 1951
Além dos títulos de 1950 (Paulista e Taça Cidade de São Paulo) e 1951 (Rio São Paulo e outra Taça Cidade de São Paulo), o jogador também competiu e conquistou o Mundial de Clubes de 1951. As conquistas acumuladas nos dois anos ganharam a alcunha de “cinco coroas”, com grande destaque para a Copa Rio, nome dado à taça do primeiro Mundial de Clubes da história.
O campeonato contou com a participação de oito times, divididos em duas chaves de quatro: Vasco da Gama (Brasil), Áustria Viena (Áustria), Nacional (Uruguai) e Sporting (Portugal), com sede no Rio de Janeiro; Palmeiras (Brasil), Juventus (Itália), Estrela Vermelha (Iugoslávia) e Olympique de Nice (França), com sede em São Paulo. Com decisão no colossal Maracanã, Palmeiras e Juventus de Turim-ITA foram os finalistas (após vencer Juventus por 1 a 0 e empatar o segundo jogo por 2 a 2, resultados que garantiram o título).
Desta maneira, Lima e seus companheiros de time não só garantiram o título mais cobiçado entre os clubes do mundo inteiro como também trouxeram de volta a honra e a dignidade do Brasil no âmbito esportivo após a derrota na Copa do Mundo de 1950, diante do Uruguai, no Maracanã.
Despedida
Quando saiu do Palmeiras, em 1954, Lima liderava o ranking de atletas que mais vezes entraram em campo defendendo o Verdão, com 458 atuações. Com o passar dos anos, surgiram outros jogadores que também acumularam muitas partidas. Hoje, quase 60 anos após sua despedida, Lima ainda ocupa a 16º posição da lista de jogadores que mais atuaram no Palmeiras. Uma das marcas do meia era o gorro que utilizava em todas partidas para disfarçar uma calvície precoce.
Seleção Paulista
Antes mesmo de 1959, ano em que surgiu o primeiro Campeonato Brasileiro de clubes (que levava o nome de Taça Brasil), já existia o Campeonato Brasileiro de Seleções. Os principais jogadores de alguns estados do país eram convocados pela liga local para formarem equipes, que se enfrentavam em caráter eliminatório até que surgisse o time campeão brasileiro.
À época, este tipo de competição era de grande peso, logo, a maior honraria que um jogador poderia receber era ser convocado representar seu estado na competição – era tão importante, talvez, quanto integrar a própria Seleção Brasileira. Pela Seleção Paulista, Lima faturou três títulos brasileiros e foi um dos jogadores que mais vezes atuou com a camisa da FPF.
Seleção Brasileira
Pelo escrete nacional, o meia atuou entre 1944 e 1947. Apesar de ser exímio jogador, o então treinador Flávio Costa, que era carioca, quase sempre deixava os paulistas de fora dos planos da Seleção, até porque a rivalidade entre paulistas e cariocas era extremamente incisiva naquele período – as duas maiores forças do futebol nacional concentravam-se em São Paulo e no Rio de Janeiro. Vestindo a camisa da Seleção Brasileira, Eduardo Jorge Lima acumulou dez partidas, das quais venceu seis, empatou duas e perdeu duas. Marcou dois gols.
Linha do tempo: Lima
27/10/1938 – Lima estreia pelo Palestra Italia em vitória por 2 a 1 diante do São Paulo F.C.
12/11/1938 – Lima marca seu primeiro gol com a camisa alviverde. Foi no empate em 2 a 2 contra a Portuguesa Santista
20/09/1942 – Lima entra em campo para enfrentar o São Paulo, no Pacaembu, e garante o título paulista de 1942. Aquele foi o primeiro jogo da agremiação com o nome de Sociedade Esportiva Palmeiras.
14/05/1944 – Sob comando do treinador Flávio Costa, o Garoto de Ouro estreia pela Seleção Brasileira na goleada por 6 a 1 sobre a Seleção do Uruguai
29/03/1947 – Lima se despede da Seleção Brasileira no empate sem gols contra a Seleção Uruguaia.
22/07/1951 – Lima dá a volta olímpica no Maracanã, comemorando o título mundial do Verdão de 1951, após empate contra a Juventus de Turim-ITA. Mais de 100 mil pessoas presenciaram a conquista.
30/01/1954 – Na goleada por 7 a 2 diante do Linense-SP, Lima marca seu último tento com a camisa do Verdão. No total, o meia balançou as redes adversárias 149 vezes.
01/08/1954 – Sob comando do treinador Aymoré Moreira, Lima se despede do Palmeiras em partida amistosa contra o Nacional de Rolândia-PR – o Alviverde venceu por 4 a 0.