Há 95 anos, Verdão batia Paulistano e faturava seu primeiro Paulista na história
Angelo Salvioni
Departamento de Comunicação
Após bater na trave duas vezes nos vice-campeonatos paulistas de 1917 e 1919, o Palestra Italia pôde soltar o grito de campeão da competição pela primeira vez em 19 de dezembro de 1920, há exatos 95 anos. Diante do poderosíssimo Clube Athletico Paulistano de Arthur Friedenreich, que dominava o futebol de São Paulo naquela época – vinha de três conquistas estaduais consecutivas –, o time alviverde precisou até de jogo extra para levantar sua primeira taça estadual.
O torneio contou com nove equipes – além do Palestra Italia, Corinthians, Minas Gerais, Mackenzie, São Bento, A. A. das Palmeiras, Ypiranga, Internacional-SP e Paulistano participaram da competição – que se enfrentaram no sistema de pontos corridos, em turno e returno. Apesar de não pertencer à capital, o Santos também esteve no campeonato nas partidas iniciais, mas abandonou o torneio e teve todas suas partidas canceladas.
Logo na estreia, um belíssimo 3 a 0 no maior rival, o Corinthians, no estádio Ponte Grande. Em seguida, sete vitórias consecutivas, incluindo grandes goleadas como os 7 a 0 diante do Mackenzie e um massacrante 11 a 0 no Internacional da capital (maior goleada da história palmeirense até hoje), resultados que garantiram a liderança até a rodada decisiva.
Uma curiosidade marcou este torneio. Pelo returno, o Verdão enfrentou o Corinthians no Palestra Italia e saiu derrotado por 2 a 1. Por conta de um atrito entre o corintiano Neco e o goleiro palmeirense Primo, o tempo fechou no gramado, e o juiz não puniu nenhum atleta – nem o atleta alvinegro, que começou toda a confusão. Revoltado com a arbitragem, o Verdão rompeu com a APEA e se recusou a prosseguir na disputa do campeonato. Dias depois, após reunião entre dirigentes, conselheiros e sócios, o Alviverde decidiu retornar, e a APEA determinou que a escolha dos árbitros seria de responsabilidade única e exclusiva dos clubes.
No último jogo, diante do Paulistano, bastava um empate em casa para o time do artilheiro Heitor – maior goleador palmeirense de todos os tempos com 327 bolas na rede em 358 jogos – garantir o troféu, porém Friedenreich, maior craque em atividade no Brasil na época, adiou o sonho palestrino e marcou o gol da vitória para o visitante, que, com o triunfo, igualou o número de pontos do Verdão e forçou um duelo extra de desempate em campo neutro.
O palco escolhido para o confronto foi o estádio Chácara da Floresta. Até então, o Alviverde não havia vencido o Paulistano no torneio – em dois embates, um empate e uma vitória alvirrubra –, e o equilíbrio foi evidente no primeiro tempo sem gols da decisão. Logo no início da etapa final, o Palestra não tomou conhecimento do heptacampeão paulista e, com Martinelli, saiu na frente do rival. A alegria alviverde durou pouco, pois Mário Andrade tratou de empatar o certame poucos minutos depois.
No entanto, havia uma luz no fim do túnel para o time verde e branco. Escalado para ser titular justamente em um dos jogos mais importantes da trajetória palestrina, Mateus Forte, ou Forte II, viu sua estrela brilhar: aos 29 minutos do segundo tempo, marcou o tento que derrubou a hegemonia do Paulistano e rendeu ao Verdão o primeiro Campeonato Paulista da história do clube. Desde então são 22 conquistas estaduais, além dos dois torneios extras vencidos em 1926 e 1938.
Jogo decisivo: Palestra Italia 2×1 Paulistano
Competição: Campeonato Paulista de 1920 (Jogo desempate)
Data: 19/12/1920
Estádio: Chácara da Floresta, em São Paulo-SP
Árbitro: Herman Friese (SP)
Palestra Italia: Primo; Bianco e Oscar; Bertolini, Picagli e Severino; Ministro, Mateus Forte, Heitor, Federici e Martinelli.
Paulistano: Arnaldo; Guarany e Carlito; Sérgio, Zito e Mariano; Agnello, Mário Andrade, Friedenreich, Cassiano e Carneiro Leão.
Gols: Martinelli (5’ do 2ºT-PAL), Mário Andrade (14’ do 2ºT-PAU) e Mateus Forte (29’ do 2ºT-PAL).