Sampaio: Título de 93 foi maior que a Copa do Mundo

Agência Palmeiras
Fábio Finelli

Ídolo da torcida palmeirense, o gerente de futebol César Sampaio concedeu entrevista para o site oficial e falou sobre as curiosidades e o sentimento que cerca um clássico entre Palmeiras e Corinthians. Apesar de ter atuado quatro meses no rival, Sampaio deixa claro que sua imagem está inteiramente ligada ao Verdão e destaca: o título do Campeonato Paulista de 1993 representou mais do que a participação dele na Copa do Mundo de 1998.

Neste Áudio de 20 minutos, Sampaio fala do período de quase cinco meses no cargo de gerente, das dificuldades que teve quando chegou ao clube e da felicidade em montar um elenco à altura da grandeza do clube. O ex-jogador também relembrou histórias do clássico e revelou um ritual que faz com suas três filhas antes das partidas. Ouça e leia a entrevista abaixo.

 

Site Palmeiras – O que representa um Palmeiras x Corinthians e como o time chega para o clássico?

César Sampaio – Depois da conquista de um título, é o maior jogo que existe. O time está em um bom momento, e uma vitória pode representar uma autoafirmação para esse grupo. Logo no começo do ano, quando vencemos o Ajax, eu falava da importância de enfrentar grandes equipes e vencer. Acho que esse clássico pode representar a primeira decisão para o nosso elenco, e um bom resultado vai trazer uma confiança ainda maior.

Site Palmeiras – O jogo, em si, não vale muita coisa em termos de tabela. Mas quando o atleta entra em campo para disputar esse clássico, o que passa pela cabeça?

César Sampaio – Palmeiras e Corinthians vale até em jogo de botão. Se tiver um time de verde e outro de preto, vai querer ganhar de qualquer jeito. Quatro ou cinco pessoas vão parar para ver, vão ter os corneteiros, comentaristas… São dois grandes times e que deverão proporcionar um grande espetáculo. É um jogo à parte. Envolve imprensa, marketing, torcida, todos se mexem.

Site Palmeiras – Não me lembro se, pelo Corinthians, em 2001, você enfrentou o Palmeiras. E pelo Palmeiras, quais foram os clássicos que mais o marcaram?

César Sampaio – Foram dois, ambos da final do Campeonato Paulista de 1993. Foram os mais especiais da minha vida, representou mais que a Copa do Mundo, que o Mundial contra o Manchester… Na época, os corintianos diziam que a gente tremia em finais. E foi a partir dali que o clube deu toda uma reviravolta. Agora, tento passar isso para os jogadores. Conversei muito com o Barcos, vai ser o primeiro Palmeiras x Corinthians dele. Esperamos que o time possa ter força, garra, mas acima de tudo equilíbrio.

Felizmente, nunca enfrentei o Palmeiras. Como tenho uma imagem muito ligada ao clube, e até pelo fato de ser palmeirense, era bem atípico enfrentar o Palmeiras. Quando começava o jogo, eu não pensava em nada. Mas na hora que a gente ficava perfilado, antes do jogo, o sabor de enfrentar o Palmeiras não era muito bom.

Site Palmeiras – Quando você foi jogar no Corinthians, em 2001, sofreu algum tipo de pressão?

César Sampaio – Existiu na minha chegada, quando eu fui apresentado para os membros da Gaviões da Fiel, através do Luizão e do Ricardinho. Cobraram, falaram que eu era do inimigo. Teve um fato em que pediram para eu beijar o distintivo, mas eu disse que não beijaria pois estava lá para suar a camisa. Disse que eles ficaram mais felizes em me ver dando a vida em campo do que beijando o escudo. Mas sou muito grato ao Corinthians. Vinha de duas lesões nos tendões e foi o clube que me abriu as portas quando eu voltei do La Coruña. Fiz contrato de cinco meses e, antes de qualquer coisa, sempre respeitei e continuo respeitando a instituição.

Site Palmeiras – O Palmeiras está há 22 jogos invicto e não perde clássicos há algum tempo. É um sinal de evolução do grupo?

César Sampaio – Acho que a mentalidade de vencer precisa existir sempre, não importa qual seja o jogo. O Palmeiras tem feito isso e está recuperando sua identidade. O torcedor quer não apenas vitórias, mas um time com espírito de gana. Contra o Coruripe, vi uma das principais palestras do Felipão, que falou o quanto aquele jogo representava para o Coruripe e do quanto tínhamos que entrar em campo respeitando o time deles. O grupo sabe absorver as coisas. Em termos de elenco, acho que temos todas as condições de reconquistar um espaço no mercado e colocar o Palmeiras em seu devido lugar.

Site Palmeiras – Você chegou no Palmeiras como jogador em 1991, exatamente no período da fila. Agora, o time vive um jejum de mais de 10 anos sem ganhar um título de expressão. Dá para comparar os dois momentos?

César Sampaio – São momentos diferentes, não dá para comparar. É claro que a necessidade de ganhar um título existe, mas em 1991 era mais complicado. A gente saía no carro da polícia duas, três horas após o jogo. Fui abordado em restaurante, jantando com a minha esposa. Era bem pesado. A cobrança existe, a ansiedade do torcedor também, mas temos que ter equilíbrio. Nosso objetivo não é apenas começar bem, mas principalmente ser campeão.

Site Palmeiras – Você assumiu o cargo de gerente de futebol em novembro de 2011 e, desde então, o time não perdeu. Existe algum segredo?

César Sampaio – Quero deixar bem claro que faço parte de uma equipe e não sou responsável sozinho por isso. Tem a presidência, os vices, as diretorias administrativa, financeira e jurídica e, claro, elenco e comissão. Tudo mudou, pois quando assumimos, o ambiente era muito ruim. Minha chegada foi bem difícil, quando trabalhamos com a possibilidade de demissão do Felipão. Eu disse a ele que se o mal momento passava pela comissão técnica, e que se os jogadores estivessem insatisfeitos, teríamos que mudar. O Felipão não só entendeu como disse que saíra caso o problema fosse ele. Conversamos com todos os jogadores e vimos que o problema não era com a comissão.

Depois, entre novembro e dezembro, iniciamos uma outra etapa de montagem de elenco para 2012. Hoje, tudo está dando certo porque as peças estão remando juntas. Em uma semana, você pode ir do êxito ao descrédito. Tem um livro do Bernardinho que diz que, mais do que vencer, o importante é estar preparado para todos os momentos. Quando você se prepara bem, o ápice fica mais próximo. É prazeroso quando você faz o que gosta, ainda mais em um clube que tenho tamanha identificação.

Site Palmeiras – Você comentou que faz um ritual com suas filhas, todas palmeirenses, antes dos jogos. Pode revelar?

César Sampaio – Eu sou evangélico e, quando era jogador, comemorava meus gols como todo mundo. Minhas filhas (Gabriela, Priscila e Rebeca) oravam comigo quando eu jogava e pediam proteção. Fui cobrado por elas, pois no momento do gol, que é o de maior evidência, elas falavam que eu não agradecia a Deus. Mudei minha maneira de comemorar e passei a ajoelhar. Antes dos jogos, a gente sempre se reúne, ajoelha e oramos para que o trabalho possa ser sempre bem feito e que ninguém se machuque. Essa oração com as minhas filhas tem sido importante, me dá muita energia e espiritualmente me passa paz e equilíbrio.