Dante Delmanto
01 de março de 1932 a 17 de novembro de 1934
Um dos mais renomados advogados criminalistas do Brasil no século 20, Dante Delmanto nasceu no dia 2 de fevereiro de 1907, em Botucatu (SP). Filho do italiano Pietro Del Manto (natural de Castellabate, mesma cidade da família Matarazzo) e da brasileira Maria Varoli Delmanto (filha de imigrantes italianos), Dante era o terceiro de sete irmãos (cinco homens e duas mulheres). Já nos tempos de escola, a inclinação à política era latente, tendo participado da criação do Partido Democrático (PD), que viria a ser a base do Partido Constitucionalista (PC).
Na capital paulista, ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco no mesmo ano em que se engajou na movimentação estudantil da Revolução de 1924, inclusive percorrendo o estado discursando em favor do voto secreto e fundando, juntamente com seus colegas acadêmicos, o Partido da Mocidade. Durante o período de estudos, trabalhou em redações de jornais e no escritório de advocacia do dr. José Adriano Marrey Júnior (à época considerado o melhor advogado criminal do país e um apaixonado por política), onde entrou como estagiário e permaneceu por oito anos.
No último ano da faculdade, como prêmio pelas boas notas, recebeu uma bolsa para cursar Direito Internacional em Haia (Holanda), onde atualmente estão situadas as mais altas cortes de Justiça do planeta. Formado em 1929, foi convidado pelo Itamaraty para ser diplomata, mas preferiu seguir na advocacia criminal, seu grande sonho de juventude.
Culto, torcedor fanático e amigo dos Matarazzo, aos 25 anos se tornou o até hoje mais jovem presidente eleito do Palestra Italia. Era tido como o dirigente da renovação e foi figura de destaque na transição do amadorismo para o profissionalismo no futebol brasileiro. Com Delmanto no poder, o time dos italianos definitivamente se tornou uma potência esportiva, conquistando o tricampeonato paulista em 1932/33/34 com campanhas avassaladoras, somando um total de 35 vitórias em 39 jogos (sendo apenas duas derrotas).
Faturou ainda a primeira competição interestadual do país, o Torneio Rio-São Paulo de 1933, e naquele mesmo ano, com a reinauguração do Stadium Palestra Italia e suas modernas arquibancadas de concreto armado, viu ser concretizado o antigo sonho palestrino de possuir um grandioso estádio. Foi quando o clube social saiu do centro da cidade e se instalou na Água Branca, bairro da Zona Oeste. E, nas quadras, também foi dominante: conquistou no mesmo triênio de 1932/33/34 as três primeiras edições do Campeonato Paulista de Basquete e mais três edições do Campeonato Paulistano.
Às vésperas da Copa do Mundo de 1934, em meio à disputa de poder entre a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), defensora do amadorismo, e a Federação Brasileira de Futebol (FBF), defensora do profissionalismo, jogadores palestrinos sofreram assédio da CBD para defender o Brasil na competição. Como o torneio seria na Itália, o próprio Consulado Italiano pressionava para ver os ídolos da colônia em campo. Delmanto percebeu que, se não abrisse os olhos, acabaria perdendo seus atletas para equipes italianas e o Palestra não receberia nenhum centavo, já que o clube fazia parte de uma liga profissional que estava em litígio com a CBD naquele momento.
O mandatário, então, iniciou um regime de concentração itinerante para seus principais jogadores (Romeu, Gabardo, Tunga, Lara e Junqueira, entre outros), cada dia em um novo local, para despistar os agentes da CBD. Começou na Chácara da Dobrada, na região de Santo Amaro, na Zona Sul da capital. No outro dia, em uma fazenda em Araraquara (SP), no interior, ou numa pousada na Praia Grande (SP), no litoral. Ludovico Bacchiani, diretor esportivo e antigo presidente palestrino, era o responsável pela segurança dessas concentrações.
Ativo na Revolução Constitucionalista de 1932 como tenente do “Batalhão da Justiça”, foi o candidato a deputado estadual constituinte mais votado de São Paulo no pleito de 1934, com 9.506 votos, e também o mais jovem, com 28 anos de idade. Um ano depois, criou o Escritório Delmanto Advocacia Criminal, em atividade até os dias atuais. Teve o registro na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) cassado durante a Ditadura Vargas. E tanto no período do Estado Novo (1937-1945) como no Regime Militar (1964-1985), o escritório atuou na defesa da democracia em favor de pessoas perseguidas pelo governo.
Em Botucatu (SP), ajudou na criação da Escola Secundária Mista, atual Escola Técnica Industrial Dr. Domingos Minicucci Filho. Contribuiu para a transformação da insolvente Fazenda Lageado em Departamento Nacional do Café, depois Instituto Brasileiro do Café (IBC), posteriormente integrado à UNESP (Universidade Estadual Paulista). E batalhou pela instalação das Faculdades de Medicina, Medicina Veterinária, Biologia e Agronomia (atual FCMBB), entre outras benfeitorias.
Publicou o livro Defesas Que Fiz No Júri em 1978 e morreu em 5 de maio de 1984. Seis anos depois, em outubro de 1990, foi erigido pela OAB um busto de bronze em sua homenagem no Plenário do Júri do antigo Tribunal de Justiça de São Paulo, localizado no Palácio da Justiça, descrevendo-o como “O Príncipe dos Advogados Criminais”. É nome de avenida em Botucatu, no bairro da Vila Paulista, Zona Sul de São Paulo, e de um viaduto no bairro da Vila Guarani, também na Zona Sul da capital.