Poucos jogadores na história do futebol foram tão talentosos ao unir perfeitamente classe e poder de decisão como Ademir da Guia. E menos jogadores ainda se identificaram tanto com um único clube como ele. A elegância, o ritmo cadenciado, as passadas largas, a visão de jogo, a habilidade com a bola nos pés e a capacidade de conquistar os mais variados troféus ao longo de 16 temporadas vestindo a camisa verde conduziram este carioca, nascido no emblemático ano de 1942, ao altar dos ídolos eternos do Palmeiras.

Filho de Domingos da Guia, notável zagueiro das décadas de 30 e 40, o Divino (adjetivo que herdou de seu pai) deu seus primeiros chutes ainda menino no Rio de Janeiro, cresceu com o uniforme do Bangu e encontrou o Palmeiras pela primeira vez na adolescência, aos 18 anos de idade. Em um amistoso disputado em setembro de 1960, no Pacaembu, o jovem meio-campista de vermelho e branco chamou a atenção mesmo com a vitória palestrina por 4 a 0. Tanto que aquela seria a primeira e única que vez que Ademir e Palmeiras estariam de lados opostos.

O contrato de união foi firmado 11 meses depois, mas a estreia aconteceu só no dia 22 de fevereiro de 1962. Naquela noite, no mesmo Pacaembu, o adversário era o Corinthians, em partida válida pelo Torneio Rio-São Paulo. Ademir estava no banco. Quando foi chamado pelo técnico Maurício Cardoso para substituir o meia Hélio Burini, mostrou personalidade e talento, apesar da responsabilidade de debutar em um dos maiores clássicos do mundo com o estádio lotado. O triunfo palmeirense por 3 a 0 sobre o maior rival (gols de Vavá, no primeiro tempo, Gildo e Américo, no segundo) era o prenúncio de um futuro glorioso.

Reserva de Chinesinho, o Divino aproveitou seus primeiros meses de clube para se adaptar à nova cidade e ao futebol paulista. Pouco depois, com a base do esquadrão supercampeão de 1959 (que contava com craques como Valdir de Moraes, Djalma Santos, Geraldo Scotto, Zequinha, Valdemar Carabina e Julinho Botelho) e ao lado de outras lendas como Djalma Dias, Servílio e Vavá, ajudou a conquistar o título do Campeonato Paulista de 1963, seu primeiro pelo Verdão. A partir de então, o Divino se tornou personagem central das famosas Academias de Futebol do Palmeiras.

Com a Primeira Academia, e já tendo Dudu como parceiro inseparável no meio-campo, faturou ainda o Torneio Rio São Paulo de 1965, o Paulista de 1966 e os Brasileiros de 1967 (Taça Brasil e Torneio Roberto Gomes Pedrosa) Com a Segunda Academia, que tinha como protagonistas também Leão, Eurico, Luis Pereira, Alfredo, Zeca, Edu, Leivinha, César, Nei e, mais tarde, Jorge Mendonça, conquistou os Brasileiros de 1969, 1972 e 1973, os Torneio Ramón de Carranza-ESP de 1969, 1974 e 1975 e os Paulistas de 1972, 1974 e 1976.

Pela Seleção Brasileira, Ademir disputou apenas 11 partidas, sendo seis delas em 1965. Naquele ano, inclusive, participou do duelo entre Palmeiras e Uruguai, quando a Confederação Brasileira de Desportos (atual CBF) convidou o elenco alviverde para representar a Seleção Brasileira no jogo inaugural do estádio Magalhães Pinto, o Mineirão, em Belo Horizonte. O confronto, realizado no dia 7 de setembro, foi vencido pelo Palmeiras por 3 a 0 e serviu para os visitantes apreciarem a categoria que Ademir herdara do pai, Domingos, campeão uruguaio pelo Nacional de Montevidéu em 1933.

No início dos anos 70, vivendo o auge da carreira, o Divino enfrentou a insistência do técnico Zagallo em não convocá-lo e só retornou à Seleção em 1974, quando realizou mais dois jogos na pré-temporada da Copa do Mundo e uma derradeira partida durante o Mundial, contra a Polônia, na disputa do terceiro lugar.

Em 1977, aos 35 anos de idade, Ademir decidiu deixar o futebol após apresentar dificuldades respiratórias. Durante os 16 anos em que atuou pelo Alviverde, o Divino disputou 902 partidas (512 vitórias, 233 empates e 157 derrotas) e balançou as redes dos adversários 155 vezes. Estes números o colocam como o jogador que mais atuou pelo clube e o terceiro maior artilheiro da história palmeirense, atrás apenas de Heitor (317) e César Maluco (182).

Mas o caso de amor não parou por aí. O craque voltou a vestir a camisa do Palmeiras em um amistoso de pré-temporada diante da Seleção Paulista em 1984 e, depois, mostrou sua categoria nos gramados com os veteranos do Verdão. Em 19 de dezembro de 1992, um busto foi erguido em sua homenagem na sede do clube.

Até hoje, Ademir frequenta a Academia de Futebol, o Allianz Parque e o clube social, participa de encontros com torcedores, representa a entidade em diversos tipos de eventos, é garoto-propaganda do marketing alviverde e estrela de comercial. Sua genialidade transcendeu as quatro linhas, e a arte de Ademir virou música*, filme** e poesia:

Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.

Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o.

Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando
o mais irrequieto adversário.

(João Cabral de Melo Neto)

* “O Filho do Divino”, de Moacir Franco; “Obrigado Divino”, do Grupo Quebrando o Galho; “Ademir Divino”, de Mauro Pirata

** “Um Craque Chamado Divino”, de Penna Filho e Cláudio Schuster

Saiba mais:
>Especial Derby: Fatos e curiosidades
>Especial Derby: TOP 10

Ademir da Guia 3 de abril de 1942
Rio de Janeiro - RJ

Posição: Meia

Número de temporadas: 16

Clube anterior: Bangu-RJ

Jogos:

902 (513 vitórias, 233 empates e 156 derrotas)
*Apesar de ter encerrado a carreira em 1977, Ademir voltou a vestir a camisa do Palmeiras em 1984, em um amistoso de pré-temporada da equipe profissional do Verdão diante da Seleção Paulista

Estreia: Palmeiras 3x0 Corinthians (22/02/1962)

Último jogo: Palmeiras 1x2 Seleção Paulista (22/01/1984)

Gols: 155

Primeiro gol: Palmeiras 2x4 Inter de Limeira (15/04/1962)

Último gol: Palmeiras 3x2 Portuguesa (24/04/1977)

Principais títulos:

Campeonato Brasileiro em 1967 (Torneio Roberto Gomes Pedrosa), 1967 (Taça Brasil), 1969, 1972 e 1973; Torneio Rio-São Paulo em 1965; Campeonato Paulista em 1963, 1966, 1972, 1974 e 1976; Torneio Laudo Natel em 1972

Poucos jogadores na história do futebol foram tão talentosos ao unir perfeitamente classe e poder de decisão como Ademir da Guia. E menos jogadores ainda se identificaram tanto com um único clube como ele. A elegância, o ritmo cadenciado, as passadas largas, a visão de jogo, a habilidade com a bola nos pés e a capacidade de conquistar os mais variados troféus ao longo de 16 temporadas vestindo a camisa verde conduziram este carioca, nascido no emblemático ano de 1942, ao altar dos ídolos eternos do Palmeiras.

Filho de Domingos da Guia, notável zagueiro das décadas de 30 e 40, o Divino (adjetivo que herdou de seu pai) deu seus primeiros chutes ainda menino no Rio de Janeiro, cresceu com o uniforme do Bangu e encontrou o Palmeiras pela primeira vez na adolescência, aos 18 anos de idade. Em um amistoso disputado em setembro de 1960, no Pacaembu, o jovem meio-campista de vermelho e branco chamou a atenção mesmo com a vitória palestrina por 4 a 0. Tanto que aquela seria a primeira e única que vez que Ademir e Palmeiras estariam de lados opostos.

O contrato de união foi firmado 11 meses depois, mas a estreia aconteceu só no dia 22 de fevereiro de 1962. Naquela noite, no mesmo Pacaembu, o adversário era o Corinthians, em partida válida pelo Torneio Rio-São Paulo. Ademir estava no banco. Quando foi chamado pelo técnico Maurício Cardoso para substituir o meia Hélio Burini, mostrou personalidade e talento, apesar da responsabilidade de debutar em um dos maiores clássicos do mundo com o estádio lotado. O triunfo palmeirense por 3 a 0 sobre o maior rival (gols de Vavá, no primeiro tempo, Gildo e Américo, no segundo) era o prenúncio de um futuro glorioso.

Reserva de Chinesinho, o Divino aproveitou seus primeiros meses de clube para se adaptar à nova cidade e ao futebol paulista. Pouco depois, com a base do esquadrão supercampeão de 1959 (que contava com craques como Valdir de Moraes, Djalma Santos, Geraldo Scotto, Zequinha, Valdemar Carabina e Julinho Botelho) e ao lado de outras lendas como Djalma Dias, Servílio e Vavá, ajudou a conquistar o título do Campeonato Paulista de 1963, seu primeiro pelo Verdão. A partir de então, o Divino se tornou personagem central das famosas Academias de Futebol do Palmeiras.

Com a Primeira Academia, e já tendo Dudu como parceiro inseparável no meio-campo, faturou ainda o Torneio Rio São Paulo de 1965, o Paulista de 1966 e os Brasileiros de 1967 (Taça Brasil e Torneio Roberto Gomes Pedrosa) Com a Segunda Academia, que tinha como protagonistas também Leão, Eurico, Luis Pereira, Alfredo, Zeca, Edu, Leivinha, César, Nei e, mais tarde, Jorge Mendonça, conquistou os Brasileiros de 1969, 1972 e 1973, os Torneio Ramón de Carranza-ESP de 1969, 1974 e 1975 e os Paulistas de 1972, 1974 e 1976.

Pela Seleção Brasileira, Ademir disputou apenas 11 partidas, sendo seis delas em 1965. Naquele ano, inclusive, participou do duelo entre Palmeiras e Uruguai, quando a Confederação Brasileira de Desportos (atual CBF) convidou o elenco alviverde para representar a Seleção Brasileira no jogo inaugural do estádio Magalhães Pinto, o Mineirão, em Belo Horizonte. O confronto, realizado no dia 7 de setembro, foi vencido pelo Palmeiras por 3 a 0 e serviu para os visitantes apreciarem a categoria que Ademir herdara do pai, Domingos, campeão uruguaio pelo Nacional de Montevidéu em 1933.

No início dos anos 70, vivendo o auge da carreira, o Divino enfrentou a insistência do técnico Zagallo em não convocá-lo e só retornou à Seleção em 1974, quando realizou mais dois jogos na pré-temporada da Copa do Mundo e uma derradeira partida durante o Mundial, contra a Polônia, na disputa do terceiro lugar.

Em 1977, aos 35 anos de idade, Ademir decidiu deixar o futebol após apresentar dificuldades respiratórias. Durante os 16 anos em que atuou pelo Alviverde, o Divino disputou 902 partidas (512 vitórias, 233 empates e 157 derrotas) e balançou as redes dos adversários 155 vezes. Estes números o colocam como o jogador que mais atuou pelo clube e o terceiro maior artilheiro da história palmeirense, atrás apenas de Heitor (317) e César Maluco (182).

Mas o caso de amor não parou por aí. O craque voltou a vestir a camisa do Palmeiras em um amistoso de pré-temporada diante da Seleção Paulista em 1984 e, depois, mostrou sua categoria nos gramados com os veteranos do Verdão. Em 19 de dezembro de 1992, um busto foi erguido em sua homenagem na sede do clube.

Até hoje, Ademir frequenta a Academia de Futebol, o Allianz Parque e o clube social, participa de encontros com torcedores, representa a entidade em diversos tipos de eventos, é garoto-propaganda do marketing alviverde e estrela de comercial. Sua genialidade transcendeu as quatro linhas, e a arte de Ademir virou música*, filme** e poesia:

Ademir impõe com seu jogo
o ritmo do chumbo (e o peso),
da lesma, da câmara lenta,
do homem dentro do pesadelo.

Ritmo líquido se infiltrando
no adversário, grosso, de dentro,
impondo-lhe o que ele deseja,
mandando nele, apodrecendo-o.

Ritmo morno, de andar na areia,
de água doente de alagados,
entorpecendo e então atando
o mais irrequieto adversário.

(João Cabral de Melo Neto)

* “O Filho do Divino”, de Moacir Franco; “Obrigado Divino”, do Grupo Quebrando o Galho; “Ademir Divino”, de Mauro Pirata

** “Um Craque Chamado Divino”, de Penna Filho e Cláudio Schuster

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>Especial Derby: TOP 10

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