Divulgação _ Valdir Joaquim de Morais acumula 480 atuações com o manto alviverdeO eterno goleiro palmeirense Valdir Joaquim de Morais (defendeu o Verdão entre 1958 e 1968) faleceu no início da tarde deste sábado (11), aos 88 anos, em Porto Alegre, cidade onde nasceu e também onde residia. O ex-arqueiro palestrino estava internado na emergência do Hospital Moinhos de Vento desde a madrugada da última terça-feira (07), após passar mal. O quadro de Valdir piorou e seu falecimento foi confirmado há algumas horas por falência múltipla dos órgãos.

Desde 2016, Valdir de Morais estava debilitado devido ao fato de ter sofrido um AVC. Em 2017, o guarda-metas fraturou o fêmur e passou a ficar de cama. O estado do emblemático personagem do futebol brasileiro, no entanto, se agravou nos últimos meses, sendo que ficou ainda mais crítico nas últimas semanas.

O corpo do ídolo palmeirense será velado no Cemitério ‘São Miguel e Almas’, neste domingo (12), das 08h30 às 16h00 e, em seguida, será cremado.

Valdir de Morais deixa a esposa Yvonne Carvalho de Morais, de 87 anos, com quem foi casado por sete décadas, os filhos Renato Carvalho de Morais, 64 anos, e Denise Carvalho de Morais, de 59. Seus netos – ambos filhos de Renato – são Danny Morais (atualmente jogador do Santa Cruz, de 34 anos) e Suanny Morais, de 37. Além disso, Valdir tinha cinco bisnetos: Bernardo, Matheus e Henrique (filhos de Danny Morais); além de Sofia e Thomás (filhos de Suanny)

HISTÓRICODivulgação_Goleiro Valdir posa para foto durante treino no Parque Antarctica

Valdir é considerado um dos melhores guarda-metas do Verdão em todos os tempos. E, além de fazer história dentro de campo, o gaúcho também deu sua contribuição para o Palmeiras atuando como técnico e preparador de goleiros – foi um vanguardista brasileiro no exercício desta função no Brasil

CARREIRA

Valdir de Morais iniciou sua carreira no extinto Renner de Porto Alegre em 1947, tendo por lá jogado até 1958, onde foi campeão gaúcho antes de se transferir ao Palmeiras para fazer história e se tornar um dos atletas mais vencedores do clube. Como goleiro, destacava-se pela impulsão e elasticidade, boa colocação, coragem nas saídas de gol, reflexo apurado e ótima reposição de bola. Tornou-se um dos goleiros mais completos de sua geração e um dos melhores da história. Foi o pioneiro no treinamento específico da posição, colaborando para o aperfeiçoamento técnico no Brasil. Valdir de Morais também foi o responsável pela preparação dos goleiros da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982. Valdir de Moraes também foi treinador da equipe principal do Palmeiras, sempre como interino.

HOMENAGEM

Para homenagear Valdir de Morais, figura ímpar no futebol Brasileiro, o Palmeiras, em 2018, reestruturou seu núcleo técnico e batizou a sala oficial da comissão técnica com o nome de ‘Valdir Joaquim de Morais’, devido à importância do arqueiro não só dentro de campo, como jogador e ídolo, mas também por seu papel histórico de precursor de uma nova função no futebol (a de preparador de goleiro) e por mudar a forma de pensar o esporte dentro quatro linhas.

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CHEGADA AO PALMEIRAS

Foi em 1958 que se cruzaram os caminhos de Palmeiras e Valdir. À época, o Verdão dava início a uma nova era de sua história, reformulando o elenco na tentativa de montar um superesquadrão. Com a contratação do treinador Oswaldo Brandão e a venda do craque Mazzola para a Itália após a Copa do Mundo (que, naquele período, rendeu uma verdadeira fortuna para o clube), os dirigentes alviverdes não pouparam esforços para reforçar a equipe.

Com Brandão no comando, chegaram naquele ano pelo menos sete jogadores de qualidade, entre os quais estava Ênio Andrade, que indicou o goleiro Valdir ao então treinador do Palmeiras – Ênio e Valdir foram companheiros de time quando defendiam o Renner de Porto Alegre.

Naquele período, o goleiro Valdir já era visto como um atleta de qualidade, pois tinha integrado a Seleção Gaucha e havia sido campeão gaúcho pelo Renner (1954) e campeão pan-americano pela Seleção Brasileira (1956). No entanto, a consagração só veio mesmo quando passou a defender o Verdão.

Valdir chegou ao Palmeiras para ser titular e, apesar de medir 1,75 de altura (estatura considerada baixa para goleiros), o gaúcho fazia grandes atuações e ganhou posição de destaque no time.

Divulgação_Valdir de Morais durante treino em seus tempos de atleta profissional do Verdão

VALDIR BRILHA NO VERDÃO

Divulgação_Com 480 jogos, Valdir de Morais é o 3º goleiro com mais partidas pelo clube (atrás de Marcos, com 532, e de Leão, com 620)O goleiro Valdir debutou no Palmeiras em 1958. Naquele ano, também estrearam no time alguns ótimos jogadores, como Chinesinho, Julinho Botelho, Américo, Geraldo Scotto, Zequinha e Romero. Na temporada seguinte, em 1959, juntou-se ao elenco o já consagrado Djalma Santos. Estes nomes foram uma espécie de embrião do time que, anos mais tarde, ganhou a alcunha de “Academia”, pelo futebol de classe e tecnicamente apurado.

Em 1959, o Palmeiras vivia o maior jejum de títulos da sua história até então. A última conquista alviverde havia sido o Campeonato Mundial Interclubes, em 1951. A tarefa que parecia árdua foi realizada com eficiência pela nova legião de craques do Verdão, que conseguiram tirar o Palmeiras da fila com a conquista do Campeonato Paulista de 1959, diante do Santos de Pelé. Foi neste episódio histórico que o goleiro Valdir e seus companheiros de time ganharam credibilidade.

Desde 1954, com a saída do legendário Oberdan Catani, o Palmeiras procurava um goleiro à altura do antecessor. E, em pouco tempo, o gaúcho Valdir provou ser este homem. Com grandes atuações desde a sua chegada, Valdir de Morais tornou-se ídolo. Foi o primeiro goleiro da história do Palmeiras a se sagrar campeão brasileiro (1960) e ser finalista da Copa Libertadores (1961).

“O Valdir foi um dos maiores goleiros que eu vi jogar. Ele não fazia festa, pose nas defesas, nada disso. Ele ‘apenas’ tinha uma colocação fora de série. Se o atacante não tivesse tranquilidade, perdia o gol. O Valdir tinha uma presença que espantava os adversários”, conta o ex-atacante César Maluco.

Divulgação_Valdir esteve presente em um dos momentos mais importantes da história do Palmeiras: o dia em que o clube representou a Seleção Brasileira por completo

Durante a década de 60 inteira, com exceção de 1969 (época em que o craque passou a defender o Cruzeiro), Valdir fez história no Alviverde, colecionando títulos e condecorações. Em 1965, o goleiro deixou seu nome registrado na súmula da partida que inaugurou o Mineirão, quando o Verdão foi convidado a representar a Seleção Brasileira por completo, do goleiro ao ponta-esquerda, do técnico ao massagista, inclusive os reservas, num amistoso diante da Seleção Uruguaia. Naquela oportunidade, o Palmeiras (Brasil) venceu a seleção celeste por 3 a 1.

Outro episódio marcante de sua trajetória ocorreu em 1966. Palmeiras e Corinthians se enfrentaram pelo Torneio Rio-São Paulo, e o Verdão vencia o clássico por 2 a 1 quando, aos 43 minutos do segundo tempo, o árbitro Olten Aires de Abreu marcou um pênalti a favor do Alvinegro. Ninguém menos que Mané Garrincha, que teve uma rápida passagem pelo Parque São Jorge, foi para a cobrança. Valdir defendeu o pênalti de Garrincha, e o Alviverde venceu o prélio.

Divulgação_Valdir de Morais ajudou a construir a fama de 'Academia de Goleiros' que o Palmeiras leva; da esq p/ dir: Leão, Marcos, Sérgio, Oberdan Cattani, Velloso e Valdir de Morais

DESPEDIDA

Divulgação_Após encerrar a carreira, Valdir de Morais foi treinador de goleiros e ensinou os principais arqueiros de gerações posteriores à sua, como por exemplo o Marcos (foto)No dia 16 de maio de 1968, o gaúcho Valdir de Morais se despedia do Palmeiras. Foi diante do Estudiantes de La Plata (Argentina) que o arqueiro realizou sua derradeira partida com a camisa do Verdão. Na ocasião, o jogo foi válido pela final da Copa Libertadores, e a vitória por 2 a 0 deu o título aos argentinos.

Valdir defendeu a meta alviverde durante dez anos consecutivos. Ao longo deste período, a lenda acumulou 480 jogos com a camisa do Verdão, tornando-se o goleiro que mais vezes havia atuado pelo Palmeiras até então. Mais tarde, foi superado em números de partida por Emerson Leão (620) e Marcos (532).

Ao deixar o Palmeiras em 1968, o gaúcho ainda defendeu o Cruzeiro de Porto Alegre e encerrou sua brilhantíssima carreira por lá, em 1969.

PIONEIRISMO

Dois anos depois de pendurar as chuteiras, Valdir foi convidado pelo técnico Oswaldo Brandão para ser seu auxiliar no novo desafio que encararia à frente do Palmeiras. Valdir, porém, sugeriu fazer um trabalho específico com os goleiros – era a primeira vez na história que um especialista da posição seria o responsável pelo treinamento dos arqueiros. Brandão prontamente aceitou.

Divulgação_Como preparador, Valdir de Morais integrou a comissão da Seleção Brasileira e vários outros clubes, trabalhando com os principais técnicos do paísO gaúcho, então, passou toda a década de 70 no Palmeiras. Na década seguinte, exerceu a mesma função no São Paulo, onde permaneceu até meados dos anos 90, antes de voltar ao Palestra Italia. Participou das Copas de 1982 e 1986 como auxiliar-técnico de Telê Santana, trabalhou como coordenador técnico no Corinthians no fim dos anos 90 e teve mais duas passagens pelo Verdão até deixar o cargo em 2011.

“Como o primeiro na carreira de preparador de goleiros, ele foi muito importante para o Palmeiras e para o futebol brasileiro. Ele passou esta escola para as demais equipes e, por isso, está marcado na história. Hoje, essa é uma profissão. Sem contar a ‘Academia de Goleiros’ que se iniciou no Verdão. A maioria aprendeu coisas sobre colocação, reflexo e outras habilidades com ele”, destaca César Maluco.

Ao todo, Valdir contabiliza 42 títulos na carreira, incluindo as conquistas como jogador e membro de comissão técnica. Pelas mãos do preparador, passaram craques da posição como Leão, Gilmar, Zetti, Rogério Ceni e Marcos.

Divulgação_Valdir faleceu um dia após os 60 anos de um dos principais títulos de sua carreira e também do Verdão: o Paulista de 1959 em cima do Santos de Pelé; nesta foto, recebeu das mãos de Marcos placa em homenagem aos 50 anos daquela ocasião (portanto, há exatos 10 anos e um dia)

CAMPEÃO DO 1º BRASILEIRO PELO VERDÃO

Ao longo de sua carreira, Valdir de Morais acumulou algumas glórias folclóricas com a camisa do Verdão, como a de ter participado da campanha que rendeu à equipe esmeraldina o primeiro Campeonato Brasileiro de sua história, em 1960 – a Taça Brasil. Vale lembrar que este também foi o primeiro Nacional conquistado dos 14 que hoje o clube possui (sendo dez Brasileiros, três Copas do Brasil e uma Copa dos Campeões). Pode se dizer, portanto, que Valdir foi peça fundamental para que o Alviverde construísse a fama que tem: de ser o Maior Campeão do Brasil.

1º GOLEIRO BRASILEIRO A DISPUTAR UMA FINAL DE LIBERTADORES

Alguns momentos emblemáticos também ajudaram a fazer de Valdir um personagem singular na história do Palmeiras. Em 1961, o gaúcho foi o primeiro goleiro brasileiro a disputar uma final de Libertadores, logo na segunda edição do torneio. Além disso, em 1965, o eterno guarda-metas palestrino esteve presente no histórico embate do dia 07 de setembro, quando o Palmeiras, por completo, representou a Seleção Brasileira em partida diante do Uruguai, valendo a Taça Independência: naquela oportunidade, o Palmeiras (Brasil) venceu a Celeste Olímpica por 3 a 1 e faturou o troféu.

VALDIR COM A CAMISA 1 DO VERDÃO

Jogos: 480
Vitórias: 291
Empates: 93
Derrotas: 96
Títulos: Campeonato Paulista em 1959, 1963 e 1966; Campeonato Brasileiro em 1960, 1967 (Torneio Roberto Gomes Pedrosa) e 1967 (Taça Brasil); Torneio Rio-São Paulo em 1965

Nome: Valdir Joaquim de Morais*
Nascimento: 23/11/1931
Falecimento: 11/01/2020
Naturalidade: Porto Alegre-RS
Período: 1958 a 1968
Clube anterior: Renner-RS
Posição: Goleiro
Jogos: 480 (291 vitórias, 96 empates e 93 derrotas)
*Seu verdadeiro nome termina com Morais, mas ficou conhecido como Moraes por engano.

DADOS
Estreia: Palmeiras 7×1 Ituano (28/09/1958)
Último jogo: Palmeiras 0x2 Estudiantes-ARG (16/05/1968)
Principais títulos: Campeonato Paulista em 1959, 1963 e 1966; Campeonato Brasileiro em 1960, 1967 (Torneio Roberto Gomes Pedrosa) e 1967 (Taça Brasil); Torneio Rio-São Paulo em 1965