Há 45 anos, Valdir de Morais deixava o gol e criava nova função

Agência Palmeiras
Departamento de História

O dia 16 de maio de 1968 marcou a despedida do goleiro Valdir Joaquim de Morais (*Porto Alegre, 23 de Novembro de 1931) do Palestra Italia. Valdir é considerado um dos melhores guarda-metas do Verdão em todos os tempos. E, além de fazer história dentro de campo, o gaúcho também deu sua contribuição para o Palmeiras atuando como técnico e preparador de goleiros – foi um vanguardista brasileiro no exercício desta função no Brasil.

Chegada ao Palmeiras

Foi em 1958 que se cruzaram os caminhos de Palmeiras e Valdir. À época, o Verdão dava início a uma nova era de sua história, reformulando o elenco na tentativa de montar um superesquadrão. Com a contratação do treinador Oswaldo Brandão e a venda do craque Mazzola para a Itália após a Copa do Mundo (que, naquele período, rendeu uma verdadeira fortuna para o clube), os dirigentes alviverdes não pouparam esforços para reforçar a equipe.

Com Brandão no comando, chegaram naquele ano pelo menos sete jogadores de qualidade, entre os quais estava Ênio Andrade, que indicou o goleiro Valdir ao então treinador do Palmeiras – Ênio e Valdir foram companheiros de time quando defendiam o Renner de Porto Alegre.

Naquele período, o goleiro Valdir já era visto como um atleta de qualidade, pois tinha integrado a Seleção Gaucha e havia sido campeão gaúcho pelo Renner (1954) e campeão pan-americano pela Seleção Brasileira (1956). No entanto, a consagração só veio mesmo quando passou a defender o Verdão.

Valdir chegou ao Palmeiras para ser titular e, apesar de medir 1,75 de altura (estatura considerada baixa para goleiros), o gaúcho fazia grandes atuações e ganhou posição de destaque no time.

Valdir brilha no Verdão

O goleiro Valdir debutou no Palmeiras em 1958. Naquele ano, também estrearam no time alguns ótimos jogadores, como Chinesinho, Julinho Botelho, Américo, Geraldo Scotto, Zequinha e Romero. Na temporada seguinte, em 1959, juntou-se ao elenco o já consagrado Djalma Santos. Estes nomes foram uma espécie de embrião do time que, anos mais tarde, ganhou a alcunha de “Academia”, pelo futebol de classe e tecnicamente apurado.

Em 1959, o Palmeiras vivia o maior jejum de títulos da sua história até então. A última conquista alviverde havia sido o Campeonato Mundial Interclubes, em 1951. A tarefa que parecia árdua foi realizada com eficiência pela nova legião de craques do Verdão, que conseguiram tirar o Palmeiras da fila com a conquista do Campeonato Paulista de 1959, diante do Santos de Pelé. Foi neste episódio histórico que o goleiro Valdir e seus companheiros de time ganharam credibilidade.

Desde 1954, com a saída do legendário Oberdan Catani, o Palmeiras procurava um goleiro à altura do antecessor. E, em pouco tempo, o gaúcho Valdir provou ser este homem. Com grandes atuações desde a sua chegada, Valdir de Morais tornou-se ídolo. Foi o primeiro goleiro da história do Palmeiras a se sagrar campeão brasileiro (1960) e ser finalista da Copa Libertadores (1961).

“O Valdir foi um dos maiores goleiros que eu vi jogar. Ele não fazia festa, pose nas defesas, nada disso. Ele ‘apenas’ tinha uma colocação fora de série. Se o atacante não tivesse tranquilidade, perdia o gol. O Valdir tinha uma presença que espantava os adversários”, conta o ex-atacante César Maluco.

Durante a década de 60 inteira, com exceção de 1969 (época em que o craque passou a defender o Cruzeiro), Valdir fez história no Alviverde, colecionando títulos e condecorações. Em 1965, o goleiro deixou seu nome registrado na súmula da partida que inaugurou o Mineirão, quando o Verdão foi convidado a representar a Seleção Brasileira por completo, do goleiro ao ponta-esquerda, do técnico ao massagista, inclusive os reservas, num amistoso diante da Seleção Uruguaia. Naquela oportunidade, o Palmeiras (Brasil) venceu a seleção celeste por 3 a 1.

Outro episódio marcante de sua trajetória ocorreu em 1966. Palmeiras e Corinthians se enfrentaram pelo Torneio Rio-São Paulo, e o Verdão vencia o clássico por 2 a 1 quando, aos 43 minutos do segundo tempo, o árbitro Olten Aires de Abreu marcou um pênalti a favor do Alvinegro. Ninguém menos que Mané Garrincha, que teve uma rápida passagem pelo Parque São Jorge, foi para a cobrança. Valdir defendeu o pênalti de Garrincha, e o Alviverde venceu o prélio.

Despedida

No dia 16 de maio de 1968, o gaúcho Valdir de Morais se despedia do Palmeiras. Foi diante do Estudiantes de La Plata (Argentina) que o arqueiro realizou sua derradeira partida com a camisa do Verdão. Na ocasião, o jogo foi válido pela final da Copa Libertadores, e a vitória por 2 a 0 deu o título aos argentinos.

Valdir defendeu a meta alviverde durante dez anos consecutivos. Ao longo deste período, a lenda acumulou 480 jogos com a camisa do Verdão, tornando-se o goleiro que mais vezes havia atuado pelo Palmeiras até então. Mais tarde, foi superado em números de partida por Emerson Leão (617) e Marcos (532).

Ao deixar o Palmeiras em 1968, o gaúcho ainda defendeu o Cruzeiro de Porto Alegre e encerrou sua brilhantíssima carreira por lá, em 1969.

Pioneirismo

Dois anos depois de pendurar as chuteiras, Valdir foi convidado pelo técnico Oswaldo Brandão para ser seu auxiliar no novo desafio que encararia à frente do Palmeiras. Valdir, porém, sugeriu fazer um trabalho específico com os goleiros – era a primeira vez na história que um especialista da posição seria o responsável pelo treinamento dos arqueiros. Brandão prontamente aceitou.

O gaúcho, então, passou toda a década de 70 no Palmeiras. Na década seguinte, exerceu a mesma função no São Paulo, onde permaneceu até meados dos anos 90, antes de voltar ao Palestra Italia. Participou das Copas de 1982 e 1986 como auxiliar-técnico de Telê Santana, trabalhou como coordenador técnico no Corinthians no fim dos anos 90 e teve mais duas passagens pelo Verdão até deixar o cargo em 2011.

“Como o primeiro na carreira de preparador de goleiros, ele foi muito importante para o Palmeiras e para o futebol brasileiro. Ele passou esta escola para as demais equipes e, por isso, está marcado na história. Hoje, essa é uma profissão. Sem contar a ‘Academia de Goleiros’ que se iniciou no Verdão. A maioria aprendeu coisas sobre colocação, reflexo e outras habilidades com ele”, destaca César Maluco.

Ao todo, Valdir contabiliza 42 títulos na carreira, incluindo as conquistas como jogador e membro de comissão técnica. Pelas mãos do preparador, passaram craques da posição como Leão, Gilmar, Zetti, Rogério Ceni e Marcos.

Valdir com a camisa número 1 do Verdão

Jogos: 480
Vitórias: 290
Derrotas: 96
Empates: 94

Títulos pelo Palmeiras

Campeonato Paulista: 1959, 1963 e 1966
Campeonato Brasileiro: 1960, 1967 (Taça Brasil) e 1967 (Roberto Gomes Pedrosa)
Torneio Rio-São Paulo: 1965

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Confira algumas imagens do goleiro Valdir com a camisa do Verdão: