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Desde janeiro de 1915, quando disputou a primeira partida de sua história, o Palmeiras jamais ficou tanto tempo sem entrar em campo como na atual temporada. Até o duelo com o Corinthians, agendado para 22 de julho na arena de Itaquera, a equipe alviverde completará exatos 129 dias sem jogos (o mais recente foi em 14 de março, no 0 a 0 com a Inter de Limeira), superando por pouco o recorde de 125 dias registrado em 1932.
A única paralisação superior a quatro meses no calendário do clube havia sido entre 4 de julho de 1932 e 5 de novembro de 1932, em decorrência da Revolução Constitucionalista (conflito ocorrido entre 9 de julho de 1932 e 2 de outubro de 1932, nos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, com o objetivo de derrubar o governo ilegítimo de Getúlio Vargas e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte).
Toda a sociedade civil paulista se mobilizou na revolução, inclusive os clubes. O Palestra doou taças, medalhas e outros pertences à campanha “Ouro para a Vitória”, visando a confecção de capacetes e munição, além de fazer repasses de dinheiro ao movimento, promover campanhas de arrecadação de materiais de higiene para envio às tropas, ceder o Estádio Palestra Italia para as forças armadas e contribuir com combatentes, sejam eles dirigentes (casos, por exemplo, do presidente Dante Delmanto e do diretor esportivo Ludovico Bacchiani, que se licenciaram dos cargos), jogadores (Ambrosini e Victorio Papaiz), ídolos (como Heitor, que defendeu o Palestra de 1916 a 1931 e é até hoje maior artilheiro do clube) ou associados (todos que serviam no fronte de batalha tiveram anistiadas as suas contribuições sociais).
Nesse contexto, o Palestra Italia venceu o Ypiranga por 4 a 2 no dia 3 de julho, pela 7ª rodada do Campeonato Paulista, e teve de esperar mais de 120 dias pelo compromisso seguinte. E, assim como em 2020, o adversário no retorno aos campos foi justamente o arquirrival Corinthians. O clássico do dia 6 de novembro de 1932, no Parque Antarctica, terminou em goleada palestrina por 3 a 0 (dois gols de Romeu Pellicciari e um de Sandro), resultado que deixou o Verdão com a mão na taça – por conta da interrupção, os organizadores decidiram que a competição se encerraria ao final das 11 rodadas do primeiro turno, em pontos corridos.
No dia 20 de novembro de 1932, pela 9ª e antepenúltima rodada do Paulista, o Palestra fez outro 3 a 0, desta vez na Portuguesa, no campo do Cambuci (mais dois gols de Romeu, artilheiro do torneio, e um de Avelino) e garantiu o quarto título estadual de sua história. Para fechar a campanha com chave de ouro, a equipe comandada por Humberto Cabelli ainda aplicou duas implacáveis goleadas: 9 a 1 no Germânia e 8 a 0 no Santos (até hoje a maior goleada da história do clássico), finalizando o torneio com 100% de aproveitamento (repetindo o feito de 1926).
O Paulista de 1932 acabou sendo o último campeonato amador na história do futebol brasileiro, já que em 1933 a profissão de jogador passou a ser reconhecida formalmente. Foi uma das épocas mais gloriosas do Palmeiras, na qual foram registradas as que até hoje são a 2º maior sequência de vitórias da história do clube (14 triunfos entre 01 de maio de 1932 e 08 de janeiro de 1933, atrás apenas das 23 vitórias entre 11 de fevereiro de 1996 e 01 de maio de 1996) e a 7ª maior sequência invicta (27 jogos entre 01 de maio de 1932 e 18 de junho de 1933), além da maior goleada do Derby contra o Corinthians (8 a 0 em 6 de novembro de 1933).
O Palestra Italia ainda se tornaria tricampeão paulista pela única vez em sua história, em 1932/1933/1934, e se sagraria campeão da primeira edição do Torneio Rio-São Paulo, em 1933. Também em 1933, o clube inaugurou o imponente Stadium Palestra Italia, concluindo o sonho iniciado na década anterior com a compra do Parque Antarctica em 1920 e oferecendo à cidade o primeiro estádio construído à base de concreto armado.
O duelo do próximo dia 22 de julho na Arena Corinthians é válido pela 11ª e penúltima rodada de classificação do Campeonato Paulista. Será a primeira vez em mais de 100 anos de Derby que o clássico será jogado sem presença de público. Na história do Palmeiras, foram duas ocasiões recentes com portões fechados: em 31 de julho de 2005, no empate por 1 a 1 com o Atlético-PR, pelo Campeonato Brasileiro (devido à invasão de campo de torcedores palmeirenses no jogo anterior, a partida também foi transferida do Palestra Italia para o Pacaembu), e em 17 de maio de 2015, no empate sem gols com o Joinville, pelo Brasileiro, desta vez na casa do adversário (os catarinenses foram punidos por uma briga de torcidas no último jogo deles em seu estádio).
Confira como foi a última vitória do Verdão antes da pausa no calendário: