Ministrinho estreava pelo Palestra Italia há 85 anos

Departamento de Comunicação

Divulgação _ Pedro Sernagiotto, o "Ministrinho", brilhou com a camisa alviverde nos anos 20 e 40O Palmeiras comemora nesta terça-feira (13) o 85º aniversário da estreia de Pedro Sernagiotto (*São Paulo-SP 17/11/1908 † São Paulo-SP 5/4/1965), ou, para os palestrinos, o eterno Ministrinho, um dos maiores craques da história do clube. O jogador que atuava na ponta direita tornou-se ídolo graças a sua personalidade incisiva e seu futebol tecnicamente apurado.

Chegada ao Palestra Italia

Filho de imigrantes italianos, Ministrinho nasceu e cresceu na região central da capital paulista, nas proximidades da Rua Augusta, local onde teve, na infância, seu primeiro contato com a bola de futebol. Ainda menino, participava das peladas que aconteciam nos tradicionais campos de várzea da região – que eram muito comuns no período. Logo, Ministrinho se destacou dentre os demais colegas e chamou a atenção de “olheiros” do Palestra Italia, que o levaram para integrá-lo nas categorias inferiores de futebol do clube.

Ao chegar ao Palestra Italia, o jovem talento recebeu do diretor de esportes Ítalo Bosetti o apelido de Ministrinho, pois sua postura e maneira de jogar futebol lembrava muito o já consagrado Giovanni Del Ministro, que também atuava na ponta direita (este porém, já defendia o quadro principal há muito tempo). Fazendo valer o apelido, o garoto seguiu os passos de Ministro rumo ao sucesso. Atuou pela equipe infantil, juvenil e pelo segundo quadro, ganhando todos os títulos e condecorações possíveis. Para que Ministrinho se integrasse à equipe profissional do Palestra era apenas uma questão de tempo, e não demorou muito.

A estreia no time principal

No dia 13 de novembro de 1927, Ministrinho finalmente realizava sua primeira partida no time principal em um jogo amistoso diante do Americano de São Roque. O duelo foi disputad no estádio Parque Antártica, e o Palestra Italia venceu o prélio por serenos 6 a 2. O jogo não poderia ser mais lisonjeiro para o estreante, que, além de participar ativamente da goleada, teve também a oportunidade de marcar um dos gols.

Apesar da boa atuação na estreia, a titularidade foi conquistada somente no ano seguinte, em 1928. A cada partida disputada, o jovem atleta deixava claro que não era um jogador comum, pois, aos olhos da comissão técnica, tratava-se de um atleta veloz, habilidoso, oportunista e com muita visão de jogo.

Titular absoluto

Em 1928, o ponta-direita tornava-se campeão pelo segundo quadro do Palestra e simultaneamente integrava o quadro principal, no qual havia praticamente ocupado a vaga de titular. Naquele ano, houve um amistoso contra o arquirrival Corinthians, cuja renda foi doada para as vítimas da tragédia do Monte Serrat, em Santos. O Palestra Italia venceu o embate por 1 a 0, com um gol de Serafini. Ministrinho, por sua vez, entrou em perfeita sintonia com o elenco.

Muito querido pela diretoria palestrina e por seus companheiros de time, a revelação logo caiu nas graças da torcida. Em pouquíssimo tempo sua popularidade elevou-se intensamente, a ponto de ser convocado em 1929 para defender as seleções Paulista e Brasileira.

Seleção Brasileira

Para enfrentar o Rampla Juniors, do Uruguai, em uma partida amistosa, a CBD (atual CBF) pediu apoio da APEA (atual FPF) para compor o elenco nacional, que seria formado apenas por jogadores que atuavam em São Paulo e no Rio de Janeiro. A APEA, por sua vez, deixou a disposição da CBD um total de nove atletas, sendo três do Corinthians, um do Independência e cinco do Palestra Italia, entre eles, é claro, Ministrinho.

O Rampla Juniors não era um adversário qualquer, pois o time contava com diversos membros da Seleção Uruguaia que fora bicampeã olímpica (1924 e 1928). Durante a tensão da partida, os uruguaios mostraram sua força e não cederam espaço para que o Brasil pudesse crescer no jogo. Quando o placar registrava empate por 2 a 2, Ministrinho surgia da maneira mais enfática, sendo chamado pelo treinador Laís para entrar no lugar do ponta Paschoal – jogador do Vasco da Gama que já atuava na Seleção Brasileira desde 1923 e era ídolo dos cariocas. Em pleno Rio de Janeiro, Ministrinho chamou a responsabilidade para si, mesmo sendo vaiado pelos torcedores que preferiam o “velho” Paschoal no time. Entretanto, o que ninguém imaginava é que a concepção de todos os espectadores presentes no prélio em relação ao jogador iria mudar drasticamente.

Após a entrada de Ministrinho, a equipe brasileira de fato melhorou muito taticamente, ganhou mais velocidade e chegou a assinalar mais dois tentos, conquistando até aquele momento a vitória parcial por 4 a 2. Com o placar confortável, sobrou tempo para que Ministrinho esbanjasse suas habilidades. Com dribles desconcertantes, o craque passava no meio de três, nenhum beque conseguia detê-lo. Com sua categoria, Ministrinho até parecia ter a experiência de um veterano, no entanto, com o condicionamento físico de um garoto.

Nos derradeiros minutos da partida, brilhou também a estrela de outro palestrino. Heitor Marcelino Domingues, o maior artilheiro da história do Palmeiras de todos os tempos, assumiu a camisa número um, ficando no lugar do goleiro Jaguaré, do Vasco (que já havia substituído o goleiro Amado, do Flamengo). O goleiro Jaguaré sofreu uma contusão e, por este motivo, só voltou a atuar na seleção meses depois, em junho. De imediato, indicaram o artilheiro Heitor para assumir o arco brasileiro, mesmo porque o Brasil não precisava mais fazer gols e, sim, não sofrer. Curiosamente, o plano surtiu efeito, pois Heitor, além de ser habilidoso com os pés, tinha também a mesma desenvoltura com as mãos –  o craque havia sido campeão de basquete um ano antes pelo Palestra. Segundo relato de familiares, o eterno ídolo palestrino media cerca de 1,90m. Mesmo com um jogador a menos, o goleiro Heitor não sofreu gols e conseguiu manter os mesmos 4 a 2 de minutos antes.

Ao apito do árbitro Afonso Teixeira de Castro que indicava o término da partida, os torcedores aplaudiram de pé os heróis “canarinhos” com o mesmo entusiasmo que aplaudiram Ministrinho quando perceberam que havia surgido mais um craque na posição. A cada passada, a cada drible e a cada chute na bola, Ministrinho conseguia impressionar a torcida, e os aplausos não foram para menos.

É inevitável mencionar este belíssimo episódio da história de Ministrinho sem mesmo compará-lo aos minutos de tensão que foi vivenciado da mesma maneira (décadas depois) por seu sucessor de posição, Julio Botelho – este foi escalado pelo técnico Vicente Feola para atuar no lugar de Mané Garrincha em 1959, em uma partida entre Brasil e Inglaterra. Muito vaiado por mais de 100 mil no Maracanã, aquele jogo, que para Julinho Botelho mais parecia ser um espetáculo de horrores, transformou-se em uma das mais preciosas pérolas do futebol. Naquele dia Julinho só não fez chover.

Pela Seleção Brasileira, Ministrinho jogou em 1929, 1930 e 1931 sob comando dos treinadores Laís, Píndaro de Carvalho e Luís Vinhaes, respectivamente.

Divulgação _ Ministrinho foi capa de jornal após ser campeão brasileiro de 1929 com a Seleção PaulistaCampeão brasileiro pela Seleção Paulista

A boa atuação no clube e na Seleção Brasileira rendeu a Ministrinho, naquele mesmo ano de 1929, a convocação para a Seleção Paulista. No período em que Ministrinho era jogador, o Campeonato Brasileiro existia não da maneira que conhecemos hoje.

Os principais jogadores de cada região eram convocados pela federação local para formarem uma seleção/combinado regional:  Seleção Paulista, Seleção Paranaense, Seleção Carioca, Seleção Gaúcha etc. As seleções deveriam se enfrentar em caráter eliminatório até que surgisse o time campeão brasileiro.

Atuando pelo Combinado Paulista, Ministrinho uniu-se a jogadores legendários dos maiores clubes de São Paulo, entre os quais estavam alguns de seu próprio Palestra, como Heitor, Bianco, Gogliardo, Amilcar e Serafini. Grandes jogadores renomados que pertenciam a outras equipes também ajudaram a compor a Seleção, como, por exemplo, Petronilho de Brito (Independência) e Armando Del Debbio (do Corinthians e que mais tarde viria a ser um dos maiores treinadores do Palmeiras).

Integrado ao supertime que contava com jogadores de nível de Seleção Brasileira, Ministrinho manteve o brilho de sua estrela participando de jogos decisivos e marcando gols importantíssimos, consagrando-se assim campeão brasileiro de 1929.

O primeiro adeus e o novo rumo

A carreira esportiva de Ministrinho estava em ascendência constante. Após o estouro do craque nos anos de 1928 e 1929, o ponta-direita permaneceu no Palestra Italia até meados de 1931, quando deixou o Brasil a procura de novos horizontes. Sua última partida pelo Palestra Italia foi um amistoso diante do poderoso Ferencvaros, da Hungria, então campeão da Europa Central. O Palestra Italia trucidou os húngaros, vencendo o prélio por 5 a 2. O detalhe é que o campeão da Europa Central já havia vencido grandes equipes no Brasil, como a própria Seleção Paulista dias antes. Nesta goleada, que aconteceu no dia 6 de julho de 1931, Ministrinho marcou um gol como forma de gratidão e despedida.

O craque recebeu uma proposta para jogar no futebol italiano, onde defenderia a Juventus, de Turim. Ministrinho aceitou a oferta e foi para a Itália. Ao conhecer as dependências do clube e se familiarizar com p novo ambiente, foi erroneamente orientado a assinar dois contratos. O equívoco lhe impediu de atuar durante um ano no futebol italiano. A Juventus, por sua vez, não demonstrou grandes preocupações, é claro, com exceção do fato de ter de ficar o resto do ano sem o jogador. Sabendo da pérola que tinham, os italianos não hesitaram em sustentar o craque até que sua situação contratual estivesse em dia.

No ano seguinte, portanto, Ministrinho se destacou no elenco, conquistou a torcida, virou ídolo e, como se não bastasse, o ponta foi o grande maestro da conquista do bicampeonato italiano pelo clube que defendia (1932/1933 – 1933/1934).

Retorno ao futebol brasileiro

Após consagrar-se herói internacional ao longo de quase três temporadas na Juventus, Ministrinho decide sair da Itália rumo ao Brasil, onde pretendia descansar e decidir seu futuro como jogador.

Contudo, Ministrinho não deixou a Itália sem antes receber das mãos de ninguém menos que o“Duce” Benito Mussolini uma medalha de gratidão pelo empenho, dedicação e bravura. Apesar do apelo da gente italiana, que cantava em prosa e verso clamando pela permanência do jogador, Ministrinho se deixou levar pelo coração e em 1934 voltou ao Brasil.

Ao chegar a São Paulo, Ministrinho reencontrou seus velhos companheiros do Palestra Italia e todos os outros amigos que havia feito no mundo do futebol. Em pouco tempo, integrou-se novamente à equipe palestrina, mas, desta vez, não conseguiu ajudar o time com a mesma intensidade de antes. Ministrinho sofrera algumas lesões ao longo da carreira e pretendia mesmo fazer exibições nos gramados, incentivar moralmente os companheiros e mostrar um pouco de suas habilidades com a bola nos pés.

Nesta segunda passagem pelo time esmeraldino, entre 1934 e 1935, Ministrinho entrou em campo apenas 7 vezes, acumulando 2 vitórias, 4 empates e 1 derrota. Não marcou gols.

No total, Ministrinho obteve três passagens pelo Palestra Italia – a derradeira aconteceu em 1941, onde permaneceu no clube esmeraldino até 1943. Antes de 1941, o jogador atuou pela Portuguesa de Desportos (1935) e depois por São Paulo (1936 a 1939).

Final de carreira e despedida

Prestes a completar 34 anos, Ministrinho resolveu pendurar as chuteiras de uma vez por todas, no mesmo lugar onde tudo começou. Em sua última passagem pelo Palestra/Palmeiras (1941 – 1943), o maestro atuou 17 vezes, obtendo 11 vitórias, 3 empates e 3 derrotas, balançando as redes adversárias 3 vezes.

A última partida de Pedro Sernagiotto pelo Palmeiras aconteceu no dia 14 de outubro de 1943, no Pacaembu, uma derrota por 2 a 1 contra o Vasco da Gama.

No total, Ministrinho jogou 118 vezes pelo clube, obtendo 72 vitórias, 28 empates e 18 derrotas. Marcou 36 gols.