Há exatos 50 anos, Chinesinho se despedia do Palmeiras

Departamento de Comunicação

Divulgação _ Chinesinho, em 1962, foi a maior transação do futebol brasileiroSidney Colônia Cunha (Rio Grande, 15/09/1935 – Rio Grande do Sul, 16/04/2011), mais conhecido como Chinesinho, defendeu o Palmeiras entre 1958 e 1962 e imortalizou sua identificação com o clube não só pelos títulos que conquistou, mas também por sua venerável performance dentro de campo, que inclusive lhe rende até hoje comparações com o divino ídolo da nação palestrina, Ademir da Guia, seu sucessor no meio de campo alviverde.

Chinesinho chegou ao Parque Antártica em julho de 1958 com status de titular. O então ponta-esquerda do Internacional foi procurado pelo Palmeiras a pedido do treinador Oswaldo Brandão, e a diretoria não poupou esforços para trazer a promessa do Rio Grande do Sul – existem registros indicando que, naquele período, a transferência foi uma das mais valorizadas do futebol brasileiro. A compra foi feita com parte do dinheiro da venda do atacante Mazzola, recém-campeão mundial pela seleção brasileira, para o Milan-ITA.

O Palmeiras vivia um momento conturbado em 1958, pois não conquistava títulos de expressão desde 1951, ano do Campeonato Mundial Interclubes – Copa Rio. Por conta disso, o presidente de época, Mário Beni, resolveu adotar uma medida radical para pôr fim ao jejum de títulos que já durava quase sete anos – até então, o mais longo tempo de fila na história palestrina. No último ano de sua gestão, Beni decidiu abrir de vez os cofres do clube, mas com muita cautela e planejamento. E para conduzir os investimentos, a cúpula diretiva contratou um velho conhecido da nação alviverde: Oswaldo Brandão.

Brandão foi zagueiro do Palmeiras nos anos 40 e, devido uma séria lesão no joelho esquerdo, foi obrigado a pendurar as chuteiras cedo. Mas logo ele estava de volta ao futebol, desta vez como técnico, e faturou seu primeiro título já em 1947, comandando o Verdão na conquista do Campeonato Paulista. A partir dali, Brandão começou a se destacar como treinador e passou por vários clubes antes de retornar ao Palestra Itália em 1958 com a missão de reformular o elenco e montar um time campeão.

Com total apoio da diretoria, mestre Brandão elaborou uma lista de jogadores que seriam de seu interesse. Além de Chinesinho, chegaram também os craques Djalma Santos, Julio Botelho, Romeiro e o volante Zequinha, que formou dupla no meio-campo com Chinesinho, entre outros. Foi ali que começou a ganhar forma aquele esquadrão inesquecível que é lembrado até os dias atuais pelo nome de “A Primeira Academia”.

Não demorou muito para que o novo planejamento começasse a surtir efeitos. Já na temporada de 1958, o Palmeiras disputou 38 partidas e obteve 24 vitórias, 7 empates e 7 derrotas. O título estadual, no entanto, ficou com o Santos. Mas no ano seguinte foi a vez do Palmeiras – e se iniciava ali uma era de domínio de Santos e Palmeiras que só terminaria em 1969.

Com o elenco já entrosado, o time verde e branco rumou ao título paulista com todas as forças, realizando uma boa campanha nos dois turnos. E simbolizando a nova era, na segunda metade do campeonato o antigo símbolo composto apenas pela letra “P” deu espaço na camisa ao escudo que é usado atualmente no uniforme da equipe – até então, o logotipo desenhado em 1942 era usado apenas para representar a instituição.

A taça veio pouco depois, em uma final disputada em uma melhor de três contra o Santos de Dorval, Jair da Rosa Pinto (ex-Palmeiras), Pelé e Pepe. O primeiro jogo foi 1 a 1, o segundo jogo 2 a 2 e, na finalíssima, o Verdão venceu por 2 a 1 com gols do capitão Julinho Botelho e do homem das bolas paradas, Romeiro, de falta.

Divulgação _ Chinesinho em 1959Um fato curioso aconteceu no dia 5 de julho de 1959, em um empate por 0 a 0 com a Portuguesa, pelo primeiro turno do Campeonato Paulista. O goleiro Valdir de Morais se machucou, e os times não tinham direito a substituição. Foi então que Brandão mandou o meia Ênio Andrade para o gol e deslocou Chinesinho para o meio de campo. Naquele momento, Chinesinho jogou com muito mais facilidade e liberdade. Brandão percebeu que a ponta esquerda era um desperdício para um jogador tão talentoso e, a partir daquele dia, o craque gaúcho assumiu a função de armador do time. Para suprir a vaga na ponta, Brandão optou pelo pernambucano Géo.

Chinesinho esbanjava habilidade com a bola nos pés e tinha traços de personalidade de um verdadeiro líder. Foram essas características que o levaram ao olimpo da imortalidade. Além do Paulistão de 1959, Chinesinho também foi determinante na conquista da Taça Brasil de 1960, primeiro título nacional do Verdão.

Em 25 de agosto de 1962, à véspera do 48º aniversário do Palmeiras, o gaúcho fez sua despedida com a camisa verde na vitória por 1 a 0 sobre o Juventus (gol de Américo), no Pacaembu, pelo primeiro turno do Campeonato Paulista. A venda para o Modena-ITA garantiu um presente e tanto para o clube: o dinheiro arrecadado foi usado para reformar o estádio Palestra Itália, que ganhou uma aparência modernizada com a construção do elegante jardim suspenso, em homenagem ao bíblico jardim suspenso da Babilônia. Sem dúvidas, um legado e tanto deixado pelo craque.Divulgação _ Chinesinho ilustrou jornais da época

Uma das maiores injustiças do futebol brasileiro talvez tenha sido a não convocação do craque para a Copa do Mundo de 1962, disputada no Chile, da qual o Brasil sagrou-se bicampeão. Na ocasião, o técnico da seleção brasileira, Aymoré Moreira, viu-se entre a cruz e a espada, pois teria de optar por Didi ou Chinesinho. Algumas pessoas relatam que, no período, Chinesinho estava mais apto a assumir a posição. Outros, porém, não escondem a admiração por Didi e o preferiam no time. Independentemente de tudo isso e acima de qualquer opinião, a decisão de Aymoré foi tomada. O treinador preferiu levar (também por méritos próprios) o grande Didi.

Já Chinesinho também procurava novos horizontes, e decidiu que seria naquele dia 25 de agosto de 1962, portanto há exatos 50 anos, que faria sua última partida pelo Verdão antes de brilhar no futebol italiano – passou também pelo Catania e mais tarde pela Juventus, com a qual foi campeão nacional na temporada 1966-67.

A saída do craque também se deu porque seu substituto, depois de um ano de preparação e paciência, já se mostrava apto para assumir a posição. Ademir da Guia não poderia ter sido um nome melhor para herdar a camisa 10 de Chinesinho, que, ao todo, disputou 242 jogos e obteve 149 vitórias, 47 derrotas e 46 empates, balançando as redes adversárias 55 vezes.

Como treinador, foi técnico do Palmeiras em 1985, dirigindo o clube alviverde em apenas 14 partidas.

Ficha Técnica do jogo de despedida

Palmeiras 1 x 0 Juventus

Data: 25/08/1962 (sábado)
Competição: Campeonato Paulista
Estádio: Pacaembu, em São Paaulo (SP)
Árbitro: Eunápio de Queiroz
Publico/Renda: Não Disponível / Cr$ 1.474.300,00
Gols: Américo (Palmeiras)

Palmeiras: Valdir; Djalma Santos, Valdemar Carabina e Aldemar; Perinho e Zé Carlos; Gildo, Américo, Alencar, Chinesinho e Geraldo II
Técnico: Maurício Cardoso

Juventus: Morais; Diógenes, Milton e Paulo; Jair e Clovis; Gilberto, Da Silva, Joaquim, Luiz e Pinga

Titulos pelo Palmeiras:

Campeonato Paulista – 1959
Torneio do México – 1959
Campeonato Brasileiro (Taça Brasil) – 1960
Taça Adhemar de Barros – 1960
Torneio Quadrangular de Lima/Peru – 1962
Torneio Cidade de Manizales – 1962
Troféu João Mendonça Falcão – 1962