Ídolo eterno, Evair completa 50 anos neste sábado; relembre a carreira do Matador

Luan de Sousa
Departamento de Comunicação

Evair festeja neste sábado (21) 50 anos de idade. Em meio século de existência, ele, o ilustre cidadão de Crisólia, distrito de Ouro Fino-MG, conquistou uma trajetória vitoriosa no futebol, títulos, reconhecimento, convocações à Seleção Brasileira e, principalmente, a idolatria e o carinho de uma exigente massa de 16 milhões de torcedores. Hoje é dia de reverenciar e dizer mais uma vez “Obrigado, Matador”. Veja agora um resumo da história do inesquecível camisa 9 alviverde.

Evair Aparecido Paulino é o primogênito do casal Seu José e Dona Teresa. A infância no interior de Minas Gerais foi bem pobre. Inúmeras vezes o menino teve de acompanhar os pais na lavoura de café. A situação se agravou com as chegadas dos irmãos Luisa e Odair. Ele, já louco por futebol à época, não sabia, mas, muitos anos depois, olharia para trás e valorizaria cada suor derramado por seus familiares.

O grande incentivador de Evair nos seus primeiros anos foi o avô Mané Cesário. Era ele, inclusive, quem o liberava antes da hora da roça para participar de seus bate-bolas com os amigos. Seu Mané tinha o sonho de vê-lo vestindo a camisa da Seleção. Quando virou realidade, Evair só pôde agradecê-lo olhando para os céus.

“O dono do cafezal perguntava para o meu avô por que ele me deixava sair antes todos os dias, e ele respondia que eu ia jogar bola com os amigos porque um dia eu ia jogar na Seleção. Ele não me viu vestindo a amarelinha, e essa é uma das maiores tristezas da minha vida”, conta Evair.

[album]

Com o passar do tempo, o futebol virou coisa séria e algumas peneiras começaram a ser feitas. Quando o teste no Guarani foi marcado, ele, dentro do seu íntimo, sabia que ia ser aprovado. “Quando eu soube que ia fazer teste no Guarani, eu me preparava, saía correndo por Crisólia sem destino. Corria por uma estrada de terra até o pé do morro e voltava. Não sabia o que queria dizer aquilo, mas sentia que ia dar certo”.

O ônibus para Campinas-SP partiu às 5h40 da rodoviária. No interior de São Paulo-SP, os calos das mãos, criados na colheita de café, mudaram para os pés. Aprovado, Evair começou a jogar nas categorias de base como meio-campista. Ele morava embaixo das arquibancadas do Brinco de Ouro, dormia com calor, com frio e recebia uma parca ajuda de custo. A força vinha da vontade de mudar a história da família.

Destaque na base, ele foi promovido aos profissionais por Lori Sandri em 1984. Do meio, ele virou atacante e o gol passou a ser o seu grande amigo. No Campeonato Brasileiro de 1986, Evair disputou o posto de artilheiro com Careca, do São Paulo, e perdeu apenas por um tento. Em 1987, foi convocado e campeão pan-americano pelo Brasil e, na temporada seguinte, com a artilharia do Paulista (com 19 bolas na rede), transferiu-se para a Atalanta-ITA.

A equipe de Bergamo-ITA, recém-promovida para a 1ª divisão, queria alçar voos maiores e não poupou esforços para trazer o prodígio brasileiro. O atacante, municiado pelo sueco Glenn Stromberg, levou o time para o sexto lugar do Calcio em sua primeira temporada. No ano seguinte, a Atalanta trouxe o argentino Caniggia para formar dupla com o brasileiro. O resultado foi uma vaga nas quartas de final da Copa da Uefa. A dupla sul-americana até hoje é aclamada na região da Lombardia. Na Velha Bota, ele pôde enfrentar e vencer o Milan de seu ídolo pessoal, o holandês Marco van Basten.

Após o período na Itália, Evair decidiu voltar ao Brasil e escolheu o Palmeiras em 1991. O começo, porém, não foi fácil. Ele, além de chegar via uma troca com Careca Bianchesi (um dos destaques do time na ocasião, chegando até a Seleção), foi rotulado pela imprensa como ‘bichado’ e mais um ‘mau negócio’ da diretoria palestrina. Sem contar que o clube não conquistava um título desde 1976 e a pressão era gigante.

“O Guarani, quando me vendeu, disse que eu tinha uma hérnia de disco para ter uma desculpa para dar à torcida. Aí, quando regressei ao Brasil para atuar no Verdão, essa história voltou. Ou seja, cheguei já quase indo embora. Falavam que eu era bichado, que eu não ia passar no exame médico. Havia jogado por três anos na Atalanta sem sentir nada”, relembra.

Em 1992, mais um contratempo. Evair, por ‘deficiência técnica’, acabou afastado pelo técnico Nelsinho Baptista. “Era um ambiente difícil, complicado. Era quase impossível de se viver. O campeonato começou e não conseguimos vitórias nos primeiros jogos. Corríamos, mas as coisas não davam certo. Escolheram quatro jogadores e eu estava no meio”.

O atacante, ao invés de se rebelar, aceitou a situação, treinou separado e esperou por cinco meses. No fim do mesmo ano, a redenção. Com a chegada da Parmalat e do treinador Otacílio Gonçalves, ele foi reintegrado. E que sorte a do Verdão!

Em 1993, Evair, ao lado de Edmundo, Roberto Carlos, Antônio Carlos, César Sampaio, Mazinho etc, voou baixo. Foram 18 gols. Na finalíssima, no famoso dia 12 de junho, ele foi o encarregado de cobrar o pênalti na prorrogação contra o arquirrival Corinthians (do mesmo Nelsinho Baptista) e não decepcionou. Respirou fundo, deu passos largos e, de cabeça alta, bateu no canto esquerdo. Fim do jejum de quase 17 anos. “Não, não poderia ser melhor. Se eu quisesse escrever o que foi aquele dia, não conseguiria. Por tudo que passei, todas as dificuldades, a minha recepção pela imprensa… não poderia ser melhor. Foi o dia que Deus escolheu para mim. Marcou minha vida. Ganhei Libertadores e vários outros títulos, mas esse foi o mais importante para mim”.

O Matador da torcida palmeirense seria ainda bi paulista e bi brasileiro em 1994 (ano em que assinalou 53 gols e se tornou o recordista de tentos em uma temporada na história do clube). Mas o pênalti de 1993, seguido pela comemoração com os braços abertos, até hoje não sai da retina e da memória dos alviverdes.

Em 1995, Evair, apesar de mais uma vez ter recebido – e recusado – uma proposta do rival Corinthians, foi para o Yokoma Flugles, do Japão, junto dos amigos César Sampaio e Zinho. Na Terra do Sol Nascente, agiu como uma espécie de professor para ‘abrasileirar’ o, à época, amador futebol japonês – antes, Zico tinha desempenhado o mesmo papel.

Em 1997, voltou ao Brasil para defender o Atlético-MG, mas foi no Vasco, no mesmo ano, que ele, reeditando a dupla com Edmundo, voltou a jogar bem. Em 1998, foi para a Portuguesa até que, na temporada seguinte, retornou ao Palestra Italia. Afinal, o Verdão não poderia conquistar a América sem seu matador. Na decisão da Copa Libertadores contra o Deportivo Cali-COL, ele marcou o primeiro gol da vitória palmeirense. E foi de pênalti novamente. “Aquele foi mais difícil do que o de 1993. Naquele Paulista, eu estava muito mais preparado. Em 1999, saí do banco para bater…”

No fim de 1999, Evair foi reserva e entrou no decorrer da derrota para o Manchester United-ING, no Mundial Interclubes. Mas a história dele no Palestra não terminou. Primeiro, porque o torcedor nunca o esquecerá (foram 245 jogos, 137 vitórias, 53 empates, 55 derrotas e 127 gols). Segundo, porque Evair sonha em um dia treinar o Verdão. Isso só o tempo irá dizer.

A partir de 2000, o atacante passou por São Paulo, Goiás, Coritiba e Figueirense, clube que encerrou a carreira em 2003. Como treinador, comandou Vila Nova, Anápolis, Crac, Itumbiara, Uberlândia e River-PI.

Confira uma coletânea de 50 gols do nosso eterno camisa 9

var element = document.getElementById(‘player-wrapper’);
new WM.Player( { videosIDs: 3979658,
width: 620,
height: 458 } ).attachTo(element);

Veja momentos da dupla Evair e Caniggia e a homenagem que eles receberam da torcida da Atalanta em 2008