Retrospectiva 2017: Entre risos e lágrimas, craques da Segunda Academia se reencontram

Bruno Alexandre Elias
Departamento de Comunicação

Sargentão; Gaguinho, Chevrolet, Ketchup e Sapão; Chimbica e Carneiro; Cabeça de Bala, Galã, Maluco e Pigaia. Nem o mais fanático torcedor do Palmeiras conhece esta escalação. Mas acredite: ela foi uma das mais vitoriosas do futebol brasileiro em todos os tempos. A formação acima reúne os apelidos dos jogadores que, há 45 anos, entraram para a história graças a uma temporada perfeita, durante a qual conquistaram os cinco títulos em disputa: Paulista, Brasileiro, Taça dos Invictos, Torneio Mar del Plata e Laudo Natel.

Rememorar este esquadrão é como recitar um poema: Leão; Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei. A convite da Revista Palmeiras, os craques da Segunda Academia, como a equipe supercampeã em 1972 ficou conhecida, se reencontraram no centro de treinamento do Verdão, na tarde de 28 de agosto, horas antes do banquete de celebração do aniversário de 103 anos do clube.

Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação_Em agosto, os craques da Segunda Academia se reuniram no centro de treinamento do Palmeiras

O encontro estava marcado para as 14h30. Exatamente nesse horário, o primeiro carro cruzou o portão de entrada da Academia de Futebol. Dele, saiu um senhor alto, de cabelos brancos: Emerson Leão. Não foi uma surpresa.

“Na nossa época, ele já era o primeiro a chegar aos treinos e o último a sair. Sempre foi pontual e dedicado, não se contentava em fazer apenas a obrigação. Era um sargentão linha-dura que exercia uma liderança natural sobre a equipe”, recordou-se o ex-lateral Eurico, amigo de infância do ex-goleiro – ambos cresceram juntos em Ribeirão Preto (SP).

Três minutos depois de Leão, entrou no CT o ex-atacante Mário Motta, o mais jovem do elenco alviverde em 1972 – hoje tem 63 anos. No estacionamento, Mário e Leão se olharam com atenção, como se tentassem reconhecer um ao outro. Eles não se viam havia mais de três décadas.

“Quem diria? Olha o grande Mário aí! Que diferença, hein? Você era magrinho. O que aconteceu?”, brincou Leão. “Pois é, o tempo passa para todo mundo, inclusive para você”, devolveu Mário, entre risos.

O ex-ponta Edu se juntou à conversa às 14h35. Famoso pela velocidade, o eterno camisa 7 logo foi vítima das piadas de um bem-humorado Leão. “Acho que hoje chegamos mais rápido do que o Bala, hein, Mário?”, provocou. 

Às 14h45, o trio se dirigiu à recepção do Centro Crefisa Capitão Adalberto Mendes, onde pôde matar a saudade de Eurico, Luís Pereira, Nei e Zeca, além de Polaco e Ronaldo, reservas do time de 1972. O sexteto, que não mora em São Paulo, havia se reunido pela manhã em um hotel da capital paulista. Eles foram levados à Academia de Futebol pela Palmeiras Tour, agência oficial de eventos e viagens do Verdão.

Abraços e risadas

Às 14h59, a turma já estava quase completa. Quase… dos 11 titulares, faltavam Ademir da Guia, Alfredo, César, Dudu e Leivinha. Carneiro, Galã e Maluco – como Ademir, Leivinha e César eram chamados pelos colegas – não demoraram a aparecer. Ketchup (Alfredo) chegou em seguida e ganhou um abraço apertado de Chevrolet (Luís Pereira), com quem formou uma memorável dupla de zaga.

Cada encontro era sucedido por gargalhadas. O clima descontraído perdurou no vestiário, onde os ídolos foram presenteados com o uniforme de treino do atual campeão nacional. Enquanto se trocavam, César e Edu não perdiam a oportunidade de brincar sobre a atual forma física dos ex-companheiros.

Às 15h34, foi a vez de Dudu se somar ao grupo. Volante titular do Alviverde nas duas Academia (nos anos 1960 e 1970), o mais experiente jogador da equipe de 1972 – à época, tinha 32 anos – foi recebido com uma salva de palmas. "Só o Chimbica se atrasou, pô?", caçoou Zeca, entregando o apelido do ex-camisa 5. Outras alcunhas surgiram: “O Ademir era o Carneiro”, lembrou-se Dudu. “E o Nei era o Pigaia”, emendou Leivinha. 

Do vestiário, as lendas palmeirenses caminharam rumo a um dos campos, onde foram fotografados para o pôster desta edição da Revista Palmeiras. “Foi o ponto alto do encontro. Vou guardar esta foto para o resto da minha vida”, afirmou Alfredo, sorrindo de orelha a orelha. “Muitos torcedores nem nos viram jogar, mas sabem de cor os nossos nomes. Agradeço a Deus por todos nós estarmos vivos para aproveitar este momento. Agradeço também ao clube pelo carinho e pela lembrança. Não preciso de mais nada.”

O dia reservou outras emoções aos craques. Eles tiveram a oportunidade de conhecer o centro de excelência, estrutura utilizada pelo elenco profissional do Verdão desde janeiro. O passeio começou pelo hotel e seguiu até a área de lazer. No anfiteatro, Leão pediu a palavra: “Todos nós fizemos mais de 300 jogos pelo Palmeiras. Muitos vestiram a camisa da Seleção. Outros atuaram por grandes clubes da Europa. E mesmo se algum de vocês nunca jogou na Seleção ou na Europa, pode se sentir orgulhoso por ter feito parte deste time do Palmeiras de 1972”, disse o ex-camisa 1.

No campo de aquecimento, os craques se sentaram em círculo para conversar. Foi o momento de externar os sentimentos que o reencontro lhes causou. Ademir se emocionou ao discursar: “Quando cada um de vocês chegou para defender o Palmeiras, eu já estava aqui. Recebi um por um e, por isso, tenho um carinho enorme por esse grupo”, afirmou. “Nós éramos uma família… dividir esse momento com vocês, depois de mais de quatro décadas, é uma honra.”

A tarde histórica se encerrou com um lanche oferecido pelo Verdão aos ídolos. Às 18h, todos eles já haviam saído do CT. Motivo: precisavam se trocar para o banquete, que teria início em menos de duas horas.

Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação_ Os ídolos de 1972 tiveram uma tarde de descontração e emoção na Academia de Futebol

Uma noite divina

O relógio marcava 19h31 quando as lendas, já de terno e gravata, se reencontraram no Espaço das Américas – a casa de show localizada na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo, foi o local escolhido para a comemoração pelo aniversário do Alviverde. Os craques acreditavam estar lá como meros convidados; não faziam ideia de que seriam, merecidamente, homenageados.

Minutos após entregar uma placa para Ademir da Guia, o presidente Maurício Galiotte convidou todos os campeões a subir no palco. Cada um deles recebeu uma medalha das mãos do mandatário como forma de agradecimento pelo empenho dedicado ao Maior Campeão do Brasil. Foram aplaudidos de pé pelo público. Conhecido pela seriedade, Leão chorou ao falar sobre a importância do Palmeiras em sua vida. O ex-goleiro contou ter conhecido sua mulher, com quem é casado há 41 anos, graças ao clube pelo qual atuou em 618 jogos.

Os heróis ainda jantaram juntos em uma área reservada antes de se despedir. O banquete acabou, mas não as lembranças de um time que permanecerá vivo na memória do torcedor palmeirense durante a eternidade.

Por onde andam os heróis de 1972

Leão
Encerrou a carreira em 1986. Como técnico, comandou grandes clubes e a Seleção. Aos 68 anos, é comentarista de TV. 

Eurico
Pendurou as chuteiras em 1982. Aos 69 anos, mora em Ribeirão Preto (SP), onde é dono de uma escolinha de futebol. 

Luís Pereira
Parou de jogar em 1993. Desde 2002, trabalha nas categorias de base do Atlético de Madrid-ESP. Tem 68 anos. 

Alfredo
Aos 70 anos, reside no bairro do Tatuapé, em São Paulo. Dedica-se a projetos sociais e é supervisor do Sport Club Atibaia. 

Zeca
Aos 71 anos, vive em Porto Alegre (RS). Foi auxiliar técnico do Grêmio, time do qual também é ídolo, por quase duas décadas. 

Dudu
Encerrou a carreira em 1976 e, em seguida, foi treinador do clube. Aos 76 anos, dá aulas em escolas de futebol de São Paulo. 

Ademir da Guia
Aos 75 anos, continua respirando Palmeiras. Joga pelo time máster do Verdão e participa de eventos de parceiros do clube. 

Edu
Mora na capital paulista, onde é professor de uma escola de futebol. Despediu-se dos gramados em 1989. Tem 68 anos. 

Leivinha
Saiu do Palmeiras para defender o Atlético de Madrid-ESP. Parou de jogar em 1979. Aos 67 anos, mora em São Paulo. 

César
Chegou a dirigir as categorias de base do Alviverde, do qual é conselheiro. Aos 72 anos, participa da vida política do clube.

Nei
Mora em Ibitinga (SP), onde teve uma pizzaria. Atualmente, ocupa o cargo de secretário de Esportes da prefeitura da cidade.

Ronaldo
Reside em Belo Horizonte (MG). Aos 71 anos, trabalha como corretor de imóveis. Antes, foi dirigente do Atlético-MG. 

Polaco
Tem 67 anos e mora em Rancharia (SP), sua cidade natal, onde é dono de um posto de gasolina. Atuou no Verdão até 1975.

Mário Motta
Deixou o Palmeiras em 1975. Aos 63 anos, reside em Vargem Grande Paulista (SP). Trabalha como advogado.

A Segunda Academia em números

– O Palmeiras nunca perdeu com sua formação clássica (Leão; Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei). Foram 18 jogos, com oito vitórias e dez empates. 

– A maior série invicta da história do Verdão aconteceu de 5 de dezembro de 1971 a 17 de junho de 1972: foram 39 jogos, com 26 vitórias e 13 empates.

– Durante a temporada de 1972, o Alviverde perdeu apenas cinco dos 80 jogos disputados. É o menor número de derrotas sofridas pelo clube em uma mesma temporada na era profissional (a partir de 1933).

– O ano de 1972 também ficou marcado por ter registrado a menor média de gols sofridos pelo clube: 0,55 por jogo.

Quem mais jogou em 1972

1º Zeca – 78 jogos
2º Nei – 76 jogos
3º Ademir da Guia – 75 jogos
    Luís Pereira – 75 jogos
    Alfredo Mostarda – 75 jogos

Os artilheiros de 1972

1º Leivinha – 28 gols
2º César – 25 gols
3º Nei – 16 gols

Os cinco títulos no mesmo ano

Torneio Mar del Plata 
O título veio durante uma excursão pela Argentina. A campanha alviverde teve três vitórias e três empates, contra Peñarol-URU, Boca Juniors-ARG e San Lorenzo-ARG – a competição foi disputada em turno e returno.

Torneio Laudo Natel
Após vencer a Ferroviária por 1 a 0, o Verdão empatou sem gols com o São Paulo, mas se classificou nos pênaltis para a final. O triunfo por 2 a 1 sobre a Portuguesa assegurou a conquista do troféu.

Campeonato Paulista
Sob o comando do técnico Oswaldo Brandão, o Alviverde foi campeão estadual invicto pela primeira e única vez em sua história: 15 vitórias e sete empates em 22 jogos. Foram 33 gols marcados e apenas oito sofridos. 

Campeonato Brasileiro
Depois de uma campanha quase perfeita, o Alviverde empatou sem gols com o Botafogo para garantir a taça. Em 30 partidas, o time de Ademir da Guia e companhia sofreu apenas quatro derrotas.

Taça dos Invictos
Era uma premiação organizada pelo jornal “A Gazeta Esportiva”. O clube que por duas vezes, seguidas ou alternadas, acumulasse o maior número de partidas sem perder no Paulista ficava com a taça.

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