Sampaio: Vou recuperar a confiança dos jogadores

Agência Palmeiras Marcelo Cazavia

O novo gerente de futebol do Palmeiras, César Sampaio, foi apresentado nesta sexta-feira [04] pelo vice-presidente Roberto Frizzo e se mostrou bastante confiante para o novo desafio na carreira. “Vim trazer a paz, recuperar a confiança dos jogadores e evitar alguns ruídos de comunicação”, comentou o ex-jogador.

Frizzo comemorou a chegada de Sampaio e ressaltou que a sua contratação já era um sonho antigo. “Este assunto começou há quatro anos, quando fui candidato à presidência. Naquele momento, já pensávamos em trabalhar juntos um dia. Apesar de tudo o que disseram, nunca fui contra ter um gerente de futebol. Eu era contra a vinda de alguém por vir, mas a vinda do César é outra história. Ele está preparado e maduro para o exercício da função”, destacou.

Confira os principais trechos da entrevista coletiva de Sampaio:

A volta para casa

Cheguei pela primeira vez em 1991 e estávamos 16 anos na fila. Era uma situação adversa, mas com um cenário não muito diferente do de hoje, de insegurança. Na ocasião, nós, jogadores, abraçamos a causa dentro de campo e assumimos a responsabilidade. A partir do momento em que eu assumo um cargo, me engajo totalmente. Até por isso, não aceitei os outros dois convites que me foram feitos no passado pelo próprio Palmeiras. Eu precisava me preparar melhor, e meus últimos quatro anos e meio foram importantíssimos para que eu pudesse estar aqui hoje. Posso contribuir não só com a experiência de ex-atleta, mas também acadêmica. Trabalharei na parte administrativa, de gestão, estratégias, admissão, demissão, correção de rota, essas coisas.

O desafio

Uma das condições que negociamos com a diretoria era poder ser ouvido nas ideias. Não que das outras vezes em que fui convidado eu não tenha negociado, mas é que hoje tenho pontos de vistas mais claros. Não sou dono da verdade nem mágico, mas o Palmeiras tem problemas, senão eu não precisaria ser contratado. Mais importante do que enfrentar os problemas, é saber corrigi-los.

Primeiros atos

A realidade é que algumas peças do elenco não funcionaram. Não que não tenham qualidade, só não funcionaram. Se fizermos as mesmas coisas para o ano que vem, dificilmente vai ser diferente. Para este término de campeonato, é importante ter atitude. Nos clubes onde esses jogadores estavam, eles foram destaque, então têm qualidade. O Palmeiras é uma grande marca, maior do que todos nós. É importante mostrar isso a todos neste fim de campeonato e, para 2012, aí sim, com tempo maior, embora não o suficiente, equacionar todas as questões e fazer um ano digno das glórias.

Meio-campo

Venho fazer o elo entre atletas e comissão, atletas e direção e direção e comissão. Por ter jogado no meio de campo por muito tempo e ter atuado em grupos complicados, acho que consigo transitar bem. Neste momento, o Palmeiras precisa de paz. Vim trazer a paz, recuperar a confiança dos jogadores e evitar alguns ruídos de comunicação para que o clube possa terminar bem a competição. Não temos muito tempo. Temos que corrigir. Falei para os atletas que eu acredito e quero fazer com que eles também acreditem. Vamos ajeitar a área para que as pessoas que não queiram abraçar a causa por insegurança possam se sentir mais confortáveis.

Hierarquia

É o presidente Tirone, o Frizzo, eu, o Galeano e a comissão. Vai ser um colegiado. O treinador direciona as contratações junto com o Galeano e nós aprovaremos ou não. A responsabilidade é de todos. Temos um treinador campeão do mundo, ganhamos tudo aqui, o Galeano também é uma marca forte e todos nós queremos a mesma coisa. Temos que esquecer os egos, tirar o crachá do peito e trabalhar juntos.

Trabalhos anteriores

Aprendi bastante ao longo dos anos, foi o osso que roemos. Comecei em 1998 com o Guaratinguetá e subimos de divisão. Depois, profissionalizamos a gestão do Figueirense. Porém, vi que só a parte de bola não dava, então fui estudar, me interar um pouco da parte de negócio. Depois disso, fui para o Pelotas, o Rio Claro, o Mogi Mirim. Em alguns obtivemos sucesso, em outros nem tanto, mas futebol é assim mesmo. Foram anos de aprendizado.

Pressão da torcida

Quando eu cheguei aqui pela primeira vez, era muito pior. Saíamos três horas depois dos jogos, dentro de camburão. Colocaram uma arma na boca do treinador de goleiros. Jogar em um clube como o Palmeiras é uma exposição muito grande. O atleta tem que procurar preservar a identidade. Lidamos com 15, 16 milhões de apaixonados e que podem ser capazes de tudo.

Identificação

Eu sou palmeirense. A minha identificação com o clube não vai mudar apesar do que aconteça. Meu cargo é de resultados. Se eu não tiver resultado, se não atender às expectativas do chefe, estou fora. Uma coisa é a parte afetiva, carismática, mas agora eu tenho que construir outra coisa. É difícil separar. Mas vamos trabalhar firme, ver quem é quem aqui e quem abraça a causa, senão a gente para o ônibus e ele desce.

Contratações

Temos problemas econômicos, mas, no meu ponto de vista, temos que contratar realidades, e as realidades são caras. Vamos ter que priorizar alguns nomes, algumas posições, para minimizarmos os erros. Quanto mais contratar, mais chance de errar temos. Interessante é, a cada ano, corrigir a rota do que montar de novo. E isso passa pelas categorias de base também. É preciso criar essa identidade, buscar lá embaixo primeiro. Alguns clubes têm sustentabilidade porque já têm o DNA. O jogador já é formado e preparado para, quando chamado, corresponder. O mercado está caro, uma loucura. Concorrer com euro, dólar, é complicado. Somos um país formador e temos que fazer jogadores em casa, tentar segurar os meninos aqui. E, claro, reabastecer.

Perfil para 2012

Estou conhecendo o grupo agora. Estamos acompanhando via jogos, no estádio e pela TV, e acho que faltam alguns pilares. O Marcos jogou pouco, o Valdivia se machucou, enfim. Fizemos um primeiro turno muito bom, mas não houve continuidade porque algumas peças oscilaram bastante. Precisamos de mais pilares. O Dunga me ensinava muito no meu começo de carreira. É necessário que, quando se olhe do lado, veja alguém com segurança, alguém que te acalme, que te muda de posição. Os pilares não são importantes só esportivamente, mas para dar estabilidade ao grupo. É esse jogador que eu quero.

Kleber

Eu não vivi a história, só li, acompanhei externamente. Não sei se o Kleber quer ficar. Não sei se existem propostas. Mas se for preciso conversar com alguém sobre isso, eu converso também. Eu estou aqui para somar. Se eu sair amanhã e o Palmeiras ficar mais forte, está ótimo. Quero fazer o que acho que está faltando mesmo. Precisamos de diálogo.

Relação comissão e diretoria

O sucesso do Felipão é o meu sucesso, do grupo e do Frizzo. Eu vim de uma reunião agora, na qual estávamos eu, o presidente, o Frizzo e a comissão. Foi uma conversa de alto nível. Tudo em cima da mesa, tudo às claras. A gente lê muita coisa e não sei se existe algum problema entre as partes, mas o ambiente que eu encontrei é um em que todo mundo quer melhorar.

Autonomia

Essa foi a maior dúvida que sempre tiveram, pela minha ligação com o treinador. Mas eu estou aqui para isso. O que eu achar que não está correto, vou dizer. Vamos bater esse papo, fazendo um contraponto mesmo. Nas divergências, a gente cresce, constrói algo novo. Eu era capitão com ele, e era só enrosco. Tem que saber falar com ele. Temos uma boa relação boa.