Valdivia explica retorno inesperado ao Verdão e avisa: ‘Motivação não muda’

Thiago Kimori
Departamento de Comunicação

Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação _ Valdivia comentou sobre toda a negociação envolvendo o Al FujairahDepois de quase acertar a sua transferência para o Al Fujairah, dos Emirados Árabes Unidos, o meia Valdivia está de volta ao Palmeiras. A negociação com o time árabe não foi finalizada da maneira como o Verdão e o camisa 10 esperavam e o Mago está oficialmente reintegrado ao elenco palestrino desde esta quarta-feira (06), quando retornou aos treinamentos na Academia de Futebol. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (07), também na Academia, o atleta alviverde explicou todo o processo desta negociação, que foi encerrada de maneira inesperada.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista com Valdivia:

Explicação do caso

“Viajei em uma quarta-feira de madrugada. Cheguei lá (em Dubai) e fui recebido por torcedores, gerentes do clube e imprensa. Fui levado até a cidade da equipe, recebido na sala do Sheik, que é o dono do clube, e ganhei uma camisa do Al Fujairah com o número 10. Tinha um vínculo, fiz exames médicos. Enquanto eu esperava a assinatura do contrato, eu realizei os exames médicos. O meu pedido de 10 dias de férias foi aceito, o clube (árabe) falou que não tinha problema e que eu poderia ir. Era só eu me apresentar no dia 05 (de agosto) na Alemanha, onde seria a pré-temporada.”

“Viajei para o Chile, não chegamos a assinar o contrato porque, infelizmente, o país estava em Ramadã, é uma história totalmente diferente da nossa. Quando fui para o Al Ain, foi a mesma coisa. Eu não assinei nada, só a rescisão com o Palmeiras. Tudo o que foi feito na minha primeira transferência para o mundo árabe foi feito de novo. Na época, eu assinei o contrato na Alemanha também.”

“Peguei férias com o meu suposto novo clube, mas, quando voltei, fiquei sabendo que estava tudo cancelado porque eu não teria aceitado os valores. É mentira, pois existe um documento que mostra que eu tinha aceitado. Fiquei muito surpreso em minha volta para o Chile porque, em minha cabeça, estava tudo certo. Tudo isso se tornou uma complicação muito grande porque tive de tirar os meus filhos da escola. O meu cunhado veio para cá fazer a mudança… A pessoa que estava levando a negociação comigo disse que o pai do Sheik teria tirado o apoio do filho porque disse que era muita grana. E esse dinheiro poderia ser usado para construir hospitais e escolas. Sendo assim, deixaria o filho sozinho nas negociações. Só que, para o Palmeiras, passaram que eu não teria aceitado os valores.”

Entrar na justiça contra Al Fujairah

“Estava tudo assinado, só não assinamos o contrato. O Palmeiras se manifestará juridicamente, eu acertei e assinei um documento que mostra que eu aceitei os valores econômicos oferecidos pelo Al Fujairah. Estava tudo certo, tinha as assinaturas do clube, do Sheik e a minha. A única coisa a ser definida eram os termos de pagamento, o que é comum em todos os lugares”

“Quando eu voltei dos EUA, eu fiquei em choque e surpreso com o que tinha acontecido. A pessoa que é do Chile e viajou comigo disse que tentou entrar em contato com alguém do Al Fujairah, mas sem resposta. Ninguém apareceu. Só informaram ao Palmeiras que o negócio não tinha dado certo por minha causa. O Palmeiras foi enganado, e eu fui tratado como um jogador novo. Deixei de treinar muito tempo, são muitas coisas que envolvidas.”

“Ganha mais força (Palmeiras e Valdivia entrarem na justiça juntos), mas também entrarei com o meu estafe de advogados porque são coisas diferentes. Ambas as partes foram enganadas. Fui exposto ridiculamente, tirei foto e falei com a imprensa local, posando com a camisa do clube. Fui submetido a exames médicos. Eu tive de tirar os meus filhos da escola, passei para a minha mulher que moraria em Dubai. Fui exposto, tratado como uma criança e não deixarei passar. Continuarei conversando com os meus advogados para entrar na justiça, e o Palmeiras também.”

Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação _ A coletiva do meia alviverde contou com a presença de José Carlos Brunoro, diretor executivo do Palmeiras

Sumiço?

“Eu não era jogador do Palmeiras, era jogador do Al Fujairah. Eles mostraram para o mundo que tinham me contratado. Fez a torcida e a imprensa irem ao aeroporto. Cheguei a Dubai por volta da meia-noite e no hotel às 4h da manhã porque fui apresentado para todo mundo. Eu não sumi, eu estava na Disney com a minha família. Se tivesse sumido, eu teria pedido para minha mulher não postar fotos na Disney.”

“Deixei avisado para as pessoas que trabalham comigo para bloquear os meus números de celular, para tirar as crianças da escola, tanto que a minha família está no Chile agora. Depois que voltei para o Chile, parecia que estava chegando o presidente do país, havia muita imprensa querendo falar comigo para esclarecer o motivo de eu não querer jogar mais pela Seleção. Ganhei essas férias do clube, fui embora sem preocupação. Não queria saber de telefone e nem mensagem. Foi o momento de desfrutar os meus filhos, foi sagrado. Não fiquei ligado na internet, eu saía de manhã do hotel e voltava só à noite para dormir, eu não estava escondido.”

Avisar os pais da viagem

“Tenho 30 anos. Já fiz tudo por eles, e continuarei fazendo. Sou muito agradecido. Quando assinei o primeiro contrato com o Colo-Colo, a primeira coisa que fiz foi comprar uma casa para eles. Tenho 30 anos e, graças a Deus, eu formei a minha própria família. Não tem como sempre avisar o que eu farei ou não.”

Sem notícias nas férias

“É difícil de vocês acreditarem, mas é direito de vocês perguntar e duvidar um pouco. Quando você está sob pressão, chega um momento que você quer um descanso junto com a família. É difícil de acreditar, mas não ficava olhando todas as mensagens ou alguma notícia que publicavam falando que o negócio não tinha dado certo. Tinha internet, mas não ficava 24 horas por dia olhando. Não entrei em momento nenhum na internet, fui para lá descansar e voltar dia 05.”

Regalias para Valdivia?

“Tenho os mesmos direitos de todos. Tenho a mesma vaga do estacionamento, a minha é do lado do Juninho. O café da manhã é o mesmo, o salário é pago no mesmo dia para todo mundo. Não sei quantas camisas vende com o meu nome e os outros. O meu horário é 9h30, e dos outros também. Quando tem coletiva, eu venho, mesmo contra a minha vontade. Lá dentro é totalmente igual para todo mundo.”

Dinheiro para o Palmeiras

“O Palmeiras precisa de dinheiro, o presidente já falou muitas vezes que não existe jogador inegociável. O clube recebeu a proposta, assinou todos os documentos falando que, naquele momento, eu sairia do clube. O que eu disse naquele momento era verdade. O Palmeiras precisava grana e aceitou a proposta. Abri mão de 10% para ajudar o clube. A gente concordou em todos os termos e fui vendido”

Sair do Palmeiras

“Nem quando a Copa (do Mundo) terminou eu estava pensando em sair do Palmeiras, nem agora. Sei que a janela (de transferências internacionais) fechará em breve, e também sabemos que o Palmeiras sempre foi bem claro em dizer que nenhum jogador é inegociável. Se chegar uma proposta, o clube analisará primeiro e depois falará comigo. Mas a minha cabeça é a mesma, não tem essa de ficar pensando. Claro que penso no que aconteceu, mas não volto desmotivado, pelo contrário. Gosto muito do clube, tenho a história mais bonita da minha carreira aqui, e continuarei honrando a camisa.”

Encerrar carreira no Palmeiras

“Sou muito grato ao clube, e agradecido por todo o carinho que a torcida tem por mim. Quando caiu (para a Série B), eu caí junto. Jogamos a Série B juntos. A Série B poderia ter colocado em dúvida a minha convocação para a Seleção e, mesmo assim, eu fiquei. É difícil. Sofri um sequestro, uma agressão no aeroporto e, mesmo assim, eu fiquei no Palmeiras. Gosto daqui, gosto muito do clube. Passamos alegrias juntos, grande parte da minha carreira foi aqui e continuarei do mesmo jeito.”

Clima para voltar

“Não vejo um clima ruim. Estava tudo certo, não tínhamos dúvidas de que eu não seria mais jogador do Palmeiras. Agora, eu volto com a mesma motivação de que eu sempre tive aqui. Conheço os jogadores, conversei com o treinador e pude conversar com alguns jogadores também. O clima não mudou aqui.”

“Sempre estou motivado porque respeito essa equipe. É uma instituição que me deu tudo, tenho quase cinco anos aqui. Nunca fiquei tanto tempo em um lugar, e motivação eu sempre tenho. Se não tiver, é melhor ficar em casa deitado. Da minha parte, não muda nada. Desde ontem, quando voltei a ser jogador do Palmeiras, quero jogar, conquistar coisas e poder disputar um jogo em nosso novo estádio. A mensagem é essa: a minha motivação não mudou em nada.”

“A minha vida continuará do mesmo jeito que sempre foi. Treinando sempre, e jogando sempre que possível. O meu carinho pelo clube não muda em nada. Tanto que o meu perfil no Instagram só tem fotos do Palmeiras. Na Copa do Mundo, eu fiz um gol e a comemoração foi dedicada ao torcedor do Palmeiras.”

Retorno aos gramados

“Por mim, voltaria ontem. Mas, nesse momento, eu atrapalharia mais o clube do que ajudaria. Assim como sempre fiz, tenho de respeitar todos os meus companheiros. Todos merecem jogar, e temos um treinador para decidir isso. Os jogadores estão se doando. Já conversei com a comissão técnica e começamos a fazer treinos em dois períodos, e aceleraremos o máximo que pudermos. A minha vontade é de me recuperar logo desses dias que fiquei sem treinar. Não posso dar a data exata que irei voltar porque tenho de conversar com a comissão.”

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