Em cima deles! Verdão comemora 70 anos do bi do Rio-São Paulo

Departamento de Comunicação

As temporadas de 1950 e 1951 entraram para a história do Palmeiras graças à conquista das Cinco Coroas, como ficou conhecida a sequência de cinco competições oficiais vencidas pelo clube em um período inferior a um ano: Taça Cidade de São Paulo (1950 e 1951), Campeonato Paulista (1950), Torneio Rio-São Paulo (1951) e Torneio Internacional de Clubes Campeões (1951).

Neste domingo, o terceiro desses títulos completa exatos 70 anos. No dia 11 de abril de 1951, o Alviverde faturou o Rio-São Paulo pela segunda vez ao derrotar o Corinthians por 3 a 1, no Estádio do Pacaembu, com dois gols de Jair Rosa Pinto e um de Aquiles. Confira, a seguir, histórias e curiosidades sobre a campanha que culminou com mais um troféu alcançado diante do nosso arquirrival.

Em pé: Salvador, Palante, Dema, Oberdan, Luís Villa e Waldemar Fiúme; Eduardo Lima, Aquiles, Liminha, Jair Rosa Pinto e Rodrigues (Acervo Histórico/Palmeiras)

Regulamento curioso

Disputado pela primeira vez em 1933, quando o Palmeiras conquistou o torneio que marcou o início da Era Profissional do futebol brasileiro, o Rio-São Paulo demorou a se consolidar como uma competição regular do calendário nacional. Isso só aconteceu a partir da década de 1950, após o fracasso das edições de 1934 e 1940, que não foram concluídas e terminaram sem campeões.

Em 1951, o interestadual contou com a participação de oito clubes, sendo quatro de São Paulo e outros quatro do Rio. Verdão e Vasco asseguraram vaga por terem faturado, respectivamente, os títulos paulista e carioca do ano anterior. Os demais times foram definidos com base em um curioso regulamento, segundo o qual as seis equipes (três de cada estado) com maior renda bruta acumulada durante os estaduais garantiriam presença no Rio-São Paulo.

Devido a esse critério, classificaram-se Corinthians e Flamengo, que não haviam ficado entre os quatro melhores no Paulista e no Carioca de 1950 – Santos e Botafogo, mesmo à frente dos rivais na tabela, foram excluídos. São Paulo (vice-campeão paulista), Portuguesa (quarta colocada), América (vice-campeão carioca) e Bangu (terceiro colocado) completaram a lista de participantes.

O campeonato foi realizado em turno único, com jogos restritos a duas sedes: Pacaembu e Maracanã. Caso dois clubes acabassem na liderança, o desempate ocorreria em uma melhor de três pontos – naquela época, a vitória valia dois pontos e o empate, um.

Cabia mais

O Alviverde estreou no torneio no dia 18 de fevereiro, contra o São Paulo. O duelo foi tratado pela imprensa como uma revanche, pois os tradicionais adversários haviam decidido o Paulista de 1950 apenas três semanas antes – o Palmeiras se sagrara campeão.

No reencontro, o time palestrino não deu chance ao rival e ganhou por 2 a 0, com gols de Jair Rosa Pinto (de falta) e Aquiles. De acordo com o jornal “Correio Paulistano”, o Verdão “podia ter vencido por quatro ou cinco, caso tivesse mais sorte nos arremessos de seus atacantes, que perderam pontos considerados certos”.

O triunfo palmeirense desencadeou uma grande crise no São Paulo. No dia seguinte ao clássico, o técnico Feola deixou o cargo e foi substituído pelo ex-atacante Leônidas da Silva, que abandonara os gramados no ano anterior. Como se não bastasse, o diretor de futebol Paulo Machado de Carvalho, que tempos depois daria nome ao Estádio do Pacaembu, colocou o seu cargo à disposição.

Virou passeio

Na segunda rodada, o Palmeiras deu nova demonstração de força ao derrotar o Flamengo por impiedosos 7 a 1, naquela que ainda é a maior goleada da história confronto. O estreante Liminha, contratado pelo Verdão após se destacar no Ypiranga, mostrou o seu cartão de visita à torcida palestrina ao marcar quatro vezes – Rodrigues, Lima e Aquiles também balançaram a rede no Pacaembu.

O jornal Correio Paulistano destacou a estreia de Liminha, que marcou quatro gols na contundente vitória palestrina (Acervo Histórico/Palmeiras)

Segundo o “Correio Paulistano”, “a vitória indiscutível premiou a melhor equipe dentro do gramado, por um ‘score’ que não foi mais amplo devido ao desinteresse dos vencedores, que passaram a exibir um jogo floreado, bailando o adversário sempre impotente”.

Além de Liminha, que naquele ano se perpetuaria como herói palmeirense ao fazer o gol do título mundial contra a Juventus-ITA, o clube se reforçou com outros dois jogadores que logo se transformariam em ídolos: os meio-campistas Dema e Luiz Villa, que vieram do Ypiranga e do Estudiantes-ARG, respectivamente.

Sai, zica!

Derrotado pelo América por 6 a 4 na terceira rodada, o Palmeiras reagiu no jogo seguinte ao golear a Portuguesa por 4 a 1, com gols de Lima (dois), Aquiles e Liminha. Segundo o “Correio Paulistano”, “imperou a violência no transcorrer da partida”. Afinal, nada menos do que três jogadores palmeirenses saíram de campo machucados: o goleiro Oberdan Cattani, o lateral Turcão e o zagueiro Mexicano.

O resultado, combinado com a derrota do Bangu para o Vasco, colocou o Alviverde novamente na primeira colocação do torneio.

Estraga-prazeres

Depois de mais uma vitória, desta vez contra o Bangu (4 a 2), o Verdão mediu forças com o Corinthians, campeão do Rio-São Paulo de 1950. A derrota alviverde (3 a 0) acirrou a briga pela taça. Os dois times entraram na última rodada com os mesmos oito pontos, mas o rival tinha a vantagem de atuar no Pacaembu contra o Flamengo, enquanto o Palmeiras enfrentaria o Vasco no Maracanã.

Para o Correio Paulistano, o time palmeirense goleou o Vasco “atuando como verdadeiro campeão” (Acervo Histórico/Palmeiras)

Coube ao time alviverde a tarefa de estragar a festa adversária. O Corinthians confirmou o favoritismo diante do Flamengo (3 a 0), mas o Verdão não deixou barato e, contando com o retorno de Jair, recuperado de contusão, goleou o Cruz-Maltino (4 a 1). Liminha (dois), Aquiles e Waldemar Fiume anotaram os tentos.

O triunfo palmeirense foi relatado pelo “Correio Paulistano” da seguinte forma: “Desde os primeiros instantes de luta, demonstrou o Palmeiras sua disposição em deixar o Maracanã com a vitória e isso realmente aconteceu de forma inesperada, especialmente para… a coletividade corintiana, que já estava em preparativos para festejar o clube do Parque São Jorge como bicampeão do torneio”.

Quem ri por último…

Jair Rosa Pinto foi escolhido como o “melhor jogador do campeão” (Acervo Histórico/Palmeiras)

Empatados na ponta ao término da competição, os arquirrivais tiveram de se enfrentar outras duas vezes para decidir o campeão interestadual de 1951. Derrotado pelo Corinthians 15 dias antes, o Verdão deu o troco já no primeiro jogo extra ao ganhar o Derby por 3 a 2. Os gols palestrinos foram marcados por Liminha, Homero (contra) e Aquiles, mas ninguém brilhou tanto quanto Jair.

O meia levou a equipe oponente à loucura com seus passes precisos e dribles desconcertantes. Que o diga o corintiano Colombo, que, após levar duas fintas do craque palmeirense, perdeu a compostura, agrediu o adversário e acabou expulso pelo árbitro Caetano Bovino.

Embora tivesse a vantagem de jogar pelo empate na segunda partida, o Palmeiras tratou de assegurar o troféu com mais um triunfo incontestável: 3 a 1. Jair Rosa Pinto voltou a cumprir o papel de protagonista ao fazer dois gols – Aquiles, artilheiro da competição com nove bolas na rede em nove partidas, completou o placar.

A manchete do “Correio Paulistano” não deixou dúvida sobre a importância da façanha alviverde: “Palmeiras, legítimo vencedor do torneio que reuniu as expressões máximas do futebol nacional”.

Jogo decisivo:

Ficha técnica
Palmeiras 3×1 Corinthians

Torneio Rio-São Paulo de 1951 (Partida de desempate – 2º jogo)
Data: 11/04/1951
Estádio: Pacaembu, em São Paulo (SP)
Público: 54.465 pessoas
Juiz: Dante Rossi (SP)
Expulsos: Luiz Villa (PAL) e Cláudio (COR)
Palmeiras: Oberdan; Salvador e Oswaldo; Waldemar Fiume, Luiz Villa e Dema; Lima, Aquiles, Liminha, Jair Rosa Pinto e Rodrigues. Técnico: Ventura Cambon
Corinthians: Cabeção; Homero e Rosalém; Idário, Touguinha (Lorena) e Julião; Cláudio, Luizinho, Baltazar (Jackson), Nardo e Nelsinho. Técnico: Newton Senra
Gols: Jair Rosa Pinto (17’ do 1º T), Aquiles (33’ do 1º T), Luizinho (34’ do 1º T) e Jair Rosa Pinto (7’ do 2º T)