40 anos da temporada perfeita de 1972 Segunda Academia

Departamento de Comunicação
Marcelo Cazavia
Departamento de História
Bruno Alexandre Elias

Neste domingo (23), o Palmeiras completa 40 anos do encerramento da temporada de 1972, uma das mais brilhantes da história alviverde. Perdendo apenas 5 dos 80 jogos disputados naquele ano, o esquadrão comandado por Oswaldo Brandão levantou cinco troféus e se tornou referência internacional pelos resultados conquistados e pela forma cadenciada com que envolvia seus adversários.

Graças ao alto nível de futebol apresentado, aquele time recebeu da imprensa o apelido de Segunda Academia – alcunha que fazia alusão ao Palmeiras da década anterior, que, pela classe e técnica apurada, ficou conhecido como Academia. Esta nova versão de um supertime era uma fusão de craques que atuaram na década anterior com outros que integraram o elenco pouco depois. Atletas como Ademir da Guia, Dudu e César, que já eram ídolos antes mesmo de a década de 70 começar, mesclaram-se com novos personagens como o goleiro Emerson Leão, os laterais Eurico e Zeca, os zagueiros Luís Pereira e Alfredo, o meia Leivinha e os pontas Edu Bala e Nei.

Na essência, algumas peças do time pareciam intocáveis. Porém, Brandão mostrou sabedoria ao conseguiu extrair o que cada um dos componentes do grupo tinha para oferecer de melhor. Com a escalação de jogadores coadjuvantes em muitas ocasiões, o mestre não só dava oportunidade para todos como motivava os titulares a mostrar serviço em campo para não perderem a posição, mantendo, assim, o time jogando sempre em alta performance. Além disso, era um exímio disciplinador e prezava pela a união da equipe, a ponto de ser considerado pelos próprios jogadores um “paizão”.

A combinação da estratégia do treinador com o talento dos jogadores não poderia surtir um resultado diferente que não fosse a conquista de nada menos do que cinco taças: Torneio Mar Del Plata-ARG, Torneio Laudo Natel, Campeonato Paulista (invicto), Campeonato Brasileiro e a Taça dos Invictos (instituída pela Gazeta Esportiva, era designada ao time que estabelecesse o recorde de invencibilidade na temporada – tratava-se de uma condecoração muito importante à época).

Até o início das competições oficiais no Brasil, que só iriam começar em março com o Campeonato Paulista, o Palmeiras teve tempo de sobra para testar o time disputando algumas partidas amistosas: venceu o poderoso Santos de Pelé por 4 a 0, o Zeljeznicar, da Iugoslávia, por 3 a 0, goleou por 7 a 0 o Steua Bucarest, da Romênia, empatou com o Corinthians por 1 a 1 e, por fim, superou por 1 a 0 a Seleção da Hungria.

Depois, vieram os primeiros títulos. Em excursão pela Argentina, disputou o Torneio Mar Del Plata e voltou como campeão após uma campanha de 3 vitórias e 3 empates contra Peñarol-URU, Boca Juniors-ARG e San Lorenzo-ARG em uma competição de pontos corridos em dois turnos. Na ocasião, o polivalente Fedato teve grande destaque ao marcar três vezes na goleada por 5 a 1 diante do Peñarol. Já no Torneio Laudo Natel, bateu a Ferroviária e o São Paulo antes de fazer 2 a 1 na final contra a Portuguesa.

Com o desempenho positivo nos jogos que antecederam o Paulistão, o Alviverde deu início ao Estadual cheio de moral. Ao longo dos 11 jogos do primeiro turno, porém, o elenco ainda realizou intercaladamente mais três amistosos e venceu todos, começando pelos 2 a 1 no Atlético-PR dentro do Palestra Italia, depois os 3 a 0 diante do Botafogo de Ribeirão Preto fora de casa e, por último, repetiu o placar de 3 a 0 contra o Grêmio Maringá, no Paraná.

Como era de costume à época, entre o primeiro e o segundo turno do Paulistão existia um intervalo que poderia durar até dois meses. Naquele período, alguns clubes aproveitavam para descansar e recuperar o elenco, enquanto outros já engordavam suas agendas marcando amistosos ou até mesmo algumas excursões. Entre 26 de maio e 8 de julho, o Palmeiras passou pela Espanha, pelo Irã, pela Turquia e pela Argélia disputando alguns amistosos, obtendo um total de 5 vitórias, 2 empates e apenas uma derrota, para a Seleção da África do Sul. Marcou 13 gols e sofreu 7.

Ao final da excursão, o Palmeiras retornou ao Brasil para disputar as 11 partidas do segundo turno do Paulistão, mas não sem antes aceitar os convites para realizar mais dois amistosos (empates contra o Atlético-PR e a Seleção Olímpica do Brasil). Quando finalmente retomou a caminhada no Estadual, o Verdão se manteve invicto até a reta final, acumulando pontos suficientes para chegar à derradeira partida precisando de apenas um empate para garantir o título. E foi exatamente o que aconteceu. Jogando no Pacaembu contra o São Paulo, o Alviverde empatou sem gols com o rival e novamente se sagrou campeão invicto. A campanha foi de 22 jogos, 15 vitórias, 7 empates, 33 gols marcados e 8 apenas gols sofridos.

Divulgação _ O incrível feito do Verdão foi primeira página dos jornais da época

Evidentemente, até o encerramento do Campeonato Paulista, o ano já estava excelente para o Alviverde. No entanto, as coisas iriam melhorar ainda mais. Quando o campeonato mais importante do Brasil começou, o Palmeiras uniu todas as suas forças para fechar o ano com chave de ouro.

Em 1972, o Campeonato Brasileiro com este nome estava em sua segunda edição. Na primeira, em 1971, havia 20 participantes e o campeão tinha sido o Atlético-MG. Desta vez, porém, o número de clubes subiu para 26. E o regulamento foi alterado da seguinte maneira:

Primeira Fase: Quatro chaves, sendo duas de seis clubes e duas de sete clubes, turno único. Classificando os quatro melhor colocados de cada chave.
Segunda Fase: Quatro chaves com quatro clubes em cada, classificando o campeão de cada chave.
Semifinais: Jogos em turno único, dando preferência de empate ao clube com maior pontuação no campeonato. Classificam-se os vencedores de cada jogo.
Final: Jogo único, com o empate favorecendo o clube com maior pontuação durante o campeonato.

A fórmula foi realizada desta maneira porque, naquele período em que o país era governado pelos militares, havia uma preocupação política em envolver um número cada vez maior de clubes na competição.

Apesar do fato de o Brasileiro de 72 ter sido inchado e ter ficado mais competitivo, o Palmeiras mostrou sua superioridade somando pontos importantes e atropelando os rivais nas fases decisivas. Assim como no Paulista, o Palmeiras que havia chegado à final somava mais pontos do que o Botafogo (o outro finalista) e, pelo regulamento, o empate daria o título ao Verdão. Brandão, então, adotou um esquema tático defensivo. Parar o Botafogo não era nada fácil, pois o time carioca estava engasgado após ser vice do Brasileirão de 71. Além disso, o esquadrão botafoguense contava com craques como Marinho Chagas, Carlos Roberto, Nei Conceição e Jairzinho, uma verdadeira máquina de jogar futebol.

O embate que decidiria o novo campeão brasileiro foi de muita tensão para os dois lados. Cada vez que o time carioca subia para o ataque, o temor tomava conta dos palmeirenses. Já para o Botafogo, a tensão aumentava a cada minuto que passava. Na medida em que o prélio chegava aos seus minutos finais sem gols, o coração do palmeirense batia mais forte. Ao apito do árbitro Agomar Martins, entretanto, o clima de festa e comemoração em verde e branco tomou conta do Morumbi. Naquele 23 de dezembro, além da tradicional volta olímpica, o campeão brasileiro ainda foi muito assediado pelos torcedores, a ponto de alguns invadirem os vestiários para presentearem o maestro da conquista, o Divino Ademir da Guia, com uma coroa, fazendo valer o coro que havia muitos anos já era cantado nas arquibancadas “Ía ía ía, o Rei é da Guia”.

Divulgação _ Ademir da Guia, o Divino, foi

A Taça dos Invictos, por sua vez, foi entregue ao Palmeiras após dois longos períodos sem revés: de 5 de março de 72 a 3 de agosto de 72 e de 6 de agosto de 1972 até o fim do ano – a derrota seguinte viria a acontecer apenas em 20 de maio de 73.

As conquistas

Torneio Mar Del Plata
Torneio Laudo Natel
Campeonato Paulista (invicto)
Campeonato Brasileiro
Taça dos Invictos

Os números

Jogos: 80
Vitórias: 49
Empates: 26
Derrotas: 5
GP: 137
GC: 44

Campeão Paulista

Campeão Brasileiro