Há 115 anos nascia Heitor, ícone palestrino e maior artilheiro do clube

Departamento de Comunicação

“Não se compreende o Palestra sem Heitor”. A frase, do influente cronista Thomaz Mazzoni e publicada no jornal A Gazeta de 8 de julho de 1931, dimensiona bem a importância que Ettore Marcellino Domingues teve nos primeiros anos de vida do Palmeiras. Nascido no paulistano bairro do Brás, em 19 de dezembro de 1899, o craque, que passou a ser chamado de Heitor pelo público e pela imprensa brasileira, defendeu o clube por 16 temporadas, sagrou-se campeão no futebol e no basquete, foi o primeiro palestrino a atuar (e fazer gol) pela seleção brasileira e ostenta até hoje a marca de maior artilheiro da história alviverde com 317 tentos em 360 partidas.

Heitor iniciou a carreira como jogador de futebol no Sport Clube Americano em 1916, mesmo ano em que o Palestra Italia estreou no Campeonato Paulista. E essa foi a única competição em que Heitor e Palestra não estiveram juntos. Ainda em 1916, Heitor não pensou duas vezes quando foi convidado para integrar o time palestrino. Para o Palestra Italia, aquele garoto franzino e de impecável finalização representava a esperança de ingressar no grupo dos grandes clubes da cidade. Já para Heitor, que era descendente de italianos, atuar em uma equipe que representava a Itália era uma honra.

E não demorou muito para o atacante esbanjar sua invejável habilidade dentro dos gramados. De cara, Heitor assumiu a posição de titular absoluto do time e se transformou em uma máquina de fazer gols, tornando-se peça imprescindível nos vice-campeonatos paulista de 1917 e 1919 e na conquista do primeiro título do Palestra, o Campeonato Paulista de 1920, quebrando a hegemonia do então tetracampeão Paulistano.Divulgação _ Heitor atuou pelo Palestra na conquista do 1º Campeonato Paulista

Ainda nesta primeira década, Heitor já chegara também à seleção brasileira. Deixou sua marca logo na estreia, em 13 de maio de 1917, na vitória por 2 a 1 sobre o Sportivo Barracas, da Argentina. Dois anos depois, ao lado do amigo, rival e não menos craque Arthur Friedenreich no ataque, ajudou o Brasil na conquista do Campeonato Sul-Americano (atual Copa América), primeiro título da história da seleção. Ao todo, foram 11 jogos representando o país, com oito vitórias, três empates e quatro gols anotados.

Heitor brilhou também na seleção paulista, pela qual jogou de 1917 a 1930 e faturou quatro títulos nacionais. Ele, inclusive, detém até hoje o recorde de gols em uma mesma partida da equipe: foi em 1923, quando balançou as redes da seleção paranaense sete vezes.

A década de 20, aliás, consolidou Heitor como referência no esporte brasileiro da época. Ele comandou o Palestra na conquista do primeiro bicampeonato paulista da história do clube, em 1926 e 1927, e sagrou-se artilheiro do Paulistão de 1926 com 18 gols e do Estadual de 1928 com 16.

Divulgação _ Heitor também jogava basquetebol pelo PalestraMas Heitor não era habilidoso só com a bola nos pés. Nos intervalos das partidas de futebol, reforçava o time de basquete do Palestra e, com ele, faturou o Campeonato Estadual em 1928, o primeiro título do “bola ao cesto” palestrino. Era a primeira vez que um atleta era campeão pelo Palestra em dois esportes diferentes. E, além do basquete, Heitor defendeu o Palestra também no atletismo, no tênis de mesa e no vôlei. Um superatleta no início do século 20!

Outra prova da habilidade de Heitor com as mãos aconteceu em 1929, em um amistoso entre Brasil e Rampla Juniors, do Uruguai. Após as contusões dos goleiros Amado e Jaguaré, o palestrino foi para a meta da seleção e não sofreu nenhum gol, garantindo a vitória brasileira por 4 a 2.

Com Heitor no ataque, o Palestra Italia aplicou sonoras goleadas nos adversários. A maior delas, inclusive, é até hoje a maior de toda a centenária história do clube: 11 a 0 no Internacional-SP, pelo Campeonato Paulista de 1920 (mais tarde, o Verdão obteve três vitórias por mais de dez gols de diferença, mas todas em amistosos). Heitor fez seis dos 11 gols do triunfo palestrino naquele dia, registrando outro recorde que dura até os dias atuais – ninguém fez mais tentos em uma única partida do Palestra do que Heitor, que repetiu o feito sete anos depois, ao fazer seis gols no triunfo por 11 a 2 sobre o Corinthians de São Bernardo do Campo-SP, pelo Paulistão de 1927.

A carreira como jogador foi encerrada em 1931, quando retornou ao Americano para a disputa de alguns amistosos. Mas Heitor não abandou os gramados. Tornou-se árbitro e apitou diversos embates pelo Campeonato Paulista até meados dos anos 40. Apesar da novidade da função para ele, Heitor foi considerado um exímio juiz, a ponto de ser convidado para apitar o jogo de estreia do Pacaembu, curiosamente um duelo entre o Palestra e o Coritiba, então campeão paranaense. Foi no dia 28 de abril de 1940, e os paulistas venceram por 6 a 2.

Por fim, como ficou claro nos parágrafos anteriores, as histórias de Heitor e Palestra Italia se confundem: os dois começaram juntos, cresceram entrelaçados e conquistaram feitos (inúmeros por sinal) lado a lado. Foi uma relação que extrapolou a de funcionário e empregador. Foi um caso que envolveu um clube e um atleta sempre leal à sua instituição e obcecado em vê-la vencedora. Ao longo de 16 anos de devoção ao Palestra, foram 360 partidas de futebol, 250 vitórias, 55 empates e 55 derrotas. Obrigado, Heitor! Que seu legado se perpetue para todo o sempre!

FICHA TÉCNICA

Nome: Ettore Marcellino Domingues
Nascimento: 19 de dezembro de 1899 († 21/09/1972)
Naturalidade: São Paulo-SP
Posição: Atacante
Jogos: 360 (250 vitórias, 55 empates e 55 derrotas)
Gols: 317
Títulos pelo futebol: Campeonato Paulista em 1920, 1926, 1926 (extra) e 1927; Torneio Início do Campeonato Paulista em 1927 e 1930
Títulos pelo basquete: Campeonato Paulista em 1928

CURIOSIDADES

– É o maior artilheiro da história do Palmeiras no estádio Palestra Italia com 175 gols

– É o maior artilheiro da história do Palmeiras em Campeonatos Paulistas com 178 gols

OS MAIORES ARTILHEIROS DO PALMEIRAS:

1º – Heitor (317 gols)
2º – César Maluco (182 gols)
3º – Ademir da Guia (154 gols)
4º – Eduardo Lima (149 gols)
5º – Servílio (140 gols)
6º – Rodrigues Tatu (128 gols)
7º – Luizinho (130 gols)
8º – Evair e Humberto Tozzi (126 gols)
10º – Tupãzinho (120 gols)

OS MAIORES ARTILHEIROS EM UM ÚNICO JOGO:

6 gols:

Heitor, em 8/08/1920: Palestra Italia 11 x 0 Internacional-SP
Heitor, em 17/07/1927: Palestra Italia 11 x 2 Corinthians de São Bernardo do Campo-SP

5 gols:

Heitor, em 05/06/1927: Palestra Italia 9 x 0 Primeiro de Maio-SP
Osses, em 05/10/1930: Palestra Italia 7 x 0 América da Capital-SP
Heitor, em 07/12/1930: Palestra Italia 9 x 3 Ypiranga-SP
Caxambu, em 21/11/1943: Palmeiras 8 x 1 Inter de Limeira-SP
Mazzola, em 09/06/1957: Palmeiras 5 x 2 Noroeste de Bauru-SP
Dario Alegria, 04/07/1965: Palmeiras 12 x 0 C.Águas da Prata-SP
Artime, em 16/01/1969: Palmeiras 5 x 0 Rapid Viena-Áustria
Cardoso, em 10/07/1969: Palmeiras 6 x 1 São Bento de Marília-SP