Marcelo Jung
Departamento de Comunicação

Divulgação_Palmeiras conquistou seu terceiro Ramón de Carranza batendo o Real Madrid por 3 a 1Domingo, dia 31 de agosto de 1975. Há exatos 40 anos, ao bater o Real Madrid (ESP) pelo placar de 3 a 1, a Sociedade Esportiva Palmeiras conquistava a 21ª edição do Troféu Ramón de Carranza, seu terceiro título na competição.

Criado em 1955, o Troféu Ramón de Carranza é um tradicional torneio de verão sediado na cidade de Cádis, na Espanha. Os jogos são disputados anualmente por quatro equipes, que se enfrentam em duas semifinais, disputa do terceiro lugar e a grande final. Até a década de 80 era considerado se não o principal, um dos mais importantes torneios internacionais de clubes, pois dele só participavam os grandes times do cenário mundial. Com 1,71m de altura e sendo necessário quatro pessoas para carregá-la, a taça ficou conhecida popularmente como “a taça das taças”.

O Palmeiras acumula seis edições disputadas (1969, 1974, 1975, 1976, 1981 e 1993). Além de ser o clube que mais vezes representou o Brasil na competição, é também o que mais títulos ganhou deste quadrangular, junto ao Vasco, com três conquistas cada.

Na época conhecido mundialmente pelo seu futebol vistoso e vencedor, o Alviverde iniciou sua trajetória no Troféu Ramón de Carranza no ano de 1969, quando foi convidado pela primeira vez a disputar a 15ª edição do torneio. O Palmeiras debutou contra o Atlético de Madrid (ESP) e, logo em sua estreia, fez uma partida épica. Depois do empate em 1 a 1 no tempo regulamentar, o jogo foi para os pênaltis. Chicão, o arqueiro alviverde, fez jus à excelente escola de guarda-metas palestrina e, após defender duas cobranças e ver outra ir para fora, levou o Palmeiras à final. No jogo decisivo, diante de 25 mil expectadores, o Verdão bateu o poderoso Real Madrid por 2 a 0, com gols de Zé Carlos e Dé. A Sociedade Esportiva Palmeiras se tornava a primeira equipe brasileira a conquistar o certame, com a primazia de tê-lo conseguido logo na sua primeira participação. A delegação palmeirense foi recebida com festa, trazendo não só o caneco, mas o orgulho de ter representado o Brasil, mais uma vez, com tanta dignidade em solo estrangeiros.

Cinco anos mais tarde, em 1974, a esquadra de Palestra Italia foi novamente convidada para o torneio. Mas, desta vez, a imprensa europeia era unânime em apontar o Barcelona (ESP), comandado por Rinus Michels, e o Santos, de Pelé, como os postulantes inquestionáveis ao título. Assim como hoje, o Barcelona era muito temido, já que tinha dois dos melhores jogadores da época, os meio-campistas Cruyff e Neeskens, entre outros. A dupla holandesa havia deslumbrado o mundo com um futebol envolvente levando a “Laranja Mecânica” ao vice-campeonato da recém-terminada Copa do Mundo de 1974. O Palmeiras tinha seis jogadores que disputaram aquela Copa pelo Brasil: Leão, Luís Pereira, Alfredo, Ademir da Guia, Leivinha e César. Leão, Luís Pereira e Leivinha como titulares, enquanto Alfredo, César e Ademir da Guia ficaram na reserva. A Seleção acabou sendo eliminada pela própria Holanda. Mas, contra o Barça, a história foi completamente diferente. O Divino, com seu estilo de jogo hipnótico, que forçava todos (até o adversário) a jogar em seu ritmo, foi o maestro da orquestra alviverde e mostrou a Zagalo – técnico da Seleção Brasileira em 74 – que, com ele em campo, o Brasil poderia ter vencido o fantástico Carrossel Holandês. Cruyff e Neeskens nem viram a bola.

Logo, o tão aguardado encontro entre Pelé e Cruyff ficou relegado à disputa do 3º lugar, pois, contrariando todas as apostas, o Santos caiu para o Espanyol (ESP), enquanto o Palmeiras superou os catalães pelo placar de 2 a 0, com gols de Leivinha e Ronaldo. Na decisão, Levinha e Luís Pereira balançaram as redes e, com o jogo terminado em 2 a 1, o Alviverde, que para muitos tinha ido à Espanha apenas para disputar a 3ª posição com o Espanyol, surpreendeu o mundo e se tornou bicampeão do Troféu Ramón de Carranza. Já o Santos de Pelé terminou em 4º lugar, após ser goleado por 4 a 1 pelo mesmo Barcelona que o Palmeiras havia vencido na véspera.

Divulgação_Grande número de torcedores acompanhou o Verdão conquistando o Troféu em Cádis (ESP)

No ano de 1975, o Palmeiras novamente foi à cidade de Cádis, mas, dessa vez, como o atual campeão do torneio, a equipe a ser batida. Os clubes que participaram daquela oportunidade foram Real Madrid (ESP), Real Zaragoza (ESP), Dínamo de Moscou (RUS) e Palmeiras. No primeiro jogo da semifinal, o Verdão enfrentou o Real Zaragoza. Ademir da Guia marcou o único gol palmeirense na vitória por 1 a 0, garantindo a equipe de Palestra Italia na grande final, em que enfrentaria outro espanhol, agora da capital. Novamente, era a forte equipe do Real Madrid liderada por Breitner e Nester – ambos campeões da Copa do Mundo de 74 pela Alemanha – que estava no caminho do Palmeiras. Os espanhóis haviam vencido o Dínamo de Moscou na outra semifinal por 2 a 1.

Comandado por Dino Sani, o Alviverde foi a campo com Leão; Eurico, Luís Pereira, Arouca e João Carlos; Édson (Didi) e Ademir da Guia; Edu, Leivinha (Mario), Itamar e Nei. O Palmeiras inaugurou o placar após bela trama no ataque. Leivinha deixou Edu na cara do gol, que não perdoou: 1 a 0 Verdão. Leivinha partiu do meio de campo para ampliar o marcador com uma bela jogada individual: 2 a 0. Em seguida, o centroavante Itamar, sozinho na pequena área, só teve o trabalho de testar para o fundo das redes: 3 a 0. Os madrilenhos ainda diminuíram com gol de Breitner, mas não foi suficiente para impedir o triunfo alviverde. De forma consecutiva, o Palmeiras quebrou mais uma vez a hegemonia europeia e trouxe a taça para casa.

A partida marcou também o limiar da gloriosa Segunda Academia. O título de 1975 foi determinante para as despedidas de Luís Pereira e Leivinha, que, devido a mais uma campanha vitoriosa em solo hispânico, acabaram sendo negociados com o Atlético de Madrid, pelo qual se tornaram ídolos. Considerado o maior zagueiro da história do Palmeiras, inclusive o beque com o maior número de gols vestindo a camisa alviverde (35), Luís Pereira foi convidado a trabalhar na equipe colchonera quando encerrou a carreira e, até hoje, mora em Madrid e trabalha no time B do Atlético.

Para Leivinha, o Troféu Ramón de Carranza de 1975 também tem um significado especial. Ao se transferir para o futebol espanhol, o meia conseguiu realizar um grande sonho de seu avô. “Aconteceu tudo muito rápido. Lembro que fomos contratados pelo Atlético já no avião de volta para o Brasil. Assim que chegamos, tivemos que pegar outro vôo para a Espanha para assinar o contrato. O Carranza de 75 foi muito importante na minha vida, porque, quando pequeno, eu tinha feito uma promessa com meu avô, que era espanhol, que um dia eu jogaria na Espanha. Graças a esse título consegui cumprir minha palavra com ele. Até fui lá na terra dele, tirei fotos e dei para ele depois. Ele ficou muito feliz”, declarou.

O retrospecto palmeirense na história do quadrangular europeu é favorável. Em 12 jogos, o Verdão tem sete vitórias, dois empates e três derrotas. O maior goleador do Palmeiras no torneio é Edu Bala, com cinco tentos. E como não poderia faltar nesta lista, Ademir da Guia é o jogador que mais defendeu as cores palestrinas em edições do Troféu Ramón de Carranza, acumulando sete jogos disputados (1969, 1974, 1975 e 1976).

Divulgação

FICHA TÉCNICA:
REAL MADRID 1 X 3 PALMEIRAS

DATA: 31 de agosto de 1975
LOCAL: Estádio Ramón de Carranza, Cádis (ESP)
ÁRBITRO: Alberto Michelotti
PÚBLICO: cerca de 30.000 pessoas
GOLS: Edu, aos 9, Leivinha, aos 15, Itamar, aos 19, e Breitner, aos 38min do segundo tempo

REAL MADRID: Miguel Ángel; Uría, Luis del Sol, Pirri e Rubiñán; Breitner e Netzer; Vicente Del Bosque, Amancio, Santillana e Guerini (Martínez – 33’/2ºT). Técnico: Miljan Miljanic

PALMEIRAS: Leão; Eurico, Luís Pereira, Arouca e João Carlos; Édson (Didi – 30’/1ºT) e Ademir da Guia; Edu, Leivinha (Mario – 29’/2ºT), Itamar e Nei. Técnico: Dino Sani

Confira o vídeo especial da TV Palmeiras/FAM sobre o Ramón de Carranza: