Texto originalmente publicado na edição 47 da Revista Palmeiras. Para conferir o conteúdo completo, seja sócio Avanti e clique aqui para ter acesso à revista digital do Verdão.  

Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação _ Gómez tem sido um dos melhores defensores do Palmeiras na décadaQuando era adolescente e trabalhava como auxiliar administrativo na Promotoria de San Juan Bautista, cidade paraguaia situada a 160 km da capital Assunção, Gustavo Gómez pensava em ser advogado. Mas o talento para o futebol e a vontade de vencer o levaram a fazer justiça com os próprios pés. Provável capitão da seleção guaraní na próxima edição da Copa América, a ser realizada de 14 de junho a 7 de julho no Brasil, o zagueiro é um dos pilares da sólida defesa do Palmeiras, uma das menos vazadas do país em 2018 e na atual temporada.

“No escritório, fazia um pouco de tudo”, recorda-se o jogador de 26 anos. “Tirava xérox de documentos, pagava contas e ganhava algumas gorjetas. Gostava daquele ambiente jurídico e não era tão fanático por futebol quanto os meus amigos, então jogava somente por diversão. Mas logo comecei a me destacar e as coisas aconteceram rapidamente.”

Aos 13 anos, Gómez iniciou a carreira como volante do Club 31 de Julio de San Ignacio, munícipio vizinho de San Juan. Aos 14, foi convocado pela primeira vez para a seleção Sub-17 do Paraguai. Aos 15, passou a ser chamado também para o time Sub-20 do país. E, aos 17, fez parte do grupo de 12 atletas juvenis levado à África do Sul pelo técnico Tata Martino para treinar com a seleção principal durante a Copa de 2010.

Orgulho guaraní

A aventura em outro continente foi um divisor de águas na vida do jovem. Seu desempenho nas atividades, que eram acompanhadas de perto por dirigentes de grandes clubes paraguaios, despertou o interesse do Libertad, onde Gómez se profissionalizaria na temporada seguinte.

Ainda em solo sul-africano, ele escutou uma sugestão de Martino e decidiu trocar de posição. “Tata me falou que uma mudança para a zaga poderia ser positiva para o meu futuro porque eu tinha facilidade para saltar e um bom tempo de bola nos cruzamentos”, relembra.

Em 2010, o Paraguai obteve o melhor desempenho de sua história em Copas do Mundo. Terminou a primeira fase como líder do Grupo F e avançou às quartas de final, caindo diante da campeã Espanha: 1 a 0.

A excelente campanha alimentou no defensor o sonho de disputar efetivamente um Mundial. Capitão nos recentes amistosos contra Peru e México, Gómez já atuou em 31 jogos pela seleção principal e marcou duas vezes, a primeira delas em sua estreia, contra a Bolívia, em 2013.

“Eu tenho um orgulho muito grande de representar o meu país. Fiz toda a minha base na seleção, portanto conheço o jardineiro, o cozinheiro, todas as pessoas que trabalham lá”, diz. “Viver a atmosfera de uma Copa do Mundo foi um desejo que pude realizar na África, mas seria ainda melhor ter a chance de jogar essa competição. Tomara que consigamos fazer uma boa Copa América e, principalmente, que tenhamos grandes resultados nas Eliminatórias”, acrescenta, citando o torneio que vai classificar diretamente quatro países da América do Sul para o Mundial de 2022.

Divulgação _ O camisa 15 do Verdão é titular absoluto da Seleção Paraguaia

Espírito vencedor

Conduzir a seleção paraguaia ao Catar não será tarefa fácil, mas Gómez está acostumado a superar desafios. O zagueiro ganhou títulos em todos os clubes pelos quais atuou. No Libertad, sagrou-se campeão nacional em 2012 e 2014. Pelo Lanús, onde permaneceu por duas temporadas, conquistou o Campeonato Argentino de 2016. Naquele ano, transferiu-se para o Milan e faturou a Supercopa da Itália, diante da Juventus.

A gana de vencer foi um dos fatores determinantes para o acerto do paraguaio com o Maior Campeão do Brasil, em julho de 2018. Desejado também por equipes da Europa, Gómez preferiu o time que lhe ofereceu o melhor projeto de trabalho e a condição de brigar por troféus. Antes de bater o martelo, porém, ele telefonou para dois compatriotas de bem-sucedidas passagens pelo Verdão: o atacante Lucas Barrios, seu colega na seleção, e o ex-lateral Arce, por quem foi comandado na equipe guaraní.

“Eles me falaram que o Palmeiras é um clube incrível, com uma torcida impressionante e um centro de treinamento único. Asseguraram que eu não iria me arrepender se viesse para cá”, relata. “Sendo sincero, não pensava encontrar em um clube da América do Sul uma estrutura como a do Palmeiras. Ela não deve nada para a do Milan, por exemplo.”

Na chegada ao Alviverde, o paraguaio optou pela camisa 15, com a qual se identifica desde os tempos de Libertad. A escolha foi também uma homenagem ao defensor argentino Diego Barisone, seu companheiro no Lanús. Barisone, que usava a 15 na equipe portenha, morreu em julho de 2015, aos 26 anos, após se envolver em um acidente de carro.

Gómez gosta tanto desse número que batizou de G15 o centro esportivo que inaugurou recentemente em San Juan Bautista. O espaço conta com duas quadras de futebol society e é administrado por familiares do atleta, entre eles um de seus três irmãos, David, que atuou profissionalmente no Chile até 2018. “Ele era um zagueiro melhor do que eu”, jura.

Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação _ O xerife alviverde foi o zagueiro palmeirense com mais gols em 2019

Família Palmeiras

Modéstia à parte, Gustavo Raúl Gómez Portillo tem sido um dos expoentes da zaga palmeirense, uma das mais fortes do Brasil na atualidade. Nos primeiros 20 jogos desta temporada, a equipe comandada pelo técnico Felipão tomou apenas sete gols – média de 0,35 por confronto. Vale lembrar que o Verdão teve a defesa menos vazada do Brasileiro do ano passado, com 26 gols sofridos em 38 rodadas.

Ao longo da campanha que culminou com o deca, o paraguaio se destacou pela eficiência na marcação e por balançar as redes em partidas decisivas. Na vitória sobre o Cruzeiro por 3 a 1, que levou o Alviverde ao topo da tabela pela primeira vez, ele marcou de pênalti. Já no triunfo por 2 a 0 contra o São Paulo, no Morumbi, abriu o placar com uma testada precisa.

“Logo que cheguei, os meus companheiros me alertaram sobre a dificuldade do Brasileirão. Todos os adversários são complicados, sobretudo quando jogamos como visitantes. Ganhar um campeonato assim, tão parelho, foi algo especial na minha carreira”, avalia.

Aguerrido dentro de campo, Gómez exala tranquilidade fora das quatro linhas. Nas folgas, costuma ficar em casa tomando mate e escutando música ao lado da esposa Jazmín. Entre os seus grupos preferidos está o politizado Calle 13, que mistura rap e música pop com ritmos latinos. Outro passatempo do zagueiro é brincar com a filha Pía, de 2 anos.

“A verdade é que me sinto muito feliz no Palmeiras”, diz o defensor. “Minha família se adaptou bem a São Paulo e eu estou contente com a forma como fui recebido por todos. Temos um grupo de grandes jogadores e amigos. Espero continuar aqui por bastante tempo e ajudar o Verdão a conseguir outras conquistas importantes”, finaliza.