Departamento de Comunicação

O dia 27 de abril de 2020 celebra o centenário de um dos mais importantes capítulos da história do Palmeiras: a compra do terreno onde hoje está construído o imponente Allianz Parque. Foi há exatos 100 anos que, contando exclusivamente com recursos e esforços da sua comunidade, o Palestra Italia colocou em prática um dos mais audaciosos projetos de um time brasileiro em todos os tempos e pavimentou o caminho para se consolidar como um dos primeiros grandes clubes do país.

Entre todas as discussões que norteavam o Palestra no período da sua fundação, em 1914, aquela sobre possuir uma casa própria era a principal, mesmo que não passasse de utopia até para as mais tradicionais e aristocratas equipes da época. O sonho começou a virar realidade quando a possibilidade de adquirir parte do Parque Antarctica, onde ficava a maior praça de esportes da cidade, aguçou a determinação e o vanguardismo dos palestrinos.

Parque Antarctica lotado em jogo do Palestra Italia em 1920

O time até então contava com um espaço para treinamento na Rua Major Maragliano, no bairro Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo, e desde 1917 era um dos locatários do Parque Antarctica – usava um de seus campos duas vezes por semana. Os planos, porém, eram mais ambiciosos.

O presidente palestrino Menotti Falchi (1919-1920)

“Clubes menores possuem um campo. Temos de achar uma casa. Não é qualquer terreno que nos agrada, pois a grandeza da comunidade italiana e de nossos torcedores não concordaria”, disse o então presidente alviverde Menotti Falchi ao jornal Fanfulla, em fevereiro de 1920. “Um estádio moderno é o desejo de todo palestrino”, continuou o mandatário, já vislumbrando o gigante de concreto armado que seria inaugurado na década seguinte.

Belfort Duarte autorizou a compra do terreno pelo Palestra

Quando souberam que a Companhia Antarctica Paulista, proprietária do Parque Antarctica, estava de mudança para a Mooca, na Zona Leste da capital, dirigentes do Palestra manifestaram aos donos da fábrica a intenção de comprar o terreno. O alemão Antônio Zerrenner e o conde Asdrubal do Nascimento se dispuseram a vendê-lo por 500 contos de réis, uma fortuna naquele tempo. E, além do valor exorbitante, havia outro percalço a ser superado: parte do Parque Antarctica estava alugada ao América Futebol Clube, braço paulista do America Football Club-RJ.

Para adquirir o local, o Palestra precisaria do consentimento do engenheiro João Evangelista Belfort Duarte, presidente do America. Um dos primeiros craques da história do futebol nacional, Belfort sofria de uma grave doença pulmonar que o forçara a se mudar para um rancho de difícil acesso no Pico do Itatiaia, em Resende (RJ). Coube ao jovem palestrino Vasco Stella Farinello a missão de localizar o craque-cartola. A viagem foi exitosa, porém árdua: o trajeto de São Paulo à casa de Belfort foi percorrido em 17 horas (12 de trem e outras cinco a cavalo).

Contrato assinado

Um dos portões de acesso ao Parque Antarctica se localizava na Avenida Água Branca (atual Francisco Matarazzo)

Após receber o aval de Belfort Duarte, o clube incumbiu Davide Picchetti, Enrico De Martino, Luigi Rocco, Americo Giorgetti, Angelo Cristofaro e Vasco Stella Farinello de estudar a compra do Parque Antarctica. Até que em 31 de março de 1920, com a colaboração de todos os diretores e conselheiros, a comissão apresentou parecer favorável à obtenção do logradouro.

A escritura lavrada em abril de 1920 registrou a compra do terreno junto à Companhia Antarctica Paulista por 500 contos de réis

Durante a Assembleia Geral Extraordinária de 23 de abril de 1920, presidida por Davide Picchetti, a minuta do contrato foi aprovada, causando entusiasmo nos presentes. Curiosamente, pela primeira vez na história do Palestra Italia, a ata de uma reunião foi escrita em língua portuguesa – as anteriores haviam sido formuladas em italiano.

No dia 27 de abril de 1920, uma escritura pública lavrada pelo tabelião Gabriel da Veiga, do 11º cartório da capital, registrou a compra de um extenso terreno da Companhia Antarctica Paulista, anexo ao Parque Antarctica, na Avenida Água Branca (atual Francisco Matarazzo), pelo Palestra Italia, pelo valor de 500 contos de réis – 250 no ato da assinatura e outros 250 divididos em duas prestações de 125.

A propriedade compreendia dois campos e tinha área total de 120 mil m²

O clube pagou a primeira cota com o cheque número 09743, de 250 contos de réis, em nome de Francisco Matarazzo & Cia. Com dificuldade, conseguiu saldar a segunda, estipulada para o ano seguinte.Porém, a fim de quitar o último débito (em dezembro de 1922), precisou vender parte do terreno para o conde Matarazzo por 187 contos de réis – o local corresponde à área onde se localiza hoje o Bourbon Shopping.

A propriedade compreendia dois campos, arquibancadas e benfeitorias desde a Avenida Água Branca (atual Francisco Matarazzo) até o triângulo formado com a Avenida Pompeia. A área total tinha cerca de 120 mil m².

Em sua primeira partida como dono do Parque Antarctica, o Palestra goleou o Mackenzie por 7 a 0, no dia 16 de maio de 1920, pelo Campeonato Paulista. Dois anos depois, o primeiro jogo da Seleção Brasileira fora do Rio de Janeiro na história foi realizado na casa palestrina: vitória por 2 a 1 contra a Argentina.

Evolução e pioneirismo

Planta do Stadium Palestra Italia apresentada em 1929

Dado o primeiro passo, já era hora de pensar em voos maiores. De imediato, a diretoria começou a planejar a construção de um estádio com amplas acomodações para público, jogadores e imprensa.

Formou-se então a Comissão Pró-Estádio, encabeçada por Davide Picchetti. O grupo promoveu, entre outras iniciativas, campanhas de arrecadação de doações para viabilizar a construção do estádio, com destaque para as generosas contribuições do conde Matarazzo (25 contos de réis), do comendador Rodolfo Crespi (20), do Banco Francês-Italiano (15) e do comendador Giuseppe Pugliesi Carbone (10).

A imprensa registrou com entusiasmo a inauguração do estádio palestrino em 1933

Finalmente no dia 13 de agosto de 1933, pouco mais de uma década depois de adquirir o terreno, os palestrinos inauguraram o Stadium Palestra Italia, o maior e mais moderno estádio do país na época e o primeiro da capital paulista a ter arquibancadas de concreto armado, com capacidade total de 30 mil pessoas.

Em sua estreia na remodelada casa, o Verdão goleou o Bangu por 6 a 0, pelo Torneio Rio-São Paulo. O momento foi assim registrado pelo Acervo Histórico do clube: “A cidade parecia toda em festa. Festa que convergia para uma só direção: o Parque Antarctica. Os velhos bondes, saindo ainda do triângulo constituído pelas ruas Direita, XV de Novembro e São Bento, viajando apinhados. Eram eles o principal meio de transporte dos torcedores, ao mesmo tempo em que várias linhas de ônibus ajudavam a movimentar a grande massa humana para o Parque. Mas era o velho bonde, rangendo nos trilhos, que desempenhava a missão principal na função do transporte. Muita gente que não saía de casa havia muito tempo vestia as roupas domingueiras. Mulheres em quantidade se locomovendo para lá. Era dia de festa. Principalmente, de festa palestrina”.

O Estádio Palestra Italia foi fechado em 2010 para a reforma que durou quatro anos

Saiba mais detalhes sobre o Parque Antartica e o Allianz Parque.

LIVROS

Parque dos Sonhos

A história do Parque Antarctica é esmiuçada no livro Parque dos Sonhos, escrito pelo jornalista Fernando Galuppo, do Departamento de Comunicação do Palmeiras, e pelo historiador José Ezequiel de Oliveira Filho, diretor do Acervo Histórico do clube. Bilíngue (português e inglês), a obra retrata em 176 páginas a evolução do estádio onde foi disputado o primeiro jogo oficial de futebol no Brasil – em 1902, entre Germânia e Mackenzie. Para comprá-la a preço promocional, acesse o site da livraria da Editora In House.

 

 

Cem Anos em Um Dia

A obra do escritor Celso de Campos Jr., da editora Garoa Livros, narra o passeio de um avô, um pai e um filho ao Allianz Parque. Eles são recebidos por uma jovem que, ao mesmo tempo em que apresenta o estádio, conta toda a centenária trajetória do Palmeiras naquele local. Um divertido livro de 54 páginas, bem ilustrado, com linguagem simples e direcionado a leitores de todas as idades. Uma obra para ser lida em família e que foi disponibilizada gratuitamente na internet pelo autor.